Pesquisadores descobrem nova espécie de sagui na Amazônia

Sagui-de-Schneider em seu habitat na Amazônia: descoberta por programa desenvolvido como parte do licenciamento ambiental de hidrelétrica da Neoenergia (Foto: Ivan Batista)

Programa de estudo de primatas faz parte do licenciamento ambiental de usina hidrelétrica da Neoenergia

Por Oscar Valporto | ODS 15 • Publicada em 10 de setembro de 2021 - 10:36 • Atualizada em 15 de setembro de 2021 - 10:21

Sagui-de-Schneider em seu habitat na Amazônia: descoberta por programa desenvolvido como parte do licenciamento ambiental de hidrelétrica da Neoenergia (Foto: Ivan Batista)

Pesquisadores descobriram uma nova espécie de primata, o sagui-de-Schneider (Mico schneideri), identificado em seu habitat, em área de Floresta Amazônica, no estado de Mato Grosso. A identificação do sagui-de-Schneider – pertencente ao grupo de saguis da Amazônia – é resultado de uma pesquisa de seis anos feita por especialistas para monitoramento, coleta e análise de itens como DNA, morfologia, estrutura e pelagem do macaco.

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A descoberta da nova espécie – nomeada Mico schneideri em homenagem a Horacio Schneider, o pioneiro da filogenética de primatas neotropicais – foi formalizada com a publicação de artigo na revista Scientific Reports. “O sagui-de-schneider é morfologicamente distinto das outras espécies de Mico pela coloração da pelagem, por ser de uma linhagem evolutiva particular com base nos dados genéticos e por ocorrer em uma área separada de outras espécies de Mico. No dorso, a pelagem é cor de chumbo e os membros inferiores possuem pelagem creme-prateada, e a região ventral é creme-alaranjada”, explica o biólogo Fabiano Rodrigues de Melo, um dos autores do artigo.

Professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Melo integra a equipe de pesquisadores do Programa de Monitoramento de Primatas, desenvolvido na área da Usina Hidrelétrica Teles Pires, controlada pela Neoenergia, como parte do licenciamento ambiental para seu funcionamento. “Os saguis amazônicos do gênero Mico são endêmicos, pouco conhecidos da região e, portanto, prioritários para pesquisas e esforços de conservação”, acrescenta o pesquisador.

O estudo sobre o sagui amazônico foi liderado pelo biólogo Rodrigo Costa Araújo, mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e doutor em Ciências Biológicas com ênfase em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – o sagui-de-schneider foi um dos objetos de estudo do seu doutorado. “Um dos objetivos principais da pesquisa de doutorado do pesquisador Rodrigo Costa Araújo era entender a que espécie pertence os saguis dessa região do Teles Pires, os quais haviam sido historicamente e erroneamente identificados como Mico emiliae. Foram feitas várias expedições de campo para coleta de dados e espécimes, bem como análises do genoma em laboratório e comparação com outros exemplares em museus de história natural no Brasil e exterior”, conta Fabiano Melo.

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Os pesquisadores ainda não sabem o tamanho da população de Mico schneideri. “São necessários mais estudos para obter essa informação e para poder inclusive estimar quantos deles há na área de influência da hidrelétrica. Não há registro da espécie em outra área da Amazônia além do interflúvio dos rios Teles Pires e Juruena”, explica o professor da UFV, destacando a importância da pesquisa realizada na região. “Estudos ambientais são fundamentais para a sustentabilidade econômica do país e vimos na prática as conquistas obtidas quando se tem profissionais e empresas com boa capacidade técnica e um direcionamento sensível e adequado para a condução e validação das pesquisas”, aponta Melo.

O pesquisador Rodrigo Costa Araújo destaca que este tipo de pesquisa é fundamental para conhecer a biodiversidade da maior floresta tropical do planeta. “Pesquisas básicas sobre a biodiversidade formam a base para qualquer iniciativa de conservação da natureza e mitigação de impactos ambientais porque, simplesmente, não se pode proteger ou manejar espécies que não conhecemos. Espero que essa parceria de sucesso seja fortalecida e ampliada, de forma que possamos gerar novas descobertas na região dos rios Juruena e Teles Pires e, assim, contribuir para conhecer e conservar as espécies”, afirma.

Primata da nova espécie na Floresta Amazônica, em Mato Grosso: características na pelagem e na localização diferem sagui de outros micos (Foto: Rodrigo Costa Araújo)
Primata da nova espécie na Floresta Amazônica, em Mato Grosso: características na pelagem e na localização diferem sagui de outros micos (Foto: Rodrigo Costa Araújo)

Pesquisas na área da hidrelétrica

A Usina Hidrelétrica Teles Pires – na divisa dos estados de Pará e Mato Grosso, nos municípios de Jacareacanga (PA) e Paranaíta (MT) – começou a ser construída em 2011 e a gerar energia em 2015. O Programa de Monitoramento de Primatas está sendo desenvolvido em conformidade com a licença ambiental da usina hidrelétrica, que tem, como principal acionista, a Neoenergia, grupo responsável também por empresas de distribuição de energia em estados do Nordeste, como Bahia e Pernambuco, e em partes de São Paulo e Mato Grosso do Sul.

De acordo com a Neoenergia, o Programa de Monitoramento de Primatas integra uma série de 44 programas e ações socioambientais realizados pelo grupo na região. “Através dos nossos programas de monitoramento de fauna e flora, conseguimos mapear muitas espécies existentes e ainda descobrimos novas. A Amazônica é rica em biodiversidade e iniciativas como essa contribuem para a ciência, além de serem marcos importantes voltados a preservação do meio ambiente”, afirma Sobreiro Neto, gerente de Meio Ambiente da Hidrelétrica Teles Pires.

O Mico schneideri não foi a primeira descoberta de nova espécie realizada durante as iniciativas de monitoramentos e preservação de fauna, flora e meio físico nas regiões de influência da hidrelétrica. Em 2019, foi identificado um primata batizado de Plecturocebus grovesi (zogue-zogue-de-groves). O nome é uma homenagem ao professor britânico Colin Groves, uma das maiores autoridades mundiais em taxonomia de primatas.

Também em 2019, pesquisadores descreveram três novas espécies de peixes dentro do Programa de Monitoramento e Estudos da Ictiofauna da usina. As novas espécies são Myleus pachyodus (família Serrasalmidae), Ageneiosus apiaka (família Auchenipteridae), e Hyphessobrycon pinnistriatus (sem família definida). A lista de descobertas na biodiversidade da Amazônia inclui a orquídea batizada de Catasetum telespirense Benelli & Soares-Lopes.

Os estudos científicos – feitos em parcerias com universidades e outras instituições nas áreas de floresta no entorno da usina – começaram em 2012, no ano seguinte ao começo da construção da hidrelétrica da Neoenergia. Os pesquisadores já inventariaram 6.322 árvores de 322 espécies diferentes e outras 2.690 plantas de 254 espécies que compõem a floresta na área de implantação do empreendimento e no entorno do reservatório.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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