Para imitar EUA, Bolsonaro precisa investir mais em conservação

Amanhecer no no Vale Navajo, uma das reservas indígenas, em Utah, nos Estados Unidos. Foto Ben Pipe / Robert Harding Premium

Reservas indígenas ocupam 23 milhões de hectares do território americano e custam US$ 2,4 bilhões

Por Mônica Medeiros | ODS 15 • Publicada em 10 de setembro de 2019 - 08:34 • Atualizada em 24 de setembro de 2019 - 19:57

Amanhecer no no Vale Navajo, uma das reservas indígenas, em Utah, nos Estados Unidos. Foto Ben Pipe / Robert Harding Premium
Amanhecer no no Vale Navajo, uma das reservas indígenas, em Utah, nos Estados Unidos. Foto Ben Pipe / Robert Harding Premium
Amanhecer no no Vale Navajo, uma das reservas indígenas, em Utah, nos Estados Unidos. Foto Ben Pipe / Robert Harding Premium

(Colorado, EUA) – Se para o presidente Jair Bolsonaro os Estados Unidos são, realmente, um exemplo para o Brasil, ele precisará se render à conservação e proteção às populações indígenas. Nos EUA, as reservas indígenas ocupam 23 milhões de hectares, o equivalente a quase 5% de seu território. Treze reservas são maiores do que alguns dos estados. As terras indígenas são também reservas ambientais, que se somam aos 130 milhões de hectares (14% do território) de áreas protegidas pelo governo federal. Entre essas áreas onde não é possível nenhum extrativismo ou mudança do meio ambiente estão grandes reservas de petróleo no estado do Alaska, que não podem ser exploradas por causa do impacto no meio ambiente. O presidente americano, Donald Trump, que nega as mudanças climáticas, recentemente tentou abrir a reserva para a extração do petróleo mas foi barrado pela justiça.

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Quando os primeiros imigrantes chegaram aos EUA, encontraram uma população indígena estimada em 10 milhões de pessoas. Hoje, existem cerca de 2,9 milhões. Quando os primeiros imigrantes chegaram ao Brasil, também encontraram 10 milhões de indígenas. Hoje, segundo o IBGE, eles não passam de 900 mil.

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As reservas indígenas são governadas por suas lideranças em conselhos tribais, sem interferência do governo federal. Cada reserva tem suas próprias leis, mas como todos os estados, as leis não podem ferir a Constituição Federal. As lideranças e conselhos tribais são responsáveis pela segurança pública e justiça, mas em casos de crimes graves, o FBI investiga e os indiciados são julgados em cortes do governo federal. O orçamento de 2019 para as reservas é de US$ 2.4 bilhões, 5% dos quais são designados para conservação dos recursos naturais. O dinheiro é gerenciado por um conselho de liderança de todas as reservas e representante da Agência de Assuntos Indígenas, do governo federal. A alocação dos recursos é decidida nesse conselho e inclui assistência e serviços sociais.

Calcula-se que pouco mais de um milhão da população indígena de 2,9 milhões (censo de 2010) mora fora das reservas. Estima-se que quando o Mayflower – navio que trouxe os primeiros imigrantes para o que hoje são os EUA – ancorou na costa da América do Norte, havia 10 milhões de nativos na área que hoje constitui o país. Ao contrário da afirmação do presidente Jair Bolsonaro, a cavalaria americana não dizimou as nações indígenas como é comum se ver em filmes de faroeste. As doenças, notadamente a varíola, foram responsáveis por 90% das mortes dessa população. A miséria que decorreu da opressão cultural contribuiu para a redução em 70% dos povos indígenas. As estimativas são de que Cabral também encontrou 10 milhões de índios no Brasil, mas hoje há somente 900 mil (IBGE-Censo 2010), menos de 10% do que era.

Marco que delimita as áreas preservadas, proibindo a passagem de veículos e alertando para as punições. Foto Divulgação

Antes dos europeus se estabelecerem, 46% do território americano eram florestas e 54% eram de desertos (no oeste) e pampas (no centro). A área que hoje constitui o território brasileiro era 90% floresta e 10% pampa. Em 1907, 13% da área de floresta americana tinha sido desmatada. O maior desmatamento da história americana ocorreu entre 1990 e 2010; 8 milhões de hectares foram desmatados para agricultura extensiva de milho, soja, trigo e pastos para gado. Depois de 2010, os EUA reflorestaram mais de 8 milhões de hectares, ficando com um saldo positivo; hoje o país tem mais florestas do que tinha em 1907. Já no Brasil, entre o descobrimento e hoje, perdeu-se 41% da cobertura florestal. O país ainda tem 59% de suas florestas – as mais ricas em biodiversidade do mundo – o que é mais do que os EUA tinham quando foram descobertos. O Brasil, entretanto, desmatou 28% a mais do que os EUA, apesar de ter 2/3 da população americana.

Dados do Banco Mundial mostram que a área de floresta nos EUA está aumentando. Desde 2012, as áreas usadas para agricultura e pasto vêm diminuindo, sendo convertidas em florestas. Hoje, a maior parte de fazendas de agricultura extensiva estão na região central dos EUA – Great Plains – área de pampa onde nunca houve florestas. Em todos os estados há fazendas de gado, agricultura e de madeira em terras particulares ou estaduais. O uso da terra de maneira não sustentável está ficando cada vez mais difícil de se achar; os consumidores agora se interessam em como os alimentos são produzidos. A indústria madeireira extrai a madeira de forma planejada para que não afete a área total de florestas – 34% do território americano.

A preservada Floresta Nacional do Rio Grande, no sul do Colorado. As árvores que não são da família de pinheiros perdem as folhas no inverno. Foto Divulgação

Atualmente, os EUA têm 14% de todo seu território demarcado como áreas de proteção ambiental. São mais de 6.700 reservas totalizando 130 milhões de hectares de terras do governo federal que foram designadas como reservas naturais e áreas totalmente selvagens, com o intuito de preservação de biomas e espécies, e os parques nacionais, usados para recreação sob regras rígidas para conservação.

Mesmo que não sejam primárias, as florestas têm um papel crítico no equilíbrio climático do planeta. O principal motivo da preocupação com a área de florestas no mundo é o aquecimento global. Florestas absorvem CO2, um dos maiores contribuintes para o aquecimento da terra, provocando mudanças climáticas perigosas. O aumento das áreas florestadas, a redução das emissões de CO2 e metano podem reverter o aquecimento de 0,5 C já comprovado por cientistas em todo mundo. Esse aumento parece desprezível, especialmente num dia quente de verão, mas afeta o clima global substancialmente. O aquecimento dos oceanos produzem temporais com ventos e chuvas mais intensas por causa da maior quantidade de água que evapora por causa do calor. Os recentes furacões nos EUA e Caribe são consequências do aquecimento dos oceanos. Além disso, tem o degelo do Ártico e da Antártica. Quando tiramos gelo do congelador ele não vira água imediatamente, mas vai derretendo aos poucos; é quase que imperceptível se ficarmos olhando o gelo derreter. No entanto, depois de algumas horas não há mais gelo. O derretimento das geleiras pode ser imperceptível hoje mas daqui a alguns anos o nível do mar estará mais alto por causa da água que vem do derretimento das placas de gelo, submergindo as áreas que hoje estão ao nível do mar.  O degelo das geleiras já não é imperceptível na Groenlândia e Islândia, que viu uma de suas geleiras mais famosas, Okjökull, desaparecer.

Mônica Medeiros

Mônica é carioca mas expatriada nos EUA, onde fez mestrado em Jornalismo e foi professora de teoria da comunicação. Cobriu política, cidade e meio ambiente para O Globo e Veja. É jornalista freelance com interesse especial por cidadania, feminismo, meio ambiente, e apaixonada pela ideia de lixo zero. É também tradutora e voluntária de Tradutores sem Fronteira.

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