Filme inspirado em livro de xamã yanomami no Festival de Cannes

Estreia mundial de A Queda do Céu, baseada na obra de Davi Kopenawa, será na Quinzena dos Cineastas, mostra paralela ao mais famoso evento do cinema

Por #Colabora | ODS 15 • Publicada em 17 de abril de 2024 - 09:40 • Atualizada em 21 de abril de 2024 - 15:07

Cena de A Queda do Céu, documentário obra do xamã yanomami Davi Kopenawa, principal liderança indígena da etnia: selecionado para mostra no Festival de Cannes (Foto: Divulgação)

Baseado na obra do xamã yanomami Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami e principal liderança indígena da região, o longa-metragem brasileiro A Queda do Céu, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, terá sua estreia mundial na Quinzaine des Cineàstes (Quinzena de Cineastas), prestigiosa mostra paralela ao Festival de Cannes, para destacar novos diretores independentes e contemporâneos, organizada pela La Société des Réalisateurs de Films (La SRF).

O documentário acompanha a festa Reahu, ritual funerário e uma das mais importantes cerimônias dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com a finalidade de apagar todos os rastros daquele que se foi e assim colocá-lo em esquecimento. De acordo com os diretores, o filme foi construído a partir de três eixos fundamentais (Convite, Diagnóstico e Alerta) do livro A queda do céu – palavras de um xamã yanomami, escrito em parceria por Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert, amigos há 40 anos.

“Será uma belíssima oportunidade e uma dupla celebração: de ver e ouvir explodir na tela o sonho e a luta do povo Yanomami e da força poética e geopolítica do xamã, filósofo e líder Davi Kopenawa”, afirma Eryk Rocha – filho do premiado cineasta Glauber Rocha, diretor dos clássicos Deus e o Diabo na Terra do Sol e o Deus da Maldade contra o Santo Guerreiro – em comunicado sobre a participação do filme em Cannes. “E, ainda, poderemos acompanhar a trajetória de um cinema que acreditamos e que está fora dos modismos e das convenções. De um cinema sem fórmulas, que navega no desconhecido, que transita entre a materialidade e o espírito e cuja linguagem surge da nossa relação com os Yanomamis e a comunidade de Watorikɨ, e que nasce, também, do nosso encontro com artistas Yanomamis que participaram criativamente da realização deste filme”, acrescenta o cineasta que, em 2016, recebeu o L’Œil d’or (Olho de Ouro) de melhor documentário no Festival de Cannes por ‘Cinema Novo’.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos

A cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não-indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra, presentes no filme escolhido para a mostra paralela em Cannes, também inspirou, em 2024, o enredo Hutukara, do Salgueiro, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro. Na semana passada, Davi Kopenawa se encontrou com o Papa Francisco no Vaticano quando pediu o apoio da Igreja Católica para a causa Yanomami no Brasil, em especial o combate ao garimpo ilegal, à invasão de terras e à proteção dos povos indígenas.

Davi Kopenawa nas filmagens de A Queda do Céu: cosmologia yanomami e ameaças aos povos indígenas em documentário (Foto: Divulgação)
Davi Kopenawa nas filmagens de A Queda do Céu: cosmologia yanomami e ameaças aos povos indígenas em documentário (Foto: Divulgação)

O testemunho de Davi Kopenawa conduz o documentário, produzido pela Aruac Filmes, com participação da Hutukara Associação Yanomami e Stemal Entertainment com Rai Cinema e produção associada de Les Films d’ici, .“A Queda do Céu é a expressão cinematográfica do arrebatamento que tivemos ao ler o livro. Mas principalmente da nossa relação e do que foi vivido em carne, osso e espírito ao longo dos últimos sete anos ao lado de Davi, a comunidade Watorikɨ e os Yanomami. É um filme onde a câmera não olha só para os Yanomami, mas para nós não indígenas também”, afirma Gabriela Carneiro da Cunha, que estreia como diretora.

O livro A Queda do Céu foi publicado em 2010, primeiro na França; cinco anos depois, teve sua primeira edição no no Brasil. Suas mais de 700 páginas têm como base mais de 43 horas de gravações de falas de Davi Kopenawa. O livro explica que, segundo a mitologia yanomami, Omama (o criador) criou a floresta (Hutukara) no começo dos tempos, quando havia apenas os yarori (seres ancestrais) e uma floresta frágil. Para criar outra mais sólida, Omama derrubou o céu e ergueu a nova terra, onde também pôs as árvores, as montanhas, os rios e os animais. “Os Yanomami não existem à toa. Não caíram do céu. Foi Omama que os criou para viver na floresta”, escreve Kopenawa no livro em parceria com Bruce Albert.

A Quinzena dos Cineastas – ou Quinzena dos Realizadores, como também é conhecida, está em sua 56ª edição e, neste Festival de Cannes 2024, exibirá 21 longas-metragens e oito curtas. A mostra francesa acontece entre os dias 14 e 25 de maio.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *