Comunidade José Lutzenberger, do MST, doou duas toneladas de alimento na pandemia

Comunidade José Lutzenberger, do MST, doou duas toneladas de alimento na pandemia

O agricultor Jonas Souza no assentamento reflorestado: "É um modelo que gera trabalho e renda para todos" (Foto: cedida pelas autoras)

Famílias que vivem no assentamento em área reflorestada garantem renda com vendas para programas de merenda escolar

Por Beatriz Carneiro e Camilla Hoshino | ODS 15 • Publicada em 21 de janeiro de 2025 - 00:47

As 23 famílias da comunidade do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) José Lutzenberger não consomem tudo o que plantam. A grande produtividade do sistema agroflorestal permite que essa população garanta também o seu sustento a partir da terra. 

“As escolas são nosso principal foco de vendas institucionais. Nossos alimentos garantem uma alimentação saudável para crianças e jovens da rede pública de ensino”, explica a produtora agroecológica Sara Wandenberg dos Santos.

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Por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que promovem a compra direta de alimentos da agricultura familiar, os produtores da José Lutzenberger distribuem  seus produtos em instituições educacionais da região. Além disso, realizam feiras em cidades próximas como Antonina, Morretes, Matinhos e Pontal do Paraná, e vendem cestas agroecológicas para Curitiba e Pinhais, na região metropolitana da capital. 

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Selo de certificação

Os alimentos da comunidade possuem o selo de certificação da Rede Ecovida de Agroecologia, formada por agricultores, técnicos, consumidores e comerciantes reunidos em associações, cooperativas, ONGs e grupos informais desde 1998, no Sul do Brasil. Apesar desse reconhecimento, um dos principais desafios, segundo o agricultor Jonas Souza,  é o processamento dos produtos, já que nem tudo pode ser comercializado in natura. 

Como diz o ditado: sozinhos vamos bem, mas juntos vamos melhor, de forma mais eficiente e sem nos cansarmos tanto

Jonas Souza
Agricultor

Para agregar mais valor aos produtos, as famílias da comunidade se unem a outros agricultores do município, por meio da Associação Filhos da Terra, braço jurídico que permite a comercialização dos produtos de forma coletiva. Juntas, conseguem máquinas agrícolas e transporte para distribuição de alimentos, além de montar uma infraestrutura industrial para transformar cana em cachaça, uva em vinho, palmito em conserva e outras frutas em polpa e doces. 

“Como diz o ditado: sozinhos vamos bem, mas juntos vamos melhor, de forma mais eficiente e sem nos cansarmos tanto”, enfatiza Jonas.

Plantação na comunidade José Lutzenberg, com a floresta ao fundo (Foto cedida pelas autoras)
Plantação na comunidade José Lutzenberger, com a floresta ao fundo (Foto cedida pelas autoras)

Doações do MST na pandemia

De acordo com o estudo técnico da Universidade Federal do Paraná, antes da pandemia de covid-19, a associação comercializava, mensalmente, mais de seis toneladas e meia de alimentos. 

Durante o período mais crítico de isolamento social, em que segurança alimentar atingiu 55,2% dos brasileiros, conforme mostram os dados do “Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil (VIGISAN), a comunidade José Lutzenberger doou duas toneladas de alimentos excedentes para famílias vizinhas e para o coletivo “Marmitas da Terra”, iniciativa do MST para a distribuição de comida a pessoas em situação de vulnerabilidade, em Curitiba. 

Eduardo Campello, técnico da Embrapa e professor da pós-graduação em agricultura orgânica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e  Eduardo Vinicius da Silva, engenheiro florestal e também professor da UFRRJ destacam que o sistema agroflorestal tem sido o mais viável para a agricultura familiar em outras regiões do país, pois promove a autonomia dos agricultores, que, com o tempo, deixam de depender da compra de insumos como terra, sementes e adubo, já que tudo por ser retirado do próprio sistema agroflorestal.

“É um modelo que gera trabalho e renda para todos”, defende o agricultor Jonas Souza, um dos pioneiros da comunidade do MST.

Beatriz Carneiro e Camilla Hoshino

Beatriz Carneiro é formada em Jornalismo pela USP e apaixonada por temas socioambientais. Atuou como repórter e diretora na Jornalismo Júnior, mídia universitária da USP, e foi estagiária na CNN Brasil, onde segue como freelancer. Camilla Hoshino é jornalista, internacionalista e mestre em Comunicação e Política pela UFPR. É membro da Jeduca e titulada Jornalista Amiga da Criança pela ANDI Comunicação e Direitos. Foi fellow do Dart Center for Journalism and Trauma/Universidade de Columbia, e vencedora da bolsa Heinz Kühn Stiftung para estágio na DW| Alemanha e do Prêmio Sangue Novo do Jornalismo Paranaense.

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