O Pampa Sul-Americano perdeu 14,9% de sua vegetação natural entre 1985 e 2022. No mesmo período, a agropecuária e a silvicultura expandiram suas áreas em 20,4%. Os dados foram divulgados em webconferência nesta terça-feira, dia 28, e integram a Coleção 3 do Pampa Trinacional, parte do “Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra 1985-2022”, feito MapBiomas Pampa. O principal aspecto de destaque dos números está no fato de que a área destinada à agricultura, pecuária e silvicultura ocupa 48,4% do bioma ou 50,1 milhares de hectares, superando a área de vegetação nativa, que é de 47,4% do Pampa. As duas culturas agrícolas que mais avançaram foram a soja e o arroz.
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Durante o levantamento, foram mapeados 109,2 milhares de hectares do bioma, que está presente no sul do Brasil, no centro-oeste da Argentina e em todo o Uruguai, correspondendo a 6,1% do território da América do Sul. O estudo mostrou que as pastagens, principal vegetação do bioma, ocupam 35,3 milhares de hectares, predominando em aproximadamente 32,3% ou um terço do Pampa Sul-Americano. Mesmo assim, foram as mais afetadas pela degradação, com perda de 9, 1 milhares de hectares, o que equivale a um quinto do que havia em 1985.
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Veja o que já enviamos“Se agora temos mais energia, alimentos e recursos, isso está se dando, muitas vezes, pelo esgotamento da capacidade da natureza de suprir as necessidades para o futuro. O resultado dessas informações é muito alarmante e mostra que a biodiversidade está se degradando mais rápido que em qualquer outro momento da humanidade”, afirmou Paula Barral, especialista do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina e uma das responsáveis pelo estudo. Ao todo, participaram do estudo 35 especialistas de diferentes instituições dos três países.
Além das pastagens, o Pampa é composto por bosques de arbustos fechados, 4,5%, bosques abertos, 4,8% e pântanos e pastos inundáveis, 5,8%. O percentual de bosques abertos foi o que mais cresceu, com um incremento de 7%, o que faz com que esse tipo de vegetação ocupe 5, 2 milhares de hectares. Rios, lagos e oceanos ocupam 3% do bioma e 1,2% é de áreas sem vegetação.
Uruguai conta com maior vegetação natural, mas transformações preocupam
Os dados também mostram que o Uruguai é o país que possui a maior parte da vegetação natural preservada, com 64%, seguido do Brasil com 45% e da Argentina com 44%. O país que elegeu recentemente o ultradireitista Javier Milei é onde a agricultura mais avançou em termos absolutos no período, 3,4 milhares de hectares ou 10%, alcançando 37,9 milhares de hectares. No entanto, em termos proporcionais, os cultivos agrícolas cresceram 39% no Brasil e 42% no Uruguai, cobrindo respectivamente 7,7 e 4,5 milhares de hectares.
“O que é interessante de ver é que, no caso do Uruguai, apesar de ser o que mais possui vegetação natural, também foi o que apresentou maior taxa de transformação de sua vegetação”, apontou o professor da Universidad de la República (Udelar-AAR), Federico Gallego, na apresentação dos dados.
O Uruguai também apresentou grande crescimento da área destinada à silvicultura, com um aumento de 748% e ocupando 1,2 milhões de hectares. Ainda assim, abaixo do Brasil, por aqui a expansão das áreas de reflorestamento voltado à produção de celulose e papel foi ainda foi de 1.667% e atingiu 0,72 milhares de hectares. Na Argentina, o crescimento foi de 69% com uma área ocupada de 0,32 milhares de hectares.
Também presente na webconferência, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos Gustavo Tornquist, destacou a importância dos serviços ecossistêmicos prestados pelo pampa gaúcho na retenção de carbono no solo. Segundo ele, antes de pensar na conversão de carbono, é necessário preservar o material que já está presente no solo do Pampa sul-americano, o que passa por preservar a vegetação nativa do bioma.
Os dados divulgados pelo MapBiomas Pampa reforçam a necessidade de um olhar mais atento ao pampa, um bioma que por vezes é visto como pouco exuberante, mas que possui riqueza de biodiversidade e tem sido fortemente ameaçado pela degradação ambiental.