Agropecuária e silvicultura superam vegetação nativa do Pampa

A silvicultura e a pecuária ocupam 48,4% do Pampa ou 50,1 milhares de hectares, superando a área de vegetação nativa, que é de 47,4%. Foto Helton Damin da Silva/Embrapa

Dados do MapBiomas mostram que 48,4% da área é ocupada por gado e plantio de árvores exóticas. Vegetação natural sofreu redução de 14,9% entre 1985 e 2022

Por Micael Olegário | ODS 15 • Publicada em 28 de novembro de 2023 - 14:49 • Atualizada em 3 de dezembro de 2023 - 11:56

A silvicultura e a pecuária ocupam 48,4% do Pampa ou 50,1 milhares de hectares, superando a área de vegetação nativa, que é de 47,4%. Foto Helton Damin da Silva/Embrapa

O Pampa Sul-Americano perdeu 14,9% de sua vegetação natural entre 1985 e 2022. No mesmo período, a agropecuária e a silvicultura expandiram suas áreas em 20,4%. Os dados foram divulgados em webconferência nesta terça-feira, dia 28, e integram a Coleção 3 do Pampa Trinacional, parte do “Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra 1985-2022”, feito MapBiomas Pampa. O principal aspecto de destaque dos números está no fato de que a área destinada à agricultura, pecuária e silvicultura ocupa 48,4% do bioma ou 50,1 milhares de hectares, superando a área de vegetação nativa, que é de 47,4% do Pampa. As duas culturas agrícolas que mais avançaram foram a soja e o arroz.

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Durante o levantamento, foram mapeados 109,2 milhares de hectares do bioma, que está presente no sul do Brasil, no centro-oeste da Argentina e em todo o Uruguai, correspondendo a 6,1% do território da América do Sul. O estudo mostrou que as pastagens, principal vegetação do bioma, ocupam 35,3 milhares de hectares, predominando em aproximadamente 32,3% ou um terço do Pampa Sul-Americano. Mesmo assim, foram as mais afetadas pela degradação, com perda de 9, 1 milhares de hectares, o que equivale a um quinto do que havia em 1985.

“Se agora temos mais energia, alimentos e recursos, isso está se dando, muitas vezes, pelo esgotamento da capacidade da natureza de suprir as necessidades para o futuro. O resultado dessas informações é muito alarmante e mostra que a biodiversidade está se degradando mais rápido que em qualquer outro momento da humanidade”, afirmou Paula Barral, especialista do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina e uma das responsáveis pelo estudo. Ao todo, participaram do estudo 35 especialistas de diferentes instituições dos três países.

Além das pastagens, o Pampa é composto por bosques de arbustos fechados, 4,5%, bosques abertos, 4,8% e pântanos e pastos inundáveis, 5,8%. O percentual de bosques abertos foi o que mais cresceu, com um incremento de 7%, o que faz com que esse tipo de vegetação ocupe 5, 2 milhares de hectares. Rios, lagos e oceanos ocupam 3% do bioma e 1,2% é de áreas sem vegetação.

Uruguai conta com maior vegetação natural, mas transformações preocupam

Os dados também mostram que o Uruguai é o país que possui a maior parte da vegetação natural preservada, com 64%, seguido do Brasil com 45% e da Argentina com 44%. O país que elegeu recentemente o ultradireitista Javier Milei é onde a agricultura mais avançou em termos absolutos no período, 3,4 milhares de hectares ou 10%, alcançando 37,9 milhares de hectares. No entanto, em termos proporcionais, os cultivos agrícolas cresceram 39% no Brasil e 42% no Uruguai, cobrindo respectivamente 7,7 e 4,5 milhares de hectares.

“O que é interessante de ver é que, no caso do Uruguai, apesar de ser o que mais possui vegetação natural, também foi o que apresentou maior taxa de transformação de sua vegetação”, apontou o professor da Universidad de la República (Udelar-AAR), Federico Gallego, na apresentação dos dados.

O Uruguai também apresentou grande crescimento da área destinada à silvicultura, com um aumento de 748% e ocupando 1,2 milhões de hectares. Ainda assim, abaixo do Brasil, por aqui a expansão das áreas de reflorestamento voltado à produção de celulose e papel foi ainda foi de 1.667% e atingiu 0,72 milhares de hectares. Na Argentina, o crescimento foi de 69% com uma área ocupada de 0,32 milhares de hectares.

Também presente na webconferência, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos Gustavo Tornquist, destacou a importância dos serviços ecossistêmicos prestados pelo pampa gaúcho na retenção de carbono no solo. Segundo ele, antes de pensar na conversão de carbono, é necessário preservar o material que já está presente no solo do Pampa sul-americano, o que passa por preservar a vegetação nativa do bioma.

Os dados divulgados pelo MapBiomas Pampa reforçam a necessidade de um olhar mais atento ao pampa, um bioma que por vezes é visto como pouco exuberante, mas que possui riqueza de biodiversidade e tem sido fortemente ameaçado pela degradação ambiental.

Micael Olegário

Jornalista formado pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Gaúcho de Caibaté, no interior do Rio Grande do Sul. Escreve sobre temas ligados a questões ambientais e sociais, educação e acessibilidade.

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