Sempre imaginamos que a natureza existiria para nos proporcionar alimentos, a água que bebemos e até mesmo os momentos em que admiramos um belo cenário. Isto não é mais garantido. A pressão incansável que colocamos sobre a biodiversidade e suas contribuições para nosso bem estar, nosso consumir sem fim, nossa dependência cega dos combustíveis fósseis e nossa utilização insustentável dos recursos naturais ameaçam agora seriamente nosso futuro. Não que isso seja uma novidade. Ambientalistas, cientistas e povos indígenas de há muito soam alertas. O problema é que entramos em uma era de extinção acelerada das espécies e deparamos com perda de espécies animais e vegetais, além de colheitas vitais, e com os impactos horríveis da mudança do clima em todo o mundo. Há uma onda crescente de ansiedade e revolta. O espectro de tal dano ambiental causa grave preocupação e cada vez mais os jovens vão para as ruas protestar.
Apesar da ameaça da perda da biodiversidade, é a mudança do clima que vinha sendo o centro das atenções. Este quadro poderá sofrer mudanças depois que na semana passada, em Paris, representantes de 130 nações aprovaram a mais ampla avaliação já feita sobre a biodiversidade (o sumário do relatório, em inglês, pode ser baixado aqui). Segundo o estudo, a natureza vem sofrendo perdas em taxas sem precedentes na história humana. Um milhão de espécies estão no momento ameaçadas de extinção, e estamos danificando toda a infraestrutura natural do qual nosso mundo depende.
O relatório mostra também que governos e empresas estão longe de fazer o que deviam. O mundo está a caminho de não cumprir as metas de aquecimento global do Acordo de Paris e 80% das metas de desenvolvimento sustentável da ONU (de água, alimentos e segurança energética).
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosNos grandes habitats em terra, das savanas da África às florestas tropicais da América do Sul, a abundância média de plantas e animais nativos caiu em 20% ou mais, principalmente no correr do século passado. Ao mesmo tempo, surgiu um grande desafio. O aquecimento global se tornou um importante indutor do declínio da vida selvagem, diz o relatório, ao mudar de local ou encolher habitats nos quais muitos mamíferos, pássaros, insetos e plantas evoluíram para sobreviver. Com isso, a biodiversidade deverá acelerar até 2050, especialmente nos trópicos.
“Por longo tempo, as pessoas pensavam na biodiversidade como a preservação da natureza para seu próprio uso”, disse Robert Watson, chefe da Plataforma Intergovernamental da Ciência e Políticas da Biodiversidade e Serviços do Ecossistema, que conduziu o estudo a pedido de governos nacionais. “Mas deixamos claras as ligações entre biodiversidade e natureza e coisas como a segurança alimentar e a água limpa tanto para os ricos quanto para os pobres.”
Encontram-se hoje ameaçados de extinção 25% dos mamíferos, mais de 40% dos anfíbios, quase 33% dos tubarões e 25% de grupos de plantas. Todos poderão desaparecer em décadas.
Humanos alteraram 75% dos ecossistemas em terra e 60% dos marinhos desde tempos pré-industriais. O aumento da população humana também é um forte indutor do desastre – ela mais que dobrou nos últimos 50 anos, e o PIB bruto per capita aumentou quatro vezes.
O caminho para dizimar a natureza
1. Desde 1970, houve um aumento de 300% da produção global de alimentos.
2. 23% das terras tiveram redução da produtividade agrícola devido à degradação do solo.
3. Cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa são causadas por derrubada de florestas para o plantio.
4. O mundo perdeu metade de toda sua cobertura viva de corais desde os anos 1870.
5. As populações urbanas cresceram mais de 100% desde 1992.
6. Em 2015, um terço dos estoques marinhos estava sendo pescado em níveis insuportáveis.
7. O volume de plásticos jogado no ambiente marinho cresceu em dez vezes desde 1980. Cerca de 400 milhões de toneladas deste lixo são despejadas no oceano anualmente.
8. O número de espécies invasivas por país cresceu cerca de 70% desde 1970.
9. 25 milhões de quilômetros de ruas e estradas serão pavimentados até 2050.
Pingback: WWF lista 12 espécies ameaçadas pelo aquecimento global – Correio de Minas