Seca extrema na Amazônia: rios Madeira e Solimões atingem baixas históricas

Bancos de areia no Rio Madeira, perto de Humaitá (AM): como no Solimões, seca extrema na Amazônia leva a baixas recordes (Foto: Michael Dantas / AFP – 04/09/2024)

Dados do Serviço Geológico do Brasil mostram que, na maioria das estações de monitoramento da Bacia do Amazonas, os níveis dos rios estão abaixo da faixa da normalidade

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 17 de setembro de 2024 - 11:47 • Atualizada em 18 de setembro de 2024 - 13:05

Bancos de areia no Rio Madeira, perto de Humaitá (AM): como no Solimões, seca extrema na Amazônia leva a baixas recordes (Foto: Michael Dantas / AFP – 04/09/2024)

Monitoramento feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta que os rios Madeira, em Rondônia, e Solimões, no Amazonas, atingiram, nos últimos dias, os níveis mais baixos desde o começo das medições de cada um.  De acordo com o SGB, na maioria das estações da Bacia do Rio Amazonas, o maior rio do mundo em extensão, os níveis estão abaixo da faixa da normalidade. A seca deste ano é a mais extensa já registrada no Brasil e a mais intensa em partes da Amazônia, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

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No sábado (14/09), em Porto Velho (RO), o nível do Rio Madeira, um dos mais longos afluentes do Amazonas, com com quase 1,5 mil quilômetros de extensão, chegou à cota de 41 centímetros, a menor registrada desde que o rio começou a ser observado, em 1967. Em pouco mais de uma semana, o nível do rio desceu 55 centímetros. Os bancos de areia que já eram grandes ficaram ainda maiores.

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As comunidades ribeirinhas que dependem do rio para se locomover de barco estão isoladas – somente na região de Porto Velho, são 55 comunidades estabelecidas às margens do Madeira. Crianças e adolescentes que precisam frequentar a escola, por exemplo, estão caminhando longos caminhos a pé para não perderem as aulas. Historicamente, outubro e novembro são os meses em que o Madeira fica mais seco. No entanto, o nível do rio começou a bater mínimas históricas já no mês de julho; depois disso, o cenário foi se tornando ainda mais crítico.

Nesta segunda-feira (16/09), uma balsa transportando veículos afundou parcialmente depois de colidir com pedras que apareceram no Rio Madeira com a seca extrema. Por conta da estiagem, a navegação noturna está proibida no trecho do rio Madeira entre Porto Velho a Novo Aripuanã, no interior do Amazonas. Diante da crise hídrica, as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, instaladas no Madeira e entre as maiores do Brasil, operam com apenas 20% e 14% de suas turbinas, respectivamente.

Na segunda-feira (16/09), o Rio Solimões em Tabatinga (AM), cidade na fronteira com a Colômbia, atingiu a marca de -191 mm, a menor já registrada neste ponto de medição que funciona desde 1982.  Na última semana, o nível do rio tem caído 9 mm por dia, em média.  A seca extrema reduz a navegabilidade do Solimões e impede o transporte entre Tabatinga, a principal cidade da região, com outros municípios menores que já sofrem com o desabastecimento de água potável e alimentos. A seca severa que atinge o município de Tabatinga, no interior do Amazonas, revelou dois canhões usados na proteção do Forte São Francisco Xavier de Tabatinga. Ainda neste período, as ruínas do forte, já haviam sido reveladas devido ao baixo nível das águas. As peças de artilharia, que pesam cerca de duas toneladas cada, foram encontradas durante uma pescaria entre amigos no sábado.

Ainda no Rio Solimões, a estação de Itapéua (AM) registrou a cota de 2,3 m – a 3ª menor da história, atrás de 1,46 m em 2023 e de 1,3 m em 2020. Em Fonte Boa (AM), está na marca de 10,16 m – a 8ª mais baixa da história.

Medição do Rio Acre no município de Brasiléia: baixa histórico no nível do rio com a estiagem prolongada (Foto: Defesa Civil de Brasiléia)
Medição do Rio Acre no município de Brasiléia: baixa histórico no nível do rio com a estiagem prolongada (Foto: Defesa Civil de Brasiléia)

Outros rios da Bacia Amazônica também vem atingindo níveis dramaticamente baixos. Em Rio Branco, o Rio Acre, chegou, na sexta-feira (13/09), 1,27 m, o nível mais baixo de 2024 e apenas dois centímetros da menor marca já registrada. Toda a região do Rio Acre – um afluente do Rio Purus que, por sua vez, deságua no Amazonas – está em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região, situação que já perdura há dois meses. Depois de duas semanas suspensas devido às fumaças das queimadas, as aulas na rede municipal de Rio Branco foram retomadas, nesta segunda (16/09). No município de Brasiléia, o Rio Acre chegou ao menor nível registrado: 68 centímetros.

O Rio Negro segue em processo de descida e chegou à cota de 16,75 m em Manaus, marca 3,7 m abaixo da faixa de normalidade para o período, dde acordo com dados são do 37º Boletim de Alerta Hidrológico, do SGB, com as as descidas têm sido de 24 cm por dia na estação. “Não há projeções de melhoria a curto prazo, e a tendência é que o nível do rio continue a descer nos próximos dias”, explicou o pesquisador em geociências Andre Martinelli, gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Manaus do SGB (SUREG-MA), em comunicado que acompanhou o boletim. A mínima histórica registrada em Manaus foi de 12,7 m em outubro de 2023.

A crise hídrica se estende ao Pará. “O estado também é afetado pela seca que se estende a praticamente todo o braço direito do Rio Amazonas e também pela região do Pantanal. Em alguns pontos, como São Félix do Xingu (PA), o nível do rio está entre os 10 menores já observados em toda a série histórica (desde 1977)”, informou o engenheiro hidrólogo Artur Matos, coordenador nacional do Sistema de Alerta Hidrológico (SAH). De acordo com o SGB, a cota registrada nesta sexta-feira (13/09) era de 3,37 m na estação Boa Sorte.

Em outros pontos, como no Rio Tapajós, em Itaituba (PA), o nível é também o menor já observado para o período, desde 1968. No Rio do Amazonas, em Óbidos (PA), a última cota observada foi de 1,17 m – o menor nível para essa data, desde 1967. “O nível da água dos rios foi afetado pela falta de chuvas durante o ano. A vegetação seca, em decorrência da falta de chuva, gera condições favoráveis para as queimadas”, explicou Matos.

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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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