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Seca extrema leva rios da Amazônia e do Pantanal a mínimas históricas
Ativistas do Greenpeace Brasil instalaram mensagem no leito exposto do Solimões, na Bacia Amazônica: "Cadê o rio que passava aqui?"
Com a estiagem prolongada e intensa na maior parte do país, rios da Amazônia e do Pantanal registraram, nos últimos dias, mínimas históricas em seus cursos de água. Monitoramento do Serviço Geológico do Brasil indica que foram registrados recordes nos rios Acre, Solimões, Paraguai, Araguaia, Madeira e Tapajós. Para chamar a atenção para a emergência climática, ativistas do Greenpeace Brasil instalaram uma enorme mensagem no leito exposto de um dos principais rios do mundo, o Rio Solimões, que integra a Bacia Amazônica: “Cadê o rio que passava aqui?” diz o banner colocado no leito seco. Dados da Defesa Civil do Amazonas mostram que o Solimões está baixando entre 20 cm a 30 cm por dia.
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Mas a paisagem seca e as mínimas históricas repetem-se em outras partes do bioma e também do Pantanal. “No braço direito do Amazonas e do Pantanal temos vários pontos que já atingiram seca extrema e também mínima histórica. O Rio Acre, na cidade de Rio Branco, já atingiu a mínima histórica”, disse à Agência Brasil o coordenador do Sistema de Alerta Hidrológico do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), Artur Matos.
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Veja o que já enviamosDados do SGB mostram que, com descidas diárias de 24 centímetros, o Rio Negro chegou, nesta segunda-feira (23/09) em Manaus, à marca de 14,5 m, o que reafirma a situação de seca. Em Manacapuru, próximo a Manaus, O Rio Solimões atingiu a cota de 4,29 m, configurando situação de seca extrema.
Em Tabatinga, o Rio Javari registrou cota negativa de 17,1 cm. No Amazonas, em Manacapuru, cortada pelo Rio Solimões, a situação é de seca. Já nos municípios de Itapéua, cortado pelos rios Solimões e Coari; Itaituba, margeado pelo rio de mesmo nome e Fonte Boa, cortado pelo Rio Solimões, os níveis dos rios já atingiram o menor nível histórico. “Manacapuru e Manaus têm grandes chances de atingir mínima histórica. Humaitá, que fica depois de Porto Velho, está em seca extrema e atingindo a mínima histórica”, acrescentou Matos.
Nesta segunda-feira, a cota do Rio Madeira, em Porto Velho, atingiu 35 cm, o menor nível histórico, desde 1967. Em Ji-Paraná, o Rio Ji-Paraná atingiu a 6,08 m, situação de seca extrema. No Rio Acre, que corta a capital acriana, Rio Branco, a cota registrada foi de 1,31 m, próximo da marca mínima histórica de 1,24 m, registrada em 2022.
Coordenador de Florestas do Greenpeace Brasil, o biólogo Rômulo Batista explicou que o objetivo da ação no Rio Solimões foi mostrar que a crise climática está afetando a maior floresta tropical do mundo, suas populações e já está secando seus rios, conhecidos por serem um dos maiores do planeta. “Os governos municipais, estaduais e federal, bem como os nossos legisladores, já deveriam ter tomado providências concretas, como a elaboração de planos de adaptação às mudanças climáticas para evitar que as comunidades locais – formadas por ribeirinhos, indígenas, quilombolas, pescadores e agricultores –, que menos contribuíram para as mudanças climáticas, sejam as mais afetadas”, afirmou Batista.
No mesmo local, em inglês, os ativistas também compuseram a mensagem “Who Pays?” (Quem Paga?), alertando a sociedade de que quem mais está sofrendo com os impactos da crise do clima são as populações que menos contribuíram para tal crise. Como a ciência vem nos alertando, os principais responsáveis pela emergência climática são a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, e a destruição de ecossistemas naturais, como a floresta amazônica.
“Estamos questionando: ‘quem vai pagar’ pelas consequências dos eventos climáticos extremos que estão acontecendo na Amazônia? Também expressamos nossa solidariedade a todas as pessoas afetadas pela crise climática, pois elas estão pagando o alto preço de uma crise criada por grandes poluidores ávidos por lucros. As grandes empresas de petróleo e gás devem ser responsabilizadas e, à medida que o mundo se prepara para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, os governos devem forçar as grandes petrolíferas a parar de perfurar e começar a pagar pelos danos climáticos que causaram”, afirmou o coordenador do Greenpeace.
Crise hídrica no Pantanal
De acordo com o SGB, no Pantanal, os rios seguem em ritmo de descida e estão abaixo da faixa da normalidade na maioria das estações. No sábado (21/09), o Rio Paraguai, no trecho de Cáceres, a 250 quilômetros de Cuiabá, atingiu 35 cm de profundidade, o nível mais baixo de água dos últimos dois anos. De acordo com o Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, da Marinha do Brasil, o nível esperado para esta época do ano é de 1,54 metro (m).
Em Ladário, Mato Grosso do Sul – estação de referência – a cota chegou a -38 cm, décima mínima histórica. Os níveis mais baixos, de -61 cm e -60 cm, foram observados em 1964 e 2021, respectivamente. “No Pantanal, tem Barra do Bugres, que também já atingiu a mínima histórica e a Estação de Ladário, que é a mais antiga do Brasil e referência do Pantanal, com 124 anos de dados históricos, ainda não atingiu o mínimo histórico, mas faltam aproximadamente 20 cm para atingir a mínima histórica”, lamentou Matos.
O valor da cota abaixo de zero não significa a ausência de água no leito do rio. Esses níveis são definidos com base em medições históricas e considerações locais, sendo que, mesmo quando o rio registra valores negativos, em alguns casos ainda há uma profundidade significativa. No caso de Ladário, por exemplo, abaixo da cota zero, o Rio Paraguai ainda possui cerca de 5 metros de profundidade, conforme dados da Marinha.
Dados do Inpe (instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o número de dias de estiagem consecutivos aumentou no Brasil nas últimas décadas, passando de 80 a 85 dias, em média, na década de 1990 para cerca de 100 dias, na última década, especialmente nas áreas que abrangem o norte da Região Nordeste e o centro do país. Os dias de calor extremo também subiram de 7 para 52 nas últimas três décadas, de acordo com o Inpe
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade