Os impactos mapeados da crise climática podem causar prejuízos da ordem US$ 1 trilhão a um conjunto de 215 empresas globais, nos próximos cinco anos. Juntas, essas companhias faturam US$ 17 trilhões. Diante dos crescentes riscos climáticos, 72% das empresas incorporaram o passivo nas suas estratégias de negócios. As empresas europeias lideraram essa proatividade, enquanto em países como o Brasil e os Estados Unidos, o índice é abaixo da média mundial: 56% e 65%, respectivamente. Os dados fazem parte de um estudo da ONG Carbon Disclosure Project (CDP, na sigla em inglês) e será apresentado hoje, em Salvador.
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Veja o que já enviamosDurante toda essa semana, representantes da sociedade civil, como empresas, academia e organizações não governamentais, como o CDP, se reúnem na capital baiana para a Semana do Clima da América Latina e Caribe 2019. O evento faz parte do calendário das Nações Unidas (ONU) e é uma das três reuniões preparatórias da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, a COP-25, que ocorrerá no Chile, em dezembro. Os dois outros encontros serão na Tailândia e em Gana – tradicionalmente, essa reunião ocorria apenas em Nova Iorque, mas, este ano, atendendo a uma reivindicação das regiões latino-americana, asiática e africana, o encontro se espalhou pelos três continentes.
Se não fosse a justificativa dada pelo presidente Jair Bolsonaro de que a conferência custa muito caro – algo como R$ 500 milhões, o Brasil iria sediar a COP-25 este ano. Em sete meses na presidência, o mundo todo já sabe que a área ambiental não é uma prioridade do governo. Aos fatos: o desmonte dos mecanismos de monitoramento estão com força total, fazendeiros e garimpeiros já sabem que a floresta é uma fronteira a ser explorada, o presidente diz que apenas “veganos que só comem vegetais” se importam com a questão ambiental e por fim, o chanceler Ernesto Araújo já questionou a veracidade do aquecimento global.
[g1_quote author_name=”Rebeca Lima” author_description=”gerente sênior de Corporações e Cadeias de Suprimento do CDP” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]No lugar de criar apatia entre os setores da sociedade civil, o ativismo anti-clima do atual governo está suscitando mais engajamento do setor privado”, avalia Rebeca Lima, gerente sênior de Corporações e Cadeias de Suprimento do CDP.
[/g1_quote]“No lugar de criar apatia entre os setores da sociedade civil, o ativismo anti-clima do atual governo está suscitando mais engajamento do setor privado”, avalia Rebeca Lima, gerente sênior de Corporações e Cadeias de Suprimento do CDP. E o motivo, diz ela, é econômico: o valor potencial gerado por negócios sustentáveis e de baixa emissão de carbono é sete vezes maior do que manter a lógica de produção inalterada. Segundo o estudo, das 215 empresas mapeadas, 80% delas alegaram temer impactos de alto risco nos negócios e citaram como exemplos os estragos provocados por mudanças climáticas extremas.
Segundo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o impacto da crise climática nos negócios vem exigindo ações concretas das empresas, que investem em novas tecnologias e em eficiência energética para mitigação de gases de efeito estufa. A entidade apresentou recentemente ao novo governo um conjunto de dez propostas para acelerar o ritmo da transição para uma economia de baixo carbono, das quais seis delas estão relacionadas à energia. O Instituto Arapyaú, por sua vez, vai apresentar no encontro, em Salvador, exemplos de sucesso relacionados às principais metas brasileiras nesta agenda. A Coalizão Clima Floresta e Sociedade, que tem se dedicado a apoiar a agenda de implementação do Acordo de Paris e o desenvolvimento de uma economia agroambiental de baixo carbono no país, vai analisar a posição do governo brasileiro e dos demais atores da agenda de clima, florestas e agricultura.
Não à toa Salvador foi escolhido para ser palco das discussões climáticas. A capital baiana foi a primeira cidade da América Latina a assumir os compromissos com o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia, uma coalizão de prefeituras para implementar políticas para redução das emissões e adaptação das cidades aos efeitos das mudanças climáticas.
O Aterro Metropolitano Centro, que recebe, diariamente, 3 mil toneladas de lixo, passou a gerar crédito de carbono. De 2004 até 2017, deixaram de ser emitidos 6,8 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2). “Essa quantidade de carbono corresponde ao volume emitido por um automóvel em um milhão e 700 mil voltas em torno da Terra”, contabilizou Roberta Costa, engenheira do GrupoSolvi, a empresa que opera o aterro de Salvador. responsável pelo um carro indo e voltando da Lua 10 mil carros indo e voltando da Lua.
O projeto da Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos (BATTRE) evoluiu para uma termoelétrica, a Termoverde Salvador – a primeira usina termelétrica movida a biogás de aterro sanitário do Nordeste. A Termoverde Salvador gera em média 10 mil MWh/mês, energia suficiente para abastecer a demanda de cerca de 200 mil habitantes.