Poluição do ar aumenta risco de morte por covid-19

Fumaça de chaminés no céu de Praga: pesquisa aponta que 29% das mortes por Covid-19 na República Tcheca têm relação com a poluição atmosférica (Michal Cizek/AFP – 12/02/2021)

Pesquisa avalia que 15% das mortes de infectados pelo coronavírus no mundo podem ter uma relação de causa e efeito com a poluição atmosférica

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13ODS 3 • Publicada em 15 de março de 2021 - 09:46 • Atualizada em 22 de março de 2021 - 18:42

Fumaça de chaminés no céu de Praga: pesquisa aponta que 29% das mortes por Covid-19 na República Tcheca têm relação com a poluição atmosférica (Michal Cizek/AFP – 12/02/2021)

A exposição por longo tempo à poluição está ligada a um maior risco de morte por Covid-19. Pela primeira vez, um estudo estimou a proporção de mortes pelo vírus que pode ser atribuída ao efeito exacerbante da poluição do ar em cada país do mundo.

O trabalho, publicado em fevereiro na Cardiovascular Research, avalia que 15% das mortes do mundo pela Covid-19 podem ter uma relação de causa e efeito entre poluição do ar e a mortalidade pela doença (embora isso seja possível). Entretanto, o estudo mostra relações entre o agravamento das comorbidades, que levariam a casos letais.

Os resultados se baseiam em dados epidemiológicos coletados em junho de 2020, e os pesquisadores dizem que serão nececessárias avaliações mais amplas para seguir quando a pandemia tiver diminuído. Estimativas para países individuais mostram, por exemplo, que a poluição do ar contribuiu com 20% das mortes pelo coronavírus na República Tcheca, 27% na China e 26% na Alemanha. O Brasil ocupa a décima terceira colocação, com 11%, seguido por Índia, Israel, Austrália e Nova Zelândia.

A equipe de pesquisa inclui Jos Lelieveld, do Max Plank Institute for Chemistry, Thomas Münzel, da Johannes Gutenberg University, e Andreas Mainz, da German Center for Cardiovascular Research, e Andrea Pozzer, também do Max Planck Institute for Chemistry. Segundo Jos Lelieveld, já que os números de mortes pela Covid-19 crescem em todos cantos, não é possível dar os números exatos ou totais das mortes que podem ser atribuíveis à poluição do ar. “Mas, no caso do Reino Unido, por exemplo, houve houve 44 mil mortes e estimamos que casos ligados à poluição do ar são de 13%, o que quer dizer que mais de 6.100 mortes podem estar ligadas a ela”, disse..

Munzel afirma que, quando as pessoas inalam a poluição do ar, as partículas muito pequenas, chamadas de PM2.5, migram para o sangue e seus vasos, causando inflamação e severo stress oxidativo, o que é um desequilíbrio entre radicais livres e oxidantes no corpo e que normalmente repara o dano às células. Isto causa uma perturbação das paredes internas das artérias, o endotélio, e leva a um estreitamento e endurecimento das delas. O vírus também entram no corpo via pulmões, causando dano semelhante às veias sanguíneas, no que agora é considerada uma doença endotelial.

Ainda de acordo com Münzel, a matéria particulada parece aumentar a ação de células de superfície, chamadas ACE2, conhecidas por estarem envolvidas na maneira como o Covid-19 infecta células. Assim, tempos um efeito duplo. A poluição do ar prejudica os pulmões e aumenta a atividade do ACE-2 , o que por sua vez leva ao fortalecimento da absorção do vírus pelos pulmões e provavelmente pelos vasos sanguíneos e o coração.

A maioria dos cientistas acha muito provável que a poluição do ar aumenta o número de infectados e a severidade do coronavírus. Sabe-se que respirar ar sujo causa doenças cardíacas e pulmonares, e estas doenças tornam pior a infecção por coronavírus.

A bioestatística Francesca Dominici, da Universidade Harvard e chefe do estudo, afirma haver evidência suficiente para agirmos imediatamente: “Mesmo sem o coronavírus, temos uma enorme quantidade de provas, e por isso devemos implementar restrições mais duras. Teremos apenas benefícios por priorizarmos algumas das áreas mais vulneráveis”.

A poluição do ar é o maior risco para a saúde mundial globalmente, e se estima que mate 7 milhões de pessos por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Segundo a entidade, nove em cada dez pessoas que respiram ar poluído estão mais sujeitas a AVCs, câncer de pulmão e doenças do coração.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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