Os riscos ambientais e a estabilidade da economia global

Relatório do Fórum Econômico Mundial aponta os eventos climáticos extremos como o principal risco para o planeta em 2024

Por Marina Grossi | ODS 13 • Publicada em 15 de fevereiro de 2024 - 09:46 • Atualizada em 19 de fevereiro de 2024 - 09:32

Casas destruídas no Rio Grande do Sul após ciclone: eventos extremos são o principal risco à estabilidade da economia global (Foto: Joel Vargas / Ascom GVGRS – 18/07/2023)

A tradicional reunião de lideranças políticas e empresariais no Fórum Econômico Mundial, que acontece em Davos, na Suíça, no mês de janeiro, é sempre antecedida pelo lançamento do Relatório de Riscos Globais, publicação que analisa as principais ameaças à estabilidade da economia global no curto e no médio prazo. Com insights sustentados por quase duas décadas de dados originais sobre a percepção de risco global, coletados junto a mais de 1.500 especialistas do mundo acadêmico, empresarial, governamental, da comunidade internacional e da sociedade civil, o relatório demonstra, ano após ano, que os riscos socioambientais estão crescendo em importância.

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Há dez anos, por exemplo, o relatório trazia dois riscos ambientais entre os cinco mais importantes em 2014: os eventos climáticos extremos e as mudanças climáticas como um todo; já no ano passado, o Relatório trouxe 4 riscos ambientais entre os 5 principais: a falha na mitigação e na adaptação às mudanças climáticas; desastres naturais e eventos climáticos extremos; perda da biodiversidade e colapso dos ecossistemas.

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Neste ano, riscos ambientais continuam a dominar o cenário de riscos ao longo dos três períodos de tempo: no ano de 2024, no período de dois anos e no horizonte de dez anos. Os recém-lançados resultados da pesquisa colocam os eventos climáticos extremos como o principal risco global para 2024; o clima extremo e a poluição são os dois principais riscos ambientais para o período de dois anos; já para o horizonte de dez anos, os riscos ambientais passam a ocupar 5 dos 10 maiores riscos prováveis à economia global, sinalizando que se nada for feito para coibir as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, o mundo caminha para um ponto de inflexão, de modo que as consequências para a estabilidade econômica serão graves.

Os relatórios de risco global do Fórum Econômico Mundial são eficazes em capturar o espírito do tempo – o zeitgeist, na expressão no idioma alemão – e abraçam também o contexto factual – guerras, a pandemia de covid-19, a crise causada pelo aumento do custo de vida, ataques cibernéticos, polarização e a desinformação causada por fake news estão entre os riscos recentes apontados pela publicação.

A persistência dos temas ambientais, seja qual for o horizonte de tempo – curto, médio ou longo prazo -, demonstra que, a despeito dos acontecimentos a que o mundo está sujeito todos os anos, a crise climática e os impactos da perda da biodiversidade podem levar a humanidade ao colapso. Para este ano, a maioria dos respondentes (54%) espera um risco moderado de catástrofes globais, enquanto outros 30% esperam condições ainda mais turbulentas. As perspectivas são marcadamente mais negativas ao longo do horizonte temporal de 10 anos, com quase dois terços dos inquiridos a esperarem uma perspectiva tempestuosa ou turbulenta.

A percepção dos riscos ambientais aumenta à medida que a ciência confirma que o planeta está cada vez mais próximo de não conseguir reverter a crise climática. O ano de 2023 foi considerado o mais quente já registrado, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Seis conjuntos de dados internacionais confirmaram que a temperatura média global anual ficou 1,45ºC acima dos níveis pré-industriais, com margem de erro de cerca de 0,12ºC, valor que se aproxima perigosamente do marco limite de 1,5ºC do Acordo de Paris.

A COP 28, que terminou em dezembro de 2023 em Dubai, reforçou a necessidade de persistir na busca pelo objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC com uma transição gradativa para longe dos combustíveis fósseis. O documento final da conferência também sinalizou que será necessário triplicar a capacidade global de energias renováveis até 2050 e dobrar a taxa média anual de eficiência energética até 2030, acelerar as tecnologias neutras e de baixa emissão de carbono, o que inclui energias renováveis, nuclear, captura e armazenamento de carbono e o hidrogênio de baixo carbono.

Em várias dessas tecnologias, o Brasil é competitivo, o que abre espaço para novos investimentos no país. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) tem sido ativo na defesa de que este é o momento do país transformar suas vantagens comparativas em vantagens competitivas para dar um salto na reindustrialização, atualizar sua pauta de exportações com produtos de baixo carbono, como o hidrogênio e aço verdes e a bioeconomia, e promover o adensamento tecnológico em diversas cadeias produtivas. Também precisamos alavancar as soluções baseadas na natureza (SbN) para valorizar nossos biomas, dando respostas tanto à crise climática quanto à crise da biodiversidade. Só dessa maneira será possível fazermos frente aos principais riscos à estabilidade econômica global, ao mesmo tempo em que fomentamos nossa economia e geramos prosperidade e inclusão com a valorização dos recursos naturais, tão caros à sobrevivência humana na Terra.

Marina Grossi

Marina Grossi, economista, é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro. Foi negociadora do Brasil na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entre 1997 a 2001 e coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas entre 2001 e 2003.

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