Os cinco anos mais quentes da história

Relatório da ONU mostra que emissões globais de carbono crescem a uma taxa de 2% ao ano

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 23 de setembro de 2019 - 14:15 • Atualizada em 24 de setembro de 2019 - 14:52

Greta Thunberg,, ao lado da brasileira Paloma Costa, do Engajamundo, na abertura da Cúpula Climática: “Vocês roubaram os meus sonhos e minha infância com palavras vazias” (Foto: Kay Nietfeld/DPA)
Greta Thunberg,, ao lado da brasileira Paloma Costa, do Engajamundo, na abertura da Cúpula Climática: "Vocês roubaram os meus sonhos e minha infância com palavras vazias" (Foto: Kay Nietfeld/DPA)
Greta Thunberg,, ao lado da brasileira Paloma Costa, do Engajamundo, na abertura da Cúpula Climática: “Vocês roubaram os meus sonhos e minha infância com palavras vazias” (Foto: Kay Nietfeld/DPA)

A temperatura média mundial do período de cinco anos que vai de 2015 a 2019 foi mais alta do que a de qualquer outro período de cinco anos desde que os registros começaram a ser feitos. De acordo com o relatório da Organização Meteorológica Mundial (WMO), “atualmente, calcula-se estarmos 1,1ºC acima da era pré-industrial (1850-1900) e 0,2ºC acima de 2011-2015.” As emissões globais de carbono, ao invés de diminuir, estão crescendo a uma taxa de 2% ao ano. No ano passado, elas chegaram a quase 40 bilhões de tCO2e (toneladas de carbono equivalente) e é muito difícil que comecem a cair antes de 2030.

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Para manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC seria preciso triplicar o conjunto das políticas das atuais NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada, na tradução em português). Para mantê-lo abaixo de 1,5ºC, o esforço terá que ser cinco vezes maior, ou ‘mais ambicioso’, como se diz no jargão climático. Diz a WMO no seu relatório: “Existe um reconhecimento crescente de que os impactos do clima estão nos atingindo de maneira mais forte e mais cedo do que as avaliações climáticas indicavam apenas uma década atrás”.

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Existe um reconhecimento crescente de que os impactos do clima estão nos atingindo de maneira mais forte e mais cedo do que as avaliações climáticas indicavam apenas uma década atrás

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O relatório será uma das bases da Cúpula de Ação Climática que começa hoje (23 de setembro), às 10h da manhã, em Nova York. Ontem, o secretário geral da ONU, António Guterres, disse que “Nenhum país foi recusado (…) alguns países simplesmente não apareceram”. O pano de fundo da Cúpula é o derretimento das geleiras, as inundações catastróficas, as fortes ondas de calor e um recorde de 4 milhões de grevistas climáticos nas ruas. Guterres abriu o evento com uma declaração de “emergência climática” e pediu o compromisso dos governos.

[g1_quote author_name=”Greta Thunberg” author_description=”Adolescente sueca, líder do movimento Fridays For Future” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu tenho sorte. Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso. E vocês vêm aqui falar de contos de fada de dinheiro e crescimento econômico

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Foi seguido por uma emocionada e raivosa Greta Thunberg, a adolescente sueca que lidera o movimento global pelo clima. “Vocês vêm até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam? Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu tenho sorte. Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso. E vocês vêm aqui falar de contos de fada de dinheiro e crescimento econômico”, disparou Greta. com a voz trêmula. “Está tudo errado. Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano. Mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês”, acrescentou a adolescente sueca, ao lado da brasileira Paloma Costa, 27 anos, da ONG brasileira Engajamundo. 

[g1_quote author_name=”Paloma Costa” author_description=”Jovem advogada brasileira, da ONG Engajamundo” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

Nós não vamos trabalhar com empresas que desmatam, não vamos ficar quietos. Mudamos nossos hábitos, mas vocês não estão seguindo a gente. O mundo inteiro orou pela floresta, mas nós não precisamos de orações, precisamos de ações

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A estudante sueca falou com os olhos cheios de lágrimas. “Por mais de 30 anos a ciência tem sido muito clara. E como vocês ousam não olhar, vir aqui e dizer que estão fazendo o suficiente?”, declarou na abertura da Cúpula Climática  “Se vocês escolherem falhar, nós nunca perdoaremos vocês. Nós não vamos deixar vocês escaparem disso. Aqui e agora é quando nós riscamos a linha. O mundo está acordando e a mudança está chegando, gostem vocês ou não”, afirmou.

A brasileira Paloma Costa, advogada de questões ambientais, também não pegou leve. “Nós não vamos trabalhar com empresas que desmatam, não vamos ficar quietos. Mudamos nossos hábitos, mas vocês não estão seguindo a gente. O mundo inteiro orou pela floresta, mas nós não precisamos de orações, precisamos de ações”, cobrou. “Nós precisamos ver a Amazônia pegando fogo para agir? Os defensores do meio ambiente estão em risco, mas eu não tenho medo. Eu tenho medo de morrer por conta da crise do clima, que está afetando a segurança alimentar, as vidas”, acrescentou a coordenadora de clima da ONG Engajamundo.

Ao lado dos presidentes do Chile Sebastian Pinera, da Colômbia, Ivan Duque, e da Bolívia, Evo Morales, o francês Emmanuel Macron ouve líderes indígenas da Amazônia no lançamento da Aliança pelas Florestas Tropicais na sede da ONU (Foto: Ludovic Marin/AFP)

Aliança pela Amazônia

Em evento paralelo à Cúpula do Clima, o presidente da França, Emmanuel Macron, uma grande aliança para proteger a Amazônia e outras florestas tropicais, com a presença de diversos líderes da região, mas sem nenhum representante do governo federal brasileiro.  O plano inclui novas ajudas de doadores internacionais – o governo francês prometeu um aponte de US$ 100 milhões de dólares. Além de Macron, participaram da reunião batizada de “Alliance for Rainforests”, ou “Aliança para as Florestas Tropicais”, os presidentes da Colômbia, Iván Duque; do Chile, Sebastián Piñera; e da Bolívia, Evo Morales. Também estavam presentes a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, e o presidente da Assembleia Legislativa da Guiana Francesa, Rodolphe Alexandre.

Macron lamentou a ausência de representante brasileiros na reunião. “Vamos falar francamente. Estamos discutindo tudo isso sem o Brasil presente. O Brasil é bem-vindo. Todos nós queremos trabalhar”, afirmou o presidente francês. Entre os integrantes da Aliança pelas Florestas Tropicais, estão o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a ONG Conservation Internacional.

Os US$ 100 milhões da França vão financiar, juntamente com o Banco Mundial e a Alemanha, o programa “Pro Green” de ajuda a projetos locais. O Banco Interamericano de Desenvolvimento vai apoiar ações desenvolvidas pelos países amazônicos. A Conservation Internacional, que é dirigida pelo ator Harrison Ford, investirá em iniciativas de ONGs, comunidades nativas e empresas privadas. O americano – estrela de Star Wars e Indiana Jones – disse, em Nova York, que a organização vai destinar US$ 20 milhões a estes projetos de defesa da Amazônia.

Enquanto isso, o Brasil, que não terá lugar de fala no evento do clima, ocupará o seu tradicional espaço na aberta da sessão anual da Assembleia Geral da ONU, que acontece amanhã, também em Nova York. O presidente Jair Bolsonaro pretende mostrar que o país é o campeão em preservação ambiental, que está fazendo tudo para conter o desmatamento ilegal e combater os incêndios. Dirá que esses incêndios estão dentro da normalidade e que a melhor maneira de preservar a floresta é promover o desenvolvimento dos milhões de pessoas que moram na região.

Bolsonaro deve levar a tiracolo a indígena Ysani Kalapalo, o que já provocou reação da associação que representa as etnias do Xingu, da qual faz parte os Kalapalos. Em nota, a Associação Terra Indígena Xingu – ATIX diz: “O governo brasileiro ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil […] Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidas e respaldadas por nós”.

Ysani apareceu ao lado de Bolsonaro logo antes da votação do 2º turno, no ano passado, e, segundo a Folha, provocou o repúdio das lideranças indígenas. Em nota na época, disseram que Ysani é “residente e domiciliada em Embu das Artes (na Grande São Paulo)” e que ela faz uma “falsa representação” dos indígenas.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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