
Com 10 anos de idade, João Henrique Alves Cerqueira queria entender porque a indústria agredia tanto o meio ambiente. Aos 20, parou de comer carne e trocou o carro pela bicicleta. Três anos depois, era voluntário do Engajamundo, ONG que tem como principal objetivo incentivar jovens a pensar em maneiras de ajudar o planeta. Hoje, com 27 anos, estudante de engenharia ambiental na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), João – que também participa da Ciclimáticos, uma rede de ciclistas com objetivo de conscientizar e ouvir histórias de quem enfrenta as mudanças climáticas no Brasil – é um dos 100 jovens campeões do clima do mundo inteiro, selecionados pelas Nações Unidas, para participar da Cúpula da Juventude para o Clima, no dia 21 de setembro, na sede da ONU, em Nova Iorque.
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Veja o que já enviamosA preocupação ecológica acompanhou sua adolescência em Curitiba “Eu ficava angustiado pensando o que eu poderia fazer para diminuir os impactos negativos no meio ambiente”, conta o universitário. “Foi então que comecei a mudar meu estilo de vida. Parei de comer carne, comecei a usar mais a bicicleta e a compostar os resíduos domésticos. Todas essas mudanças individuais fiz acreditando que seria o suficiente para mitigar os problemas ambientais”. acrescenta.
[g1_quote author_name=”João Henrique Cerqueira” author_description=”Universitário e representante brasileiro na Cúpula da Juventude para o Clima” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]
Queria ter a possibilidade de estar junto com essas pessoas que estão fazendo uma transformação real nas suas comunidades, nas cidades, países. Queria trocar ideia com elas e ouvir as histórias. É o que me inspira. Quero aprender novas ferramentas, poder ganhar essa carga de experiência para depois trazer para o Brasil coisas novas e colocar a mão na massa
[/g1_quote]A primeira composteira foi feita na casa dos pais. Era um minhocário, feito com galão de água. “Foi estranho para eles. Mas acompanharam com curiosidade e passaram a ver que era legal fazer isso. Quando sai de casa, aos 19 anos, para morar sozinho minha mãe pediu para ficar com a composteira porque queria dar continuidade”, explica João.
Ele trabalhava num banco quando decidiu largar o carro e começar a circular pela cidade só de bicicleta. “Durante toda minha infância, eu andava de bicicleta: era lazer, não meio de transporte. Aos 20 anos, decidi trocar o carro para ir para o trabalho pela bicicleta”, conta João. “Foi uma escolha política”. Na mesma época, virou vegano.
Legumes, frutas, vegetais, arroz, feijão, alguma fonte de ferro, amendoim, soja, grão de bico. Esses são os alimentos que não faltam na mesa de João. Caçula da família, com duas irmãs mais velhas, é o único vegetariano. “Tem ninguém nem próximo de começar essa transição. Na verdade, virei vegano há seis anos. Mas tenho uma alimentação equilibrada, tomo cuidado com os nutrientes, faço exame de sangue periódico, acompanho para ver se está tudo bem: meus resultados estão melhores que o da minha família”, garante. “Eles achavam estranho no começo e hoje gostam e super me admiram Infelizmente não foi o suficiente para eles sentirem o chamado de virar vegetariano ou vegano também”, acrescenta o universitário.
No entanto, mesmo com todas as mudanças na vida pessoal, ele percebeu que não era suficiente para causar impacto global. “As atitudes individuais são importantes, mas a gente precisa de trabalho real. Precisamos transitar nossos modelos econômicos para modelos que sejam menos predatórios”, afirma. “Há quatro anos, quando entrei no Engajamundo, me encontrei em um grupo de trabalhos de mudanças climáticas. Essa agenda me permitia trabalhar, colocar energia em tentar construir novas possibilidades de futuros onde a gente consiga ser menos nocivos com o planeta”, acrescenta João.
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Vou levar comigo para a ONU as histórias que tenho ouvido em minhas viagens de bicicleta dos brasileiros que estão precisando se adaptar à crise climática
[/g1_quote]A Ong Engajamundo, organização da qual João é voluntário, tem como objetivo empoderar as diferentes juventudes brasileiras para que elas se sintam parte da solução dos problemas que temos em sociedade. Ela faz isso através de uma rede de voluntários que trabalham com ações de ativismo, facilitando formações para outros jovens e pressionando tomadores de decisão. “O Engaja tem cinco grupos de trabalho que seguem a agenda da ONU (Clima, ODS, urbanismo sustentável, gênero e biodiversidade) e possui núcleos locais em 19 estados brasileiros”, explica João.
Além de ser ativista coordenador do grupo de trabalho de mudanças climáticas entre 2017 e 2019, voluntário na ong Engajamundo, João também escuta histórias de quem está na linha de frente das mudanças no clima durante suas pedaladas pelo país. Com isso, ele liderou a criação de uma página no instagram (@ciclimaticos) para compartilhar o que a rede de ciclistas escuta pelas estradas. “Vou levar comigo para a ONU as histórias que tenho ouvido em minhas viagens de bicicleta dos brasileiros que estão precisando se adaptar à crise climática”, afirma.
Foi através do Engajamendo que João ficou sabendo da seleção dos jovens campeões do clima para a reunião na ONU. O processo era feito através de um formulário, com análise de currículo e portfólio dos ativistas em anexo. “Sabia que era difícil o processo seletivo. Tinha pessoas incríveis do mundo inteiro participando. Eu já estava me sentindo contemplado pelas pessoas que poderiam ser escolhidas”, disse, admitindo que achava difícil ser contemplado.
O total foi de 7 mil inscritos. Os 100 vencedores do “Tíquete Verde”, incluindo João, vão se juntar a mais de 500 jovens líderes do clima selecionados para participar do primeiro encontro do gênero promovido pela ONU. “Me inscrevi porque queria ter a possibilidade de estar junto com essas pessoas que estão fazendo uma transformação real nas suas comunidades, nas cidades, países. Queria trocar ideia com elas e ouvir as histórias. É o que me inspira”, explica o único brasileiro selecionado. “Quero aprender novas ferramentas, poder ganhar essa carga de experiência para depois trazer para o Brasil coisas novas e colocar a mão na massa”, completa.
A Cúpula da Juventude pelo Clima estabelecerá uma plataforma de jovens líderes que vão expor suas soluções em um palco global e vão ter o contato direto com tomadores de decisão sobre o assunto mais importante desta época. “Eu imagino que vai ser um encontro bem produtivo. São 100 pessoas dedicando suas vidas para fazer a transformação global juntas. Vamos trocar experiências, pensar em novos caminhos e trazer tudo isso para o Brasil”, diz João. “Não tem como não ser potente. Estou bem animado para construir novas possibilidades e estratégias. Além da conferência, estamos vivendo um momento no Brasil que gera curiosidade das entidades lá fora. Toda essa questão do clima e do desmatamento. É uma oportunidade de falar e denunciar o que estamos vivendo aqui”, acrescenta.