O livro de Gates: como evitar o desastre climático

O bilionário Bill Gates em casa durante a pandemia: primeiro livro sobre crise climática (Foto: Divulgação)

Fundador da Microsoft, bilionário americano lança obra em que busca apontar soluções possíveis para a redução das emissões de carbono

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13 • Publicada em 1 de março de 2021 - 09:02 • Atualizada em 5 de março de 2021 - 18:37

O bilionário Bill Gates em casa durante a pandemia: primeiro livro sobre crise climática (Foto: Divulgação)

Terceiro homem mais rico do mundo, Bill Gates, co-fundador da Microsoft, tem uma fortuna de US$ 132 bilhões de dólares e não é um cientista do clima. Mas isto não o impede de ler muito sobre o assunto e trocar ideias com os cientistas de verdade. Em seu novo livro, Como Evitar um Desastre do Clima, ele explica que chegou ao tema por via indireta, como uma das tarefas de seu envolvimento com a pobreza energética, parte do trabalho da Bill and Melinda Gates Foundation, que já doou mais de US$ 50 bilhões de dólares para programas humanitários em 135 países.

“Tenho consciência de ser um mensageiro imperfeito da questão. Não faltam no mundo homens ricos com grandes ideias sobre o que as pessoas devem fazer, ou que a tecnologia pode resolver qualquer problema”, escreve o bilionário. Mas ele tem muita informação sobre os aspectos técnicos da mudança do clima e suas soluções, vinda de seus assessores, e tem ideia das soluções potenciais.

Ao largar a faculdade para fundar a Microsoft, Bill Gates tinha um profundo interesse em química, biologia e física, mas não estava muito focado em questões climáticas. “Porém, em 2006, estava deixado meu trabalho em tempo integral e comecei a ouvir de alguns funcionários: Ei, você tem de aprender sobre a mudança do clima”. E aí, com a ajuda de dois professores, começou a tomar ciência do problema e de seus riscos para a vida no planeta.

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Ainda sou um otimista. Acho que, se as pessoas verem o quanto o trabalho é amplo e como a inovação é crítica em todas as áreas envolvidas, e aplicarem os recursos, podemos chegar ao zero carbono até 2050. As pessoas que acham que é fácil são um problema quase tão grande quanto o daqueles que acham que o problema não importa

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A primeira parte do livro trata da jornada intelectual de Gates. Ele cita o físico de Cambridge David Mackay, que mostrou o link entre renda per capita e uso de energia per capita. A correlação histórica entre uso de energia e padrões de vida fizeram Gates “pensar em como o mundo poderia fazer energia acessível e confiável para os pobres”. O bilionário também comenta o trabalho do economista Vaclav Smil sobre o papel dos combustíveis fósseis na evolução da civilização humana.

No livro, ele busca propor soluções mais simples para reduzir as emissões de carbono. “Não estou propondo que se gaste trilhões porque isso não vai acontecer. Como também não podemos resolver o problema em 10 anos. Assim, eu tenho a chance de ser criticado pelos dois lados enquanto tento criar um plano prático que lide com as limitações dos recursos que podem estar disponíveis” escreve ele.

Por cinco capítulos, ele aponta a boa notícia de que “nós podemos fazer isso”, apesar das difíceis tarefas à frente, com as opções de energia limpa disponíveis e tecnologias potenciais do futuro para lidar com as emissões nos diferentes setores: geração de eletricidade (“como conectar”), manufatura (“como para fazer coisas ”), agricultura (“como cultivar coisas”), transporte e mobilidade (“como se locomover”) e o setor de construção (“como garantir ar fresco e ficar aquecido”). “Principalmente para a geração mais nova eu posso dizer: vocês têm a energia, e têm uma meta. E a meta está certa: zero carbono até 2050. Estou simplesmente dizendo se vocês querem transformar esta energia e meta em um plano real, há uma gama de tópicos que gastei meu tempo estudando, e meu livro torna estas informações acessíveis e diz: este é um desenho de como seria esta plano”, afirma Bill Gates

O bilionário diz ter uma causa comum com os jovens, que trazem organização e energia. “Todo este idealismo está se fortalecendo, então vamos fazer algo que se conecte com a algo real. Senão, vamos criar toda uma geração de cinismo sobre a possibilidade de governos e o setor privado se alinharem para fazer algo grande e difícil?”, pergunta ele. “Ainda temos vinte anos para substituir toda a economia industrial e todas estas coisas difíceis que causam a maioria das emissões de CO2”.

“Ainda sou um otimista. Acho que, se as pessoas verem o quanto o trabalho é amplo e como a inovação é crítica em todas as áreas envolvidas, e aplicarem os recursos, podemos chegar ao zero carbono até 2050. As pessoas que acham que é fácil são um problema quase tão grande quanto o daqueles que acham que o problema não importa”, escreve o bilionário.

“Talvez meu cérebro não seja bom o bastante para enxergar algumas coisas. É um campo muito complicado. E posso estar perdendo coisas. A maioria delas são becos sem saída, Então não estou dizendo que tenho uma lista de inovações e que as pessoas tem de segui-las”.

Nem toda a imprensa criticou positivamente o livro de Gates, lançado em meados de fevereiro. O New York Times lembrou que ele ignorou completamente o desafio do clima até 2006 e afirma que, por isso. está ainda tomando pé das coisas.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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