Incêndio em Los Angeles: crise climática prolonga e intensifica temporada de fogo na Califórnia

Seca extrema e ventos de mais de 100 km/h espalham chamas: pelo menos, cinco pessoas morreram, mais de 13 mil já casas já foram destruídas

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 9 de janeiro de 2025 - 11:55 • Atualizada em 9 de janeiro de 2025 - 11:56

Incêndio destrói casas no município de Altadena, condado de Los Angeles: crise climática prolonga e intensifica temporada de fogo na Califórnia (Foto: Robyn Beck / AFP)

Os violentos incêndios florestais que avançaram sobre a região de Los Angeles, ao sul do estado da Califórnia (EUA), estão deixando um rastro de destruição e medo. Cinco pessoas já morreram devido ao incêndio em Los Angeles. Mais de 13 mil casas estão em áreas que foram tomadas pelo fogo – a maioria já está destruída. Segundo a polícia do condado de Los Angeles, 35 mil pessoas receberam ordem de evacuação em Pasadena, Altadena e Sierra Madre.  Celebridades como o ator Adrian Brody, o comediante Billy Cristal e a modelo Paris Hilton tiveram suas casas atingidas pelo fogo.

Leu essa? Meta de 1,5ºC está mais morta do que uma porta

Ventos fortes e a seca extrema na região são os principais fatores que impulsionam os incêndios no sul da Califórnia, mas a mudança climática está alterando as condições meteorológicas, aumentando a probabilidade dessas conflagrações, de acordo com especialistas. “Embora os incêndios sejam comuns e naturais nesta região, a Califórnia viu alguns dos aumentos mais significativos na duração e na extremidade da temporada de clima de incêndio globalmente nas últimas décadas, impulsionados em grande parte pelas mudanças climáticas”, disse à BBC o professor Stefan Doerr, diretor do Centro de Pesquisa de Incêndios Florestais da Universidade de Swansea.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos

De acordo com os climatologistas, a Califórnia está particularmente vulnerável agora por causa da falta de chuva nos últimos meses, após um verão muito quente. Os poderosos ventos de Santa Ana – que sopram do oceano para as áreas costeiros e ocorrem naturalmente nesta época do ano – vieram combinados a seca extrema, resultando em surtos de incêndio muito mais rápidos e perigosos. A temporada de incêndios no sul da Califórnia é geralmente considerada como se estendendo de maio a outubro – mas o governador do estado, Gavin Newsom, apontou que os incêndios se tornaram um problema perene. “Não há mais ‘temporada de incêndios’ na Califórnia”, disse ele. “É ano de fogo”.

Chamas na encostas se aproximam de casas no litoral da Califórnia: incêndio em Los Angeles já deixou pelo menos cinco mortos e destruiu mais de 13 mil casas (Foto: CAL FIRE / Divulgação)
Chamas na encostas se aproximam de casas no litoral da Califórnia: incêndio em Los Angeles já deixou pelo menos cinco mortos e destruiu mais de 13 mil casas (Foto: CAL FIRE / Divulgação)

As altas velocidades do vento também estão alterando a localização dos incêndios. Muitos surtos ocorrem no alto das montanhas, mas esses incêndios recentes se moveram rapidamente para os vales e para áreas onde mais pessoas vivem. “É onde há mais fontes potenciais de ignição”, disse o pesquisador climático Daniel Swain, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) em uma publicação nas redes sociais. “É também onde é mais difícil desligar a energia preventivamente do que em outros locais onde esses desligamentos de energia de segurança pública são mais comuns e são preparados com mais regularidade. Então, haverá alguns desafios potenciais nessa região”.

O meteorologista Jonathan O’Brien, do Serviço Florestal dos EUA na Califórnia, alertou, no começo da semana, antes mesmo do incêndios se intensificarem. “Não posso enfatizar o suficiente a gravidade do próximo evento de vento de Santa Ana no sul da Califórnia. Os ventos por si só seriam um grande problema, mas combinados com condições secas, este é um ambiente de clima de incêndio raro e extremamente avançado”, tuitou na rede social de Elon Musk. “Estamos apenas ‘no início’ deste evento de clima de vento e fogo. O incêndio Palisades é a preocupação clara e presente, mas as piores condições climáticas de incêndio ainda estão por vir, e novos incêndios significativos são muito possíveis, se não prováveis”, acrescentou O’Brien na quarta-feira.

O impacto da crise climática é evidente no quadro geral do estado, concordam os cientistas. A Califórnia passou por uma seca de décadas que terminou há apenas dois anos. As condições úmidas resultantes desde então viram o rápido crescimento de arbustos e árvores, o combustível perfeito para incêndios. O verão passado foi muito quente e foi seguido por outono e inverno secos – o centro de Los Angeles recebeu apenas 0,16 polegadas de chuva desde outubro, mais de 4 polegadas abaixo da média. “Os combustíveis continuam muito disponíveis para queimar, já que o sul da Califórnia ainda não viu a chegada das chuvas de inverno, deixando os combustíveis ressecados após um dos verões mais quentes já registrados”, afirmou John Abatzoglou, climatologista da Universidade da Califórnia em Merced, ao Washington Post. “Se a região tivesse tido chuvas próximas do normal neste outono e inverno, não estaríamos lidando com esses incêndios”, acrescentou.

Bombeiros combatem incêndios em casas de Pacific Palisades, bairro nobre de Los Angeles: fogo atingiu até residências de celebridades de Holywood Chamas na encostas se aproximam de casas no litoral da Califórnia: incêndio em Los Angeles já deixou pelo menos cinco mortos e destruiu mais de 13 mil casas (Foto: CAL FIRE / Divulgação)
Bombeiros combatem incêndios em casas de Pacific Palisades, bairro nobre de Los Angeles: fogo atingiu até residências de celebridades de Holywood Chamas na encostas se aproximam de casas no litoral da Califórnia: incêndio em Los Angeles já deixou pelo menos cinco mortos e destruiu mais de 13 mil casas (Foto: CAL FIRE / Divulgação)

Os pesquisadores acreditam que um mundo em aquecimento está aumentando as condições que são propícias a incêndios florestais, incluindo baixa umidade relativa. Esses dias de “clima de incêndio” estão aumentando em muitas partes do mundo, com as mudanças climáticas tornando essas condições mais severas e a temporada de incêndios durando mais em muitas partes do mundo, os cientistas mostraram. Na Califórnia, a situação foi piorada pela topografia com incêndios queimando mais intensamente e se movendo mais rapidamente em terrenos íngremes. Esta área da Califórnia também é dominada por vegetação arbustiva naturalmente muito propensa a incêndios.

De qualquer forma, as autoridades acreditam que, na base desses incêndios impulsionados pela crise climática, está a ação humana. De acordo com David Acuña, chefe de batalhão dos bombeiros do Departamento Florestal e de Proteção ao Fogo da Califórnia (CAL FIRE), cerca de 95% dos incêndios florestais na área são iniciados por humanos. O oficial bombeiro lembrou que é apenas a terceira vez em 30 anos que a região de Los Angeles enfrenta incêndios como estes no mês de janeiro. Com a multiplicação dos incêndios, agua de hidrantes acabou. Os tanques que estavam fornecendo água à região secaram, à medida que dezenas de mangueiras sugavam o recurso nos esforços para salvar casas que queimavam. Os habitantes de Los Angeles estão sendo incentivados a economizarem água. “Estamos consumindo talvez quatro vezes a quantidade normal de água porque temos que usar muitas mangueiras para apagar os incêndios”, disse o capitão Erik Scott, do Corpo de Bombeiros de Los Angeles.

Com o incêndio em Los Angeles, a qualidade do ar chega a níveis alarmantes: segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, o nível de risco à saúde para quem está exposto em Pasadena está em 260 – o nível máximo de risco à saúde para a agência é de 300. O presidente dos EUA, Joe Biden, emitiu uma Declaração Presidencial de Grande Desastre para os incêndios florestais na Califórnia, o que facilita a assistência financeira para o combate ao fogo. O governo federal enviou cinco aviões-tanque grandes, 10 helicópteros e dezenas de veículos para ajudar a apagar o incêndio.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *