Guardiões da biodiversidade do Pampa

Emblema do Rio Grande do Sul, a pecuária familiar ajuda a preservar o bioma e sustenta 45 mil famílias, mas muitos só conseguem se manter com atividades extras

Por Rafael Gloria e Thaís Seganfredo | ODS 12ODS 13 • Publicada em 8 de setembro de 2020 - 08:39 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 21:45

O gaúcho e a pecuária familiar: emblemas do Rio Grande do Sul ameaçados pelo agronegócio. Foto de Keké Barcellos (Embrapa)

O gaúcho e a pecuária familiar: emblemas do Rio Grande do Sul ameaçados pelo agronegócio. Foto de Keké Barcellos (Embrapa)

Emblema do Rio Grande do Sul, a pecuária familiar ajuda a preservar o bioma e sustenta 45 mil famílias, mas muitos só conseguem se manter com atividades extras

Por Rafael Gloria e Thaís Seganfredo | ODS 12ODS 13 • Publicada em 8 de setembro de 2020 - 08:39 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 21:45

A pecuária familiar é a base do retrato do Rio Grande do Sul cravado no imaginário da população, com a figura do gaúcho sobrevivendo no campo, a partir da criação do próprio gado. Para Marcos Borba, doutor em Desenvolvimento Rural e pesquisador da Embrapa Sul, essa criação extensiva de gado, na qual o rebanho se alimenta do pasto nativo, é fruto de uma evolução conjunta entre o ambiente e as pessoas. “A sua reprodução como categoria social, família e atividade econômica depende necessariamente da existência desse recurso natural chamado campo”, arremata.

O pesquisador afirma que a pecuária familiar é crucial para manter a existência do bioma, pela relação de complementaridade biológica entre o ambiente campestre e os animais que se beneficiam dele. “O Pampa original tem hoje praticamente só um quarto do que já existiu e a sua conservação depende sempre de um distúrbio, que já foi o fogo em épocas passadas, mas hoje é basicamente o pastoreio, consumo das plantas pelos animais”.

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Nesse sentido, Borba afirma que a atividade se relaciona muito mais com o sistema natural do que com o econômico. “A pecuária familiar depende muito mais da quantidade de chuva, do conhecimento do pecuarista sobre seu ambiente para poder planejar melhor, do que por exemplo da economia, da política de crédito. O pecuarista familiar do estado tem aversão ao crédito, ao endividamento”.

Para o pecuarista familiar Itamar, é preciso fazer de tudo para produzir em área pequena, cercada pelo agronegócio. “Infelizmente, nossa categoria é pouco assistida e pouco amparada pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural). Já procurei recurso lá e é muita burocracia, eu teria de vender tudo que tenho para me encaixar no módulo que eles queriam para tentar financiamento”, critica. Atualmente ele só se mantém na atividade devido a fontes de renda extras: Itamar e sua esposa também trabalham na cidade.

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Atualmente, segundo a Emater, são em torno de 45 mil famílias vivendo da pecuária familiar no Rio Grande do Sul, mas o número não é confirmado com 100% de certeza, já que cada vez mais pessoas abandonam a atividade. Marcos Borba acredita que por ter relação tão diferente com a natureza, isso acaba se tornando característica extremamente importante, ao dispensar a produção de longa escala e industrializada, produzindo alimento com mais garantias de conservação do ambiente e, consequentemente, mais saudável. “A pecuária familiar pode fazer isso, Mas precisa de um sistema mais eficiente, ou seja, aproveitar melhor o fluxo da natureza. E aí entram a tecnologia e o investimento”, opina.

O pesquisador propõe entender o conjunto de elementos ricos e extremamente ligados à natureza, para construir modelo tecnológico que permita oferece os produtos da pecuária familiar ao mundo contemporâneo. “A gente precisa vencer o desafio da cooperação, encontrar o modelo de tecnologia adequado, mas vencer também os desafios de acesso a mercado, da relação com consumidores”, lista. “Não é uma commodity, não é um produto de escala, assim, para entrar no mercado internacional, é para mercados mais específicos. Esse tipo consumidor quer saber onde produz, quem produz, como é que faz, e isso é possível de construir”, acredita.

Rafael Gloria e Thaís Seganfredo

Editores do site Nonada – Jornalismo Travessia e diretores da agência Riobaldo Conteúdo Cultural. Rafael Gloria é formado em Jornalismo pela UFRGS, com especialização em jornalismo digital pela Puc-RS e mestrado em Comunicação pela UFRGS. Já escreveu para veículos como Jornal Metro, Correio do Povo e Jornal do Comércio. Thaís Seganfredo e graduada em Jornalismo pela UFRGS e já colaborou para veículos como o Jornal do Comércio/RS e a revista Mais Sebrae RS, além de ter experiência com assessoria de comunicação nas áreas jurídica e sindical.

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