ODS 1
Fogo na Amazônia em julho: focos de calor têm aumento de 98% em relação a 2023
Com mais de 11 mil registros, julho de 2024 tem recorde de fogo para o mês em quase vinte anos; bioma concentrou 50,2% das queimadas no país
A Amazônia teve 11.434 focos de calor em julho de 2024, segundo dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um aumento de 98% em relação ao mesmo mês no ano passado (que registrou 5.772 focos de calor). O maior registro de fogo no mês foi 30 de julho, com 1348 registros em um único dia. Julho também teve o maior registro de fogo na Amazônia desde 2005, quando ocorreu o recorde histórico de 19 mil focos de calor para um mês de julho. No estado do Amazonas, o recorde de focos de queimadas é histórico, sendo o maior desde 1998, quando o Inpe iniciou as medições.
O Amazonas foi o estado com maior número de focos de calor, com 4241 registros, recorde histórico para o mês – o uso do fogo no sul do estado está proibido desde o dia 05 de julho; Pará, com 3265 focos, e Rondônia, com 1617 focos, aparecem em segundo e terceiro. lugares. Sobrevoos do Greenpeace Brasil realizados nos últimos dias registrou incêndios no sul do Amazonas e norte de Rondônia. “É preciso abandonar o uso do fogo na pecuária e agricultura, ficando seu uso restrito a povos indígenas, populações tradicionais que historicamente manejam o fogo em áreas muito pequenas e pequenos agricultores que não tem outra opção viável tecnicamente e financeiramente”, afirma o biólogo Rômulo Batista, especialista em campanhas do Greenpeace Brasil.
De acordo com os dados do Inpe, os municípios campeões em focos de calor para o mês foram Apuí e Lábrea, no Amazonas, e Porto Velho, em Rondônia. As terras indígenas que mais concentram focos de calor em julho são as que mais sofrem com garimpo historicamente: TI Munduruku e TI Kayapó. Entre as Unidades de Conservação, a situação é especialmente preocupante no Parque Estadual de Guajará-Mirim, em Rondônia, com 40% dos registros em UCs.
É esperado um aumento nos alertas de de desmatamento e nas queimadas na Amazônia entre julho e outubro, época onde a maioria dos estados passa pelo “verão amazônico”, período em há diminuição da chuva e da umidade relativa do ar e do aumento da temperatura, o que deixa a vegetação mais seca e sujeita ao fogo. “No entanto, cabe lembrar que, mesmo assim, a grande maioria desse fogo tem sua origem por ação humana, seja propositalmente para desmatar ou queimar a floresta no chão, seja por perder o controle da queima de pastos e áreas de agricultura que acabam se espalhando”, explica Batista
O especialista do Greenpeace também alerta que julho é apenas o primeiro mês deste período seco na Amazônia, e que há previsões de uma seca muito severa no bioma em 2024. “Considerando que ainda temos mais três meses de verão amazônico, a situação do fogo e da seca, que já fez três estados decretarem estado de emergência, é de extrema preocupação na Amazônia. A floresta e seus povos ainda não se recuperaram da última grande seca e dos incêndios florestais do ano passado e outra grande seca se avizinha que com muito fogo, pode levar a floresta ainda mais perto do ponto de não retorno”, acrescenta.
Batista lembra que, quanto maior a temperatura, mais vulnerável a floresta e mais sujeita a queimadas ela está – e a temperatura do planeta está batendo recorde a 13 meses consecutivos. “A Amazônia precisa de um planejamento sistemático do bioma, que passa por continuar combatendo o desmatamento e atingir o desmatamento zero o quanto antes, mas também precisamos atuar fortemente na prevenção, no manejo integrado do fogo e criar verdadeiros batalhões de combate a queimadas e incêndios de biomas naturais que sejam estruturados, bem pagos e equipados para esse combate. Locais com difícil acesso, como no Pantanal e na Amazônia, precisam que o Brasil invista em um esquadrão de combate ao fogo, inclusive com aviões de grande porte dando suporte a esse combate. Não adianta termos somente brigadistas em parte do ano na Amazônia”, completa o especialista do Greenpeace.
Escassez hídrica em rios da Amazônia
Na terça-feira (30/07), a seca extrema na Amazônia já havia levado a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) a declarar situação de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos nos rios Madeira e Purus e seus afluentes que correm no sudoeste do Amazonas. De acordo com a agência, “a medida visa a intensificar os processos de monitoramento hidrológico dessas bacias, dos impactos sobre usos da água e propor ações preventivas desses impactos em articulação com diversos setores usuários de água”. A situação de escassez vai valer até o dia 30 de novembro.
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Veja o que já enviamosA Região Norte passa por uma seca que já afeta o abastecimento de água e o transporte aquaviário em diferentes partes da Amazônia. As chuvas acumuladas nas bacias dos rios Madeira e Purus ao longo do período chuvoso, de novembro a abril, foi abaixo da média, tendência que continua no atual período seco. “As anomalias negativas de chuva afetaram os níveis dos rios da região, que se mantêm próximos aos valores mínimos históricos. Como resultado, os usos da água estão sendo impactados, especialmente aqueles que dependem de níveis adequados nos corpos hídricos, como a navegação e a geração hidrelétrica”, alertou a agência reguladora.
A ANA destacou ainda que o transporte aquaviário desempenha um papel crucial no desenvolvimento econômico e social da região amazônica, em especial na Hidrovia do Rio Madeira, no escoamento de cargas da produção agrícola, de alimentos, medicamentos e combustíveis. Os rios também são as principais vias de acesso para muitas comunidades amazônicas, permitindo o deslocamento para serviços essenciais como saúde e educação. “As declarações [Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos] buscam comunicar aos governantes e à população a gravidade da situação de seca na região, permitindo que instituições gestoras e diferentes usuários de recursos hídricos no Rio Madeira e na Bacia do Rio Purus adotem medidas preventivas para mitigar os impactos nos diversos usos da água”, explicou a nota.
Com uma área de drenagem de 1,42 milhão de quilômetros quadrados, das quais 43% estão em território brasileiro e o restante no Peru (7,6%) e Bolívia (49,4%), o período chuvoso na área da Bacia do Rio Madeira se estende normalmente de novembro a abril, enquanto o período seco vai de maio a outubro, sendo outubro um mês de transição. No rio, estão localizadas as usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. O Rio Madeira também serve como importante hidrovia usada para transporte fluvial de carga e passageiros. O trecho navegável de 1.060 km entre Porto Velho e Itacoatiara (AM) transportou de 6.538.079 toneladas em 2022, o que corresponde a 9,2% do total transportado por vias interiores no Brasil. O rio é utilizado ainda para abastecimento de água de Porto Velho.
A Bacia do Rio Purus cobre aproximadamente 368 mil km², com mais de 90% de sua bacia inserida nos estados do Amazonas e Acre e o restante no Peru. O rio tem milhares de lagos distribuídos em uma gigantesca planície de alagamento. As paisagens aquáticas representam cerca de 40 mil km², cuja bacia se localiza inteiramente na zona de florestas tropicais.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade