ODS 1
Emergência climática: jovens brasileiros escrevem a Bolsonaro
Alinhados a movimento mundial, cinco estudantes apelam em carta aberta para que presidente aja para evitar catástrofe futura
Na primeira greve pelo clima, dia 15 de março, eram menos de 10 os jovens no Rio a protestar contra a emergência climática. Nesta sexta feira, 24/05, quando milhões de adolescentes se reuniram nos cinco continentes, seguindo o exemplo de Greta Thunberg, na Suécia, criadora do movimento Fridays for Future, mais jovens brasileiros aderiram. Frances Andrade, Marrye Amorim, Milena Batista, Maria Luiza Kovalski e Nayara Almeida, líderes do movimento no Rio, conseguiram, desta vez, reunir mais de 30 pessoas e escreveram uma carta para o Presidente Jair Bolsonaro, como os futuros ministros do Meio Ambiente, no ano de 2050.
Com a carta, os jovens desejam alertar sobre o destino sombrio para a vida no planeta se o ritmo atual for mantido. “O que me motiva é a negligência e ignorância frente às decisões que estão sendo tomadas para o futuro do meio ambiente. O Brasil é um país megabiodiverso: nossas florestas, biomas e ecossistemas nos fornecem tantos serviços ecossistêmicos, tantos recursos que poderiam ser utilizados de forma sustentável. porém ainda, estamos presenciando o desenvolvimento nada sustentável passando por cima de tudo e de todos. E com isso, as gerações futuras, estarão em apuros”, afirma o engenheiro florestal Frances Andrade, sergipano de 23 anos.
As cariocas Milena Batista, 20 anos e Nayara Almeida, 21 anos, organizadoras da greve dos estudantes no Rio de Janeiro, fizeram a leitura da carta nos degraus da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) para protestar contra a omissão dos parlamentares sobre a crise climática enfrentada pelo planeta. “É muito importante que a juventude vá para as ruas com a gente, porque a gente está sendo afetado, e muito. As chuvas que aconteceram no Rio, a tragédia da Muzema, está tudo relacionado às mudanças climáticas. A gente tem que acordar para o fato de que o governo tem de fazer alguma coisa, e a gente não vai sair da rua até sermos ouvidos”, afirma Milena.
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Veja o que já enviamosAbaixo segue o conteúdo da carta enviada pelos jovens ao Presidente da República:
Ao excelentíssimo Presidente, Sr. Jair Bolsonaro,
Essa carta é um alerta, enviada do futuro, e escrita por nós, os futuros Ministros e Ministras do Meio Ambiente. Quando o Senhor foi eleito, éramos jovens, éramos estudantes. Quem dera o senhor tivesse nos dado ouvidos. Tínhamos coisas urgentes a lhe dizer, e naquele momento, ainda havia tempo para agir, e também, para orientar os seus Ministros e tantos outros parlamentares negacionistas, sobre a iminência da crise climática global.
Enviamos esta carta, escrita em 2050, buscando soar, mais uma vez, um alerta. Em 2019, os sinais que já estão postos; a crise pode soar ainda silenciosa, mas no futuro, não será mais assim. O calor aqui no futuro, se tornou insuportável. As tempestades e enchentes, que em sua época eram tidas como calamidades, hoje, tornaram-se coisas normais do nosso dia a dia. Isso, quando não sofremos das secas infindáveis, que são ainda piores. Esse é o novo normal, Sr. Presidente. Cidades inteiras transformadas; o oceano, avançou e redesenhou as costas do país, fez sumir as praias, e redefiniu para sempre, as fronteiras do nosso Brasil.
Nosso país que era o mais biodiverso do mundo perdeu esse posto. Florestas sumiram, espécies que faziam parte da nossa cultura e da manutenção de nossos ecossistemas se extinguiram. A nossa produção foi afetada drasticamente, e hoje não temos alimentos que sejam suficientes e livres de agrotóxicos para a população. A qualidade do nosso ar ficou ainda pior. Passear ao ar livre, já não é mais possível, sem portar a indumentária telada, própria dessa nova era onde mosquitos regem a cidade, e se multiplicam em ruas poluídas, trazendo novas doenças para a população sofrida. Nossa população teve muitas vidas tiradas, sobretudo as mais pobres e não incluídas na sociedade, até mesmo pelo aumento da violência em decorrência da disputa por comida e água.
Sim, Sr. Presidente: a ânsia pelo crescimento econômico insustentável o fez tomar decisões muito equivocadas. Destruímos o que tínhamos de mais precioso no Brasil, um meio ambiente em equilíbrio, florestas ricas, diversas e prósperas, um multiculturalismo ímpar. É verdade que era necessário crescer, gerar renda, moradia, água, energia, e combater as desigualdades históricas do país. Sim, era necessário. Mas não, não a qualquer custo.
Lembrando Sr. Presidente, esta ânsia pelo crescimento econômico insustentável, na época, somente assombrava o Brasil e o futuro das nossas florestas, nossos Biomas, Ecossistemas, nossa Biodiversidade. Mas era sabido que as Mudanças Climáticas não tinham fronteiras, os problemas ambientais causados pela superexploração em nossas florestas tornaram-se problemas de grande escala, de início, problemas locais e regionais, posteriormente problemas globais. O quanto está sendo difícil consertar tudo isso, na verdade, estamos tentando viabilizar o que nos restou. O que antes era desconhecido, hoje tomou profundas implicações para a vida na Terra.
E não foi por falta de aviso. A ciência estava clara. Os cientistas, povos indígenas e tantas mais populações tradicionais se manifestaram e o alertaram sobre o grito da mãe natureza. Mas o senhor, não ouviu, ou não quis ouvir. O clima mudou, porque nós não mudamos. O planeta está como está, porque líderes como o senhor não agiram enquanto podiam. E é por isso, que escrevemos. Acreditamos que podemos mudar o nosso triste futuro com essa carta.
Cabe ao senhor, ao ler esta carta, dar continuidade a governança ambiental e climática que herdou quando assumiu a liderança do Brasil. Assim como, na época, os ex ministros do meio ambiente expressaram através de uma carta. O senhor pode levar o rumo ambiental do país para frente. Nós, os brasileiros e brasileiras do futuro, lhe perguntamos: tem coisa mais importante do que proteger a vida e assegurar um futuro com qualidade para as próximas gerações? Não, não tem. E os seus filhos, e netos, também irão sofrer as consequências aqui, no futuro. Eles questionarão porque perdestes a chance de potencializar soluções brasileiras, de gerar riquezas a partir da ciência, da biodiversidade e das florestas, e de marcar a presença do Brasil na liderança global para o cumprimento do Acordo de Paris e de outros Acordos Multilaterais, como o Combate à Desertificação e as metas da Conferência da Biodiversidade Biológica.
Rogamos, que não aja como se a crise climática, ecológica e ambiental não estivesse acontecendo, Sr. Presidente. Ela está acontecendo, quer acredite ou não. As evidências estão postas, e isso é maior do que quaisquer posições políticas. Aja agora, e faça com que os seus governantes também o façam. O tempo está se esgotando e as nossas possibilidades de evitar que o futuro de onde lhe escrevemos se concretize, também. Aconselhamos que o Sr. Presidente prefira ser lembrado pelas ações que tomou e não por aquelas que poderia ter tomado.
Pelo futuro do Brasil e pela vida acima de tudo!
Por nós, por todos, pela Teia da Vida que é a Biodiversidade!
Futuros Ministros e Ministras do Meio Ambiente do Brasil
Frances Andrade
Marrye Amorim
Milena Batista
Maria Luiza Kovalski
Nayara Almeida
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Formada em Letras/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense, carioca que não vai à praia, mas vive na floresta e na selva da cidade. Cursando graduação em Jornalismo na UFRJ. Acredita que a leitura e o diálogo transformam o mundo.
Só queria pedir uma correção, não somos líderes do movimento, somos organizadores, e não apenas do movimento no Rio, mas no Brasil todo. Eu, Malu Kovalski, sou do Paraná, por exemplo. Marrye também não é do Rio, assim como o Frances (que vocês colocaram depois que ele é sergipano. Obrigada.