ODS 1
É possível limitar as emissões de CO2
Agências internacionais apontam seis caminhos para alcançar a meta de 2 graus Celsius até 2050
Dois dias após os ministros das Finanças do G20, por pressão dos Estados Unidos, retirarem da declaração final do evento o apoio ao Acordo de Paris sobre mudança climática, a Alemanha mostrou que não desistirá do tema. A pedido do governo alemão, que exerce a presidência da cúpula dos chefes de Estado, que acontecerá em Hamburgo, em julho, a Agência Internacional de Energia (AIE) e a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) elaboraram estudos para mostrar como é possível atingir uma das principais metas do Acordo de Paris: limitar o aumento de temperatura da Terra a menos de 2 graus Celsius até 2050.
[g1_quote author_name=”Fatih Birol” author_description=”Diretor-executivo da AIE” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Em 2050, as emissões de CO2 precisam cair aos níveis de 1960, numa economia 20 vezes maior que a de então, para se atingir a meta do acordo
[/g1_quote]Os resultados dos estudos independentes foram apresentados na terceira edição do Berlin Energy Transit Dialogue, uma conferência com ministros de Estado e representantes de empresas e ONGs do mundo todo, realizado nestas segunda e terça-feira na capital alemã. Apesar do desafio, os diretores de ambas as agências garantem que a empreitada é viável. Em 2050, as emissões de CO2 precisam cair aos níveis de 1960, numa economia 20 vezes maior que a de então, para se atingir a meta do acordo, resumiu o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol. A meta é ambiciosa, mas Birol lembra que as emissões de carbono estão estáveis no mundo desde 2014, enquanto a economia global cresceu 3%. Ele registrou ainda que os países do G20 são responsáveis por 80% da produção e consumo de energia global e por mais de 80% das emissões de CO2.
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Veja o que já enviamosAbaixo listamos seis pontos necessários para se atingir o objetivo do Acordo de Paris, segundo as agências de energia e os participantes da conferência em Berlim.
1) 95% da eletricidade global terá que ser gerada por energia de baixo carbono (nem sempre limpa, como a nuclear), de acordo com o estudo da Agência Internacional de Energia (AIE). Já a Irena, uma agência focada em renováveis, sustenta que até 2050 as fontes limpas – sobretudo sol e vento – devem ser responsáveis por 80% da geração de eletricidade e 65% do fornecimento primário de energia. Hoje esses percentuais são de 24% e 16%.
2) 70% dos carros do mundo terão que ser elétricos. O setor de transportes é um dos principais desafios para a diminuição das emissões de CO2. A venda de carros elétricos aumentou 40% em 2015, mas ainda representa menos de 1% da venda total de carros. A Costa Rica, por exemplo, tem quase toda sua energia gerada por fontes renováveis, mas o setor de transportes é responsável por dois terços das emissões de CO2. Na Alemanha, apesar do bem-sucedido programa de transição energética, a emissão de CO2 continua a aumentar por conta do transporte, responsável por um aumento de 3,4%. A possibilidade de criação de quotas para a produção de carros elétricos já é discutida no âmbito europeu.
3) A intensidade energética (uso de energia em relação ao PIB de cada país) terá que ser reduzida globalmente em 2,5% por ano, em média, até 2050, para que a meta do Acordo de Paris seja atingida. Isso significa que será necessário desenvolver tecnologias que promovam a eficiência energética, para que que menos energia seja necessária para a economia funcionar. De acordo a AIE, a intensidade de energia global caiu 2,1% em 2016, mas a meta de 2,5% corresponde a cerca de três vezes mais do que se viu nos últimos 15 anos.
4) Investimentos de cerca de US$ 3,5 trilhões por ano até 2050, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), num total de US$ 119 trilhões; e de US$ 29 trilhões além dos US$ 116 trilhões já anteriormente previstos, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável. São números alarmantes, mas as agências ressaltam que eles correspondem a apenas 0,3% a 0,4% do PIB global previsto para 2050, além de representarem benefícios para a saúde pública e uma oportunidade de novos negócios.
“Se for investido o que a agência propõe, haverá geração de seis milhões de empregos até 2050”, sustentou HenningWuester, diretor de Conhecimento, Políticas e Finanças da Irena, que prevê um incremento de 0,8% do PIB global. O vice-chanceler e Ministro do Exterior da Alemanha, Sigmar Gabriel, também sustentou que “crescimento econômico e energia renovável são faces da mesma moeda”.
5) Atração do consumidor. “O consumidor é o principal meio de atingir nosso objetivo”, afirma o alemão Philipp Schroeder, da Sonnen, que cria tecnologias para o uso de energia solar em casas e apartamentos. “As empresas precisam oferecer tecnologia convincente e sexy. Todo mundo adora energia renovável, mas precisamos torná-la fácil, acessível”, sustenta, dando o exemplo da Alemanha, onde qualquer cidadão pode participar da produção de energia do país, com incentivos para tanto.
6)) Liderança política. Esta foi uma das expressões mais ouvidas durante a conferência em Berlim. “A maior parte dos governos está administrando os países em vez de liderá-los. O resultado é extremismo e populismo. A liderança não deve dizer o que as pessoas precisam fazer, mas sim explicar por que elas devem fazer”, disse o suíço Bertrand Piccard, um dos dois pilotos que em 2016 deram uma volta ao mundo num avião movido apenas por energia solar.
A importância de líderes no processo de mudança energética também foi destacada por Cornie Huizenga, secretário-geral da Partnership on Sustainable Low Carbon Transport, uma rede de instituições em torno do transporte sustentável: “Ouvimos a todo tempo exemplos de comportamentos que devem ser evitados ou estimulados. Mas soluções energéticas melhores não bastam. Só com forte liderança política podemos criar uma mudança de comportamento”.
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Jornalista carioca, trabalhou por 12 anos no jornal O Globo, onde foi repórter e editora assistente do Segundo Caderno e repórter do suplemento Prosa. Atualmente vive em Berlim, onde desenvolve um projeto de entrevistas com imigrantes turcos. Tem mestrado em Relações Internacionais pela PUC-Rio e é autora do livro "A imigração na União Europeia: Uma leitura crítica a partir do nexo entre securitização, cidadania e identidade transnacional" (EDUEPB, 2014).