ODS 1
Desmatamento cai 30,6% na Amazônia e 25,8% no Cerrado
Dados do Sistema Prodes do Inpe apontam maior queda percentual na Amazônia em 15 anos e primeira redução no Cerrado em cinco anos
O desmatamento na Amazônia Legal, no período de agosto de 2023 a julho de 2024, alcançou 6.288 quilômetros quadrados (km²), valor que representa uma redução de 30,6% em relação ao ano anterior (2022/2023), de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os dados são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), sistema mantido pelo Inpe que faz uma apuração anual da supressão florestal nos nove estados que compõem a Amazônia Legal.
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A taxa oficial de desmatamento do Cerrado, o segundo maior bioma do país, registrou redução pela primeira vez nos últimos cinco anos, também de acordo com os dados do sistema Prodes: a supressão da vegetação nativa foi de 8.174 quilômetros quadrados (km²), no período entre agosto de 2023 e julho de 2024 – uma redução de 25,8%. Cerca de 76% desse desmatamento segue concentrado em quatro estados: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados que formam o acrônimo Matopiba, principal fronteira agropecuária do Cerrado na atualidade.
Os dados foram anunciados nesta quarta-feira (6/11) em ato no Palácio do Planalto, com a presença da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, além do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “Essa diminuição do desmatamento no Cerrado e na Amazônia é fruto de uma nova compreensão de que nós estamos fazendo mais do que uma política de governo, nós estamos fazendo uma política de país, mais do que uma política de país, uma política de Estado e uma contribuição para nós mesmos e para o mundo. O problema da mudança do clima já é uma realidade avassaladora. Isso é uma esperança”, destacou Marina Silva, citando eventos climáticos extremos, como geadas na África, enchentes na Espanha e ondas de calor em outros países da Europa.
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Veja o que já enviamosO monitoramento do Prodes – tanto na Amazônia quanto no Cerrado – é feito no intervalo de agosto de um ano até julho do ano seguinte, entre as estações mais secas nos dois biomas, e é considerado resultado mais confiável pelos cientistas, em que a detecção por satélite alcança precisão de 10 metros sobre corte raso e desmatamento por degradação progressiva, como incêndios. Com o resultado, houve uma redução nas emissões de gases de efeito estufa de 400,8 milhões de toneladas de CO2 e por desmatamento na Amazônia e Cerrado em relação ao ciclo 2021/22. “Pegando os dois anos (2023 e 2024) é 45,7% a redução do desmatamento na Amazônia. No Cerrado, depois de 5 anos, ininterruptamente subindo, o desmatamento cai, invertendo a curva”, destacou Alckmin, em entrevista à TV Brasil.
Amazônia com segunda queda consecutiva
Na Amazônia, com o resultado, o desmatamento representa o menor valor percentual em 15 anos, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Em termos de área desmatada, o valor medido agora na Amazônia é o menor desde 2015 (6.207 Km²). “Conseguimos resultados importantes no ano passado e este ano, novamente, um resultado altamente significativo”, avaliou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, no anúncio dos resultados no Palácio do Planalto.
A ministra destacou a redução do desmatamento na Amazônia de 45% em dois anos. “Política pública bem desenhada, instituições públicas bem estruturadas, uma postura republicana de deixar os técnicos trabalhar, de dialogar com a ciência: isso faz a diferença”, afirmou a ministra. “É possível fazer o enfrentamento da mudança no clima, evitando os efeitos indesejáveis, com o enfrentamento efetivo ao desmatamento, que é o maior fator de emissão, mas gerando emprego e renda para as pessoas”, acrescentou.
O Observatório do Clima destacou, em comunicado, que os 6.228 km em 2023/2024, o desmatamento na Amazônia retorna aos patamares pré-impeachment e põe o Brasil no rumo correto para cumprir sua NDC, a meta climática estabelecida para 2025 no Acordo de Paris. A organização ambiental destacou que uma redução dessa magnitude não era observada desde 2009, quando o ritmo da devastação da maior floresta tropical do mundo caiu 42%. Apenas em 1990 (38%), 1996 (37%) e em 2005 (35%) foram vistas reduções maiores da taxa, dada pelo sistema Prodes.
Para a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, os números são um trunfo do país e uma vitória para o presidente Lula e sua ministra Marina Silva e mostram que o Brasil aprendeu a reduzir desmatamento na Amazônia. “O mundo precisa de um líder na agenda de clima, e o governo Lula tem todas as chances de assumir esse papel. Compromissos pelo fim do desmatamento e a eliminação do uso de combustíveis fósseis são o passaporte para essa liderança”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Os números de desmatamento de 2024 são uma enorme credencial para o Brasil, mas é preciso ir além. Precisamos de ambição e ousadia”, enfatizou.
Apesar da queda no desmatamento ter sido celebrada por organizações da sociedade civil, houve cobranças por melhorar ainda mais esses resultados. “Uma queda significativa no desmatamento da Amazônia pelo terceiro ano consecutivo é sem dúvida uma boa notícia, porém não é suficiente diante do tamanho dos desafios climáticos e de preservação da biodiversidade que enfrentamos. Não podemos esquecer que 2024 foi um ano de diversas tragédias climáticas no Brasil. E se quisermos evitar os piores cenários de eventos extremos no país, como o que aconteceu no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal, precisamos garantir que a queda no desmatamento seja mantida e acelerada nos próximos anos”, ponderou Mariana Napolitano, diretora de estratégia do WWF-Brasil.
Em relação aos estados, a melhor taxa de redução foi medida em Rondônia, com queda de 62,5% do desmatamento, seguido pelo Mato Grosso (-45,1%), informou o Inpe. Pará (-28,4%) e Amazonas (-29%) também tiveram quedas. Já Roraima registrou aumento de 53% no desmatamento ao longo do último período analisado. Entre os 70 municípios mais prioritários para o combate ao desmatamento na Amazônia, 78% deles tiveram redução na supressão de floresta, segundo o MMA. Outros 23% tiveram aumento na derrubada florestal.
Cerrado registra primeira redução em cinco anos
No Cerrado, a taxa oficial de desmatamento, medida pelo Sistema Prodes, do Inpe, foi de 8.174 km², entre agosto do ano passado e julho deste ano: queda de 25,7% em relação ao período de agosto de 2023 a julho de 2024, a primeira redução do desmatamento em quatro anos no bioma. “O dado que acabamos de ver aqui, de queda do desmatamento no Cerrado, que para muitos seria impossível, começa a ganhar fôlego cada vez mais, inclusive com a participação do setor privado”, celebrou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Apesar de 76% desse desmatamento estar concentrado na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o Prodes, no entanto, registrou uma queda significativa de desmatamento, na comparação 2023/2024 com o período imediatamente anterior, também nesses estados. Na Bahia, o caso mais positivo, a redução foi de 63,3%: houve quedas também no Maranhão (15,1%), no Piauí (10,1%) e no Tocantins (9,6%).
Para organizações ambientalistas, o patamar do desmatamento no Cerrado ainda está muito elevado e deve ser motivo de atenção especial do governo. “Apesar da tendência de redução confirmada pelo Prodes, os números da destruição ainda permanecem em patamares elevados quando comparamos com a série histórica”, advertiu Daniel Silva, especialista em conservação do WWF-Brasil, em entrevista à Agência Brasil. “Em grande parte, o desmatamento no Cerrado ocorre em propriedades privadas, o que evidencia a necessidade urgente de um maior engajamento do setor produtivo. A pressão econômica sobre este bioma, principalmente pela expansão das atividades relacionadas às commodities, aliado a uma legislação ambiental ainda frágil e pouco efetiva, torna a situação ainda mais crítica”, acrescentou.
No evento no Palácio do Planalto, a ministra do Meio Ambiente também assinou um pacto entre o governo federal e os governos estaduais do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O objetivo é reforçar a ação conjunta na prevenção e combate ao desmatamento e incêndios na região, em uma articulação que vem sendo construída desde março. Segundo o MMA, a parceria “busca aumentar a atuação coletiva para identificar e aplicar sanções ao desmatamento ilegal em imóveis rurais da região, além de aprimorar as regras e processos para garantir transparência, compartilhamento de informações e formulação de estratégia para a conservação da água e dos ativos florestais de vegetação nativa nos diferentes ecossistemas do Cerrado no Matopiba”.
O governo federal também atribui a queda medida pelo Prodes à intensificação das ações de fiscalização no Cerrado e também na Amazônia Legal. De janeiro de 2023 a outubro de 2024, a média de multas aplicadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento e queimadas ilegais foi 98% maior que a registrada de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. No Cerrado, o aumento foi de 20% ao ano.
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade