A passagem de um tornado com ventos de mais de 250 km/h na sexta-feira (7), na região centro-sul do Paraná, deixou ao menos seis pessoas mortas; outras 432 ficaram feridas e receberam atendimento médico. Cinco mortes foram registradas em Rio Bonito do Iguaçu, a cidade mais atingida, e uma no município de Guarapuava, a mais de 100 quilômetros de distância. A Defesa Civil ainda procura desaparecidos.
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O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) informou que o tornado atingiu o índice EF3, numa escala que vai até cinco. O meteorologista Samuel Braun, do Simepar, afirmou ao G1 que, em 23 anos como meteorologista, esse foi o evento mais forte que presenciou. “Foi bastante devastador”, lamentou. Não há registros anteriores no Paraná de tornados com velocidade de 250 quilômetros por hora, a máxima registrada pelos sistema no tornado de sexta-feira, no mesmo dia em que a Cúpula dos Líderes da COP30 debata, entre outros assuntos, adaptação climática.
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Veja o que já enviamosO tornado se formou devido a um ciclone extratropical que atinge o sul do país e também provocou chuva forte e estragos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No Sudeste, os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro estão em alerta. Os ventos fortíssimos arrancaram árvores e postes devastaram casas. Mais de mil pessoas estão desabrigadas. Bombeiros e agentes da Defesa Civil buscavam sobreviventes sob escombros, na manhã deste sábado.
A Defesa Civil informou que 80% do município de Rio Bonito do Iguaçu – com cerca de 14 mil habitantes e a 400 km de Curitiba – ficou destruído. Um hospital de campanha foi montado no município para atender a demanda. Mais da metade das residências está sem energia elétrica. “O cenário é de muita destruição. Estamos trabalhando para atender as famílias e organizar o socorro com apoio de todo o Estado”, declarou o prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Sezar Bovino.
Segundo o governo do Paraná, fortes rajadas de vento e chuvas fortes foram registradas em várias cidades do estado, causando estragos: cerca de 60 mil imóveis ainda estavam sem energia no estado na madrugada de sábado. Em pelo menos outras seis cidades, a velocidade dos ventos passou de 70 quilômetros por hora: Dois Vizinhos (82,4 km/h às 19h), Cornélio Procópio (76 km/h às 20h30), Campo Mourão: 74,2 km/h às 21h30; Candói (73,1 km/h às 17h), Planalto (70,9 km/h às 15h) e Palmas (70,6 km/h às 18h45).
A estudante Julia Kwapis, de 14 anos, é uma das seis pessoas que morreram durante a passagem do tornado. Ela estava na casa de uma amiga, em Rio Bonito do Iguaçu, no sudoeste do estado, quando foi arrastada pelas rajadas de vento. Ferida, a adolescente foi levada ao Hospital São José, em Laranjeiras do Sul – cidade a aproximadamente 18 quilômetros de distância -, mas não resistiu. As outras cinco vítimas fatais são quatro homens (de 49, 57, 60 e 83 anos), e uma mulher de 47 – suas identidades ainda não haviam sido divulgadas na manhã deste sábado.
Velocidade inédita em tornado atípico
O Simepar explicou que a cidade foi atingida por uma tempestade do tipo supercélula, que é caracterizada pela presença de um mesociclone, uma corrente de ar ascendente girando no interior da nuvem. Segundo o meteorologista Samuel Braun, a principal diferença do tornado em relação a uma tempestade comum é a rotação do vento.
Outros fatores também colaboraram para a formação de um tornado atípico pela velocidade dos ventos. “O ambiente atmosférico estava muito úmido, aquecido. Há também outros fatores, por exemplo, como a diferença dos ventos entre a superfície e os níveis mais elevados da atmosfera. Nós chamamos na meteorologia de cisalhamento. Então, esse cisalhamento estava extremamente elevado. São vários fatores que contribuíram para a formação dessas tempestades e do tornado nessa cidade”, disse Braun na entrevista ao G1.
A temperatura de 34,5°C registrada na sexta-feira na região foi a temperatura mais alta do ano na primavera e a temperatura mais alta para o mês de novembro desde o início da operação da estação de Guarapuava em 2001, informou o Simepar. Ao mesmo tempo, massa de ar frio avançava pelo Nordeste da Argentina. Meteorologistas haviam alertado que sistema linear de tempestades, causada por essa conjunção de fatores climáticos traria risco de tornados e microexplosões.
