COP30 terá que enfrentar a urgência da adaptação climática

Negociadores fizeram lista de 100 indicadores e acreditam na aprovação dos temas já nos primeiros dias da Conferência do Clima em Belém

Por Liana Melo | ODS 13
Publicada em 5 de novembro de 2025 - 11:42  -  Atualizada em 5 de novembro de 2025 - 12:32
Tempo de leitura: 6 min

Bancos de areia avançam pelo leito do Rio Negro: seca extrema na Amazônia é sinal da urgência da adaptação climática na COP30 (Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace – 04/10/2024)

(De Belém) – Um cada cinco pessoas no mundo são afetadas diariamente pela mudança do clima. Os impactos atingem a todos, mas alguns segmentos sociais são mais afetados do que outros: mulheres, comunidades tradicionais, afrodescendentes e grupos de baixa renda são os principais alvos.  Um guia do Instituto Talanoa mostra que os países em desenvolvimento enfrentam uma mortalidade sete vezes maior por desastre relacionados ao clima em comparação aos países ricos.  Não à toa, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, já disse que “o apoio à adaptação e à resiliência é um imperativo moral, econômico e social”.

Durante todo o período de preparação da COP30, o presidente da conferência, Andre Correa do Lago, insistiu sobre a urgência do tema.  Na oitava carta, foi taxativo ao afirmar que “sem adaptação, a mudança do clima se torna um multiplicador da pobreza, destruindo meios de subsistência, deslocando trabalhadores e aprofundando a fome”. E concluiu escrevendo que “à medida que os impactos se intensificam, a inação não representa uma falha técnica, mas uma escolha política sobre quem vive e quem morre”.

Não adianta nada ter uma lista de indicadores, em uma planilha de Excel, que não saem do papel porque os países não conseguem implementar por falta de recursos

Daniel Porcel
Especialista em Políticas Climáticas do Instituto Talanoa

É fato que a realidade vem se impondo, cada vez de forma mais violenta. No Rio Grande do Sul, temporais. No Pantanal, queimadas. Na Amazônia, seca recorde. Na Europa, ondas de calor. Na América do Norte, furações. Na Ásia, tufões. A expectativa de quem vem acompanhando as negociações desde o início é que os indicadores de adaptação venham a ser aprovados já nos primeiros dias da COP30.  Nos últimos dois anos, foram discutidos um total de 10 mil indicadores de adaptação, que foram diminuindo, diminuindo até serem condensados num total de 100.

Só que a reunião em Bonn, onde ocorreu a pré-COP em junho último, acabou sem consenso em torno dos indicadores. O motivo foi o trivial, como ocorre em todas as negociações sobre as mudanças climáticas: quem paga a conta. “Os países desenvolvidos querem flexibilizar o conceito básico do Acordo de Paris, que diz que as responsabilidades são comuns, porém diferenciadas”, explicou Daniel Porcel, especialista em Políticas Climáticas no Talanoa. Como observador, ele acompanha as discussões sobre o tema na COP30 e explica que esse conjunto de países se recusam a pagar a conta.

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A demanda dos países em desenvolvimento é básica: se não tiverem acesso a dinheiro barato, com juros baixos, serão obrigados a deslocar recursos de áreas como saúde e educação para bancar a adaptação.  “Não adianta nada ter uma lista de indicadores, em uma planilha de Excel, que não saem do papel porque os países não conseguem implementar por falta de recursos”, comentou Porcel.

A reivindicação dos países em desenvolvimento é triplicar o financiamento à adaptação até 2030, passando para US$ 120 bilhões. A meta que fora estipulada em Glasgow, onde ocorreu a COP26, termina este ano – o que não tem o apoio dos países desenvolvidos e o tema do financiamento à adaptação segue sendo um dos temas mais espinhosos da arquitetura climática. “Mesmo que essa meta venha a ser atingida, ela vai representar apenas 10% da necessidade”, afirma Porcel, comentando que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris vem sendo usado com pretexto para justificar a falta de disposição dos países desenvolvimentos em contribuir com mais recursos financeiros.

A justificava, comenta Porcel, não se sustenta, quando se analisa a trajetória do financiamento à adaptação: “Tivemos uma queda de US$ 2 bilhões no volume de recursos de 2022 para 2023, caindo de US$ 28 bilhões para US$ 26 bilhões”. Cálculos indicam que o valor necessário para suprir as necessidades de adaptação é de US$ 300 bilhões anuais.

Distribuídos em metas temáticas e transversais, esse conjunto de indicadores vai de habitação a infraestrutura, passando por saúde e cultura. A adaptação pode envolver mudanças em práticas, infraestruturas e políticas para mitigar os efeitos negativos e aproveitar oportunidades que possam surgir devido às alterações climáticas. Adaptação é meio, resiliência é fim. Porcel defende que o enfrentamento às desigualdades raciais, de gênero, geracionais, sociais, regionais e territoriais precisam levar em consideração a interseccionalidade.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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