Ser organizado é ser sustentável

Roupas espalhadas, gavetas abarrotadas e prateleiras mal arrumadas: caminho para o desperdício

Bagunça em casa estimula compra de produtos desnecessários

Por Katharina Farina | ODS 12ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 4 de janeiro de 2016 - 09:04 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:52

Roupas espalhadas, gavetas abarrotadas e prateleiras mal arrumadas: caminho para o desperdício

Quantas vezes você já comprou algo e depois descobriu que tinha em casa? Algo durável, que ocupa espaço na sua casa e que, daqui a alguns anos, estará num lixão? Quanto maior a bagunça na sua casa, maior a chance de isso acontecer. Mas a bagunça não é só o que está à vista. Objetos se escondem nas gavetas da escrivaninha, nas prateleiras abarrotadas ou em armários de uma casa que parece arrumada.

O verdadeiro motivo da bagunça é o excesso – essa é opinião de Priscila Saboia, autora do blog Reorganize: “Normalmente, um local desorganizado tem coisas acumuladas. Ter muitas coisas, ainda que você tenha espaço para guardá-las, demanda cuidado e administração. Só que administração é tempo, e tempo é dinheiro”, ela diz.

Priscila faz parte de uma nova geração de profissionais, os personal organizers. Pessoas contratadas para tratar um sintoma do mundo moderno, o acúmulo, que ela define como “tudo que está guardado no fundo de um armário que você ganhou ou comprou por impulso, não lembra quando usou e não te provoca nenhuma lembrança feliz”.

A felicidade é um dos principais objetivos de quem trabalha com organização. No livro “A mágica da arrumação”, Marie Kondo mostra a metodologia que desenvolveu ao longo de anos. Ela faz os clientes reunirem todos os objetos que têm, categoria por categoria, segurarem cada item e se perguntarem: “isso me traz alegria?”. Em vez de pensar se pode jogar aquilo fora, a pessoa precisa ponderar por que quer ficar com aquele objeto.

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Acúmulo é tudo que está guardado no fundo de um armário que você ganhou ou comprou por impulso, não lembra quando usou e não te provoca nenhuma lembrança feliz

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O livro chegou ao topo da lista de best sellers do “New York Times” na categoria autoajuda. Sim, autoajuda, pois a autora defende que a organização da casa é só o começo. Depois de repetir o processo com todos os objetos que possui, a pessoa treina a capacidade de tomar decisões – e aprende a identificar suas paixões. “Quem não consegue tomar decisões , em geral, não tem confiança em si próprio. Sei disso por experiência própria. O que me salvou foi a organização”, escreveu Marie.

A proposta da personal organizer é válida, mas levanta uma questão: os objetos deveriam nos trazer alegria? Marie esclarece, mais para o fim do livro, que sempre teve dificuldades para se relacionar com outras pessoas, fazendo com que ela se “apegasse exageradamente às coisas”. Ela personifica objetos no dia a dia: agradece às roupas que tem depois que as usa, pede desculpas quando maltrata algo e parabeniza os objetos depois do uso. E incentiva os leitores a fazerem o mesmo.

Será que essa postura é saudável? Por um lado, sim, pois é uma forma de valorizar o que temos. Um dos legados deixados pela organização é perceber o que precisamos para viver, e passar a comprar menos, de acordo com Marie, que admite já ter feito muitas compras para relaxar. Ela aponta a organização como a chave para reduzir o consumo.

Por outro lado, pode-se dizer que a autora defende o apego emocional a objetos, em vez de usá-los como as ferramentas que são. Uma roupa, um celular, um carro – cada um tem uma função. No momento em que eles ganham outra função, a de trazer felicidade, o objetivo inicial dessas coisas pode ficar em segundo plano. Aí, caímos no acúmulo de objetos sem necessidade e voltamos à estaca zero. A solução é, sim, colocar cada objeto em seu lugar, mas não apenas num espaço físico: no lugar que ele merece em nossas vidas.

Katharina Farina

Carioca fascinada pelas novas formas de comunicação que surgem a cada dia. Se formou na PUC-Rio, onde descobriu as paixões por infografia e jornalismo científico.

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