Pesquisas da UFPR usam vespas para conter praga de lagartas

Pesquisadoras do Laboratório de Controle Integrado de Insetos foram premiadas por apontarem para controle biológico que pode até abolir uso de pesticidas

Por Revista Ciência UFPR | ODS 12ODS 4 • Publicada em 29 de setembro de 2019 - 08:24 • Atualizada em 1 de outubro de 2019 - 18:52

A pesquisadora Tamara Takahashi no Laboratório de Controle Integrado de Insetos da UFPR: identificação de novas pragas de lagartas e novas espécies de vespas (André Filgueiras/UFPR)
A pesquisadora Tamara Takahashi no Laboratório de Controle Integrado de Insetos da UFPR: identificação de novas pragas de lagartas e novas espécies de vespas (André Filgueiras/UFPR)
A pesquisadora Tamara Takahashi no Laboratório de Controle Integrado de Insetos da UFPR: identificação de novas pragas de lagartas e novas espécies de vespas (André Filgueiras/UFPR)

Amanda Miranda*

Duas pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Controle Integrado de Insetos, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), identificaram soluções para eliminar os problemas da lavoura sem abuso de pesticidas. Os estudos das pesquisadoras Tamara Takahashi e Magda Fernanda Paixão, ambas do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Produção Vegetal, foram premiados como destaques, em primeiro e o terceiro lugar, respectivamente, no Simpósio Nacional de Controle Biológico. As pesquisas se alinham por apontarem para o futuro, buscando soluções que deem conta de lidar com novas pragas e com a resistência ao gene Bt, utilizado para eliminar as lagartas que danificam a produção agrícola: as duas pesquisam vespas para reduzir o dano das pragas.

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Em alguns casos, com as técnicas de manejo adequadas, o controle biológico pode abolir o uso de pesticidas

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De acordo com o professor Luís Amilton Foerster, que orienta as duas pesquisas, a proposta é justamente se antecipar aos eventuais problemas que devem aparecer com o uso, em larga escala, dos cultivos transgênicos. Ele explica que o gene BT, inserido em plantas como a soja e o milho, funciona apenas em espécies suscetíveis à proteína tóxica. Para as lagartas naturalmente tolerantes ou resistentes, portanto, seria necessário pensar em outra solução.

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Segundo o professor, o uso de componentes químicos, além de mais caro, representa um risco ambiental e à saúde. O controle biológico, ao contrário, utiliza a própria natureza como matéria-prima para reduzir os danos das pragas. Caso bem aplicado, ele pode reduzir em até 50% a necessidade de aplicação de inseticidas. “Em alguns casos, com as técnicas de manejo adequadas, o controle biológico pode abolir o uso de pesticidas”, explica Tamara Takahashi.

Magda Paixão no laboratório da UFPR: pesquisa usou microvespas para obtenção de parasitóides mais eficientes, contra as larvas da lagarta, utilizando como hospedeiros ovos de mariposas (Foto: André Filgueira/UFPR)
Magda Paixão no laboratório da UFPR: pesquisa usou microvespas para obtenção de parasitóides mais eficientes, contra as larvas da lagarta, utilizando como hospedeiros ovos de mariposas (Foto: André Filgueira/UFPR)

O estudo de Tamara envolveu a identificação de novas pragas em duas safras de soja. A pesquisa registrou um aumento de 60 para 250 lagartas coletadas de 2017 para 2018, mas também antecipou a solução. A pesquisadora conseguiu identificar cinco novas espécies de vespas que parasitam os ovos das lagartas, eliminando-os. Os dados de uma delas, ainda em fase de taxonomização – descrever as espécies e catalogá-las para que outros cientistas possam trabalhar com elas -, surpreenderam positivamente a equipe, que desenvolve essa etapa da pesquisa em parcerias com pesquisadores da Argentina e da Inglaterra.

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O que nós fazemos é inovador porque estamos pensando lá na frente, em soluções que possam ser viáveis para um problema que já está ocorrendo

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Ovos mais produtivos e resistentes

O estudo de doutorado e pós-doutorado de Magda Paixão segue na mesma direção: a busca de um controle biológico eficiente, que ofereça soluções antes que os danos e prejuízos aos produtores seja maior. No caso dela, o objeto estudado são as microvespas de nome Trichogramma, e sua pesquisa trabalhou com a obtenção de parasitóides mais eficientes, utilizando como hospedeiros ovos de mariposas maiores, que se revelaram resistentes ao armazenamento em nitrogênio líquido por até um ano.

Segundo a pesquisadora, com essa técnica de estocagem será possível produzir, em larga escala, vespas com maior potencial de buscarem e se alojarem nos ovos das lagartas, e com mais longevidade. Isso seria uma alternativa às vespas produzidas em ovos de baixo valor nutricional obtidos de pequenas mariposas, uma solução já em uso pela indústria.

Magda reforça que vespas de maior qualidade e longevidade favorecem à adaptação ao ambiente, o que também contribui para a redução do uso de pesticidas na agriculturl. “O que nós fazemos é inovador porque estamos pensando lá na frente, em soluções que possam ser viáveis para um problema que já está ocorrendo”, explica Foerster, que vai compartilhar o sobrenome com o da nova espécie de vespa identificada no Laboratório. “É uma homenagem ao professor”, conta Tamara.

*Secom/UFPR

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