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Veja o que já enviamosA pesquisa é uma estratégia para reduzir os impactos do aquecimento global e da indústria de mineração, e poupar recursos naturais, pois utiliza o lodo de caulim que é depositado no meio ambiente
[/g1_quote]Os projetos vencedores focam em alternativas sustentáveis que impactam a vida das pessoas e do meio ambiente, reaproveitando materiais já existentes. As etapas classificatórias do concurso aconteceram em Fortaleza, na Universidade Federal do Ceará (UFCE), e em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O escolhido pelo júri como o vencedor do FWL Fortaleza foi Micael da Silva, graduando em engenharia civil do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), que apresentou projeto voltado a reduzir as emissões de CO2 pela indústria do cimento. Ele propõe o uso do resíduo do processo de beneficiamento do caulim, uma argila branca formada essencialmente por materiais sílico-aluminosos.
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A ideia foi apresentar um projeto com alternativas sustentáveis. “Minha proposta se insere na discussão sobre as crescentes emissões de CO2 no mundo e na questão dos impactos ambientais e sociais que são causados pela mineração na Amazônia. Deste modo, é uma estratégia para reduzir os impactos do aquecimento global e da indústria de mineração, e poupar recursos naturais, pois utiliza o lodo de caulim que é depositado no meio ambiente”, afirma Micael Rubens da Silva.
O caulim é amplamente utilizado pela indústria do papel, indústria cerâmica, pigmentos em tintas e refratários. “Entretanto, o processo gera resíduos (como o lodo de caulim) que são depositados em barragens ou lagoas de decantação na Amazônia, gerando impactos ambientais. Desse modo, a partir do tratamento térmico do lodo de caulim é possível produzir um material com propriedades reativas que o tornam adequado para produzir cimentos com características tão boas quanto o cimento disponível no mercado”, explica o pesquisador do Instituto de Tecnologia da UFPA.
[g1_quote author_name=”Victor Freitas” author_description=”Professor da Universidade Federal de São João Del Rey” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A lignina é como tijolos que enviamos para outras fábricas, que por sua vez os conectam e os transformam nos produtos de que precisamos. Conseguimos retirar essas moléculas de fontes renováveis, como o bagaço de cana e a monocultura de soja
[/g1_quote]O amazonense Victor Freitas, professor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais, venceu o FWL Belo Horizonte propondo o aproveitamento da estrutura molecular da lignina, um composto existente nos caules e rizomas de plantas, como a cana-de-açúcar. A lignina é um tipo de polímero vegetal e pode ser usada na produção de materiais biodegradáveis, que vão desde medicamentos a peças de veículos, substituindo produtos oriundos do petróleo. “A lignina é como tijolos que enviamos para outras fábricas, que por sua vez os conectam e os transformam nos produtos de que precisamos”. O problema é que a maioria dessas moléculas aromáticas tem origem nos combustíveis fósseis: “Existe a possibilidade de solução porque conseguimos retirar essas moléculas de fontes renováveis, como o bagaço de cana e a monocultura de soja”, destaca o pesquisador.
O projeto de Victor Freitas segue por dois ramos. Primeiro, o objetivo é quebrar a estrutura da lignina para extrair as moléculas aromáticas. Segundo, em casos em que não é possível ou necessário quebrar a molécula, busca-se funcionalizá-la para que aja como reforço em misturas, como concreto e asfalto, por exemplo. Por ser recalcitrante, a molécula resiste a ataques químicos e a processos físicos. “Ao longo da era evolutiva, a lignina foi ‘desenhada’ para ser recalcitrante; ela é a armadura da planta e exerce essa função maravilhosamente bem”, completa Victor.
Na competição de Belo Horizonte, o segundo lugar ficou para Júlia Cordeiro, da UFMG, com pesquisa do tratamento de águas residuárias, provenientes do descarte inadequado de rejeitos ricos em nutrientes (nitrogênio e fosfato) como o esgoto e lixiviados de aterro sanitário e agrícola. A terceira colocada foi a professora e pesquisadora Maria Clara Starling, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, com estudo sobre a aplicação de processos oxidativos solares no combate à resistência antimicrobiana.
O segundo lugar da etapa em Fortaleza ficou para o pesquisador cearense e doutor em Biotecnologia, Felipe de Sousa, da UFC, com pesquisa sobre uso de biomateriais para acelerar o processo de cicatrização de feridas crônicas em pacientes que ficam muito tempo acamados durante tratamento hospitalar. A terceira colocação foi para a doutoranda Ana Flávia Laureano, da Universidade Federal do ABC, com a proposta de aliar biologia molecular e nanotecnologia para o tratamento de doenças de pele.
Ao todo, 103 pessoas de todo o Brasil inscreveram-se para os FWL de Belo Horizonte e Fortaleza. Para a etapa cearense, 16 foram convidados e, para a mineira, 15. Cada um fez uma apresentação de três minutos, em inglês. Composto por especialistas da academia, da imprensa e do sistema de inovação, o júri avaliou os candidatos com base em três critérios: o potencial inovador da ideia, impacto e relevância e a qualidade da apresentação. O concurso e os eventos são promovidos pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH) e pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD).
Além do concurso e da conferência, os vencedores brasileiros poderão participar, na Alemanha, de um treinamento de pitch (apresentação rápida) e de atividades da campanha Research in Germany, do Ministério da Educação e Pesquisa, que deverá incluir a visita a centros de pesquisa e empreendedorismo em Berlim. Os dois ainda terão a chance de visitar uma instituição de pesquisa ou inovação de sua livre escolha em qualquer país da União Europeia, graças ao prêmio adicional da Euraxess Brazil.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.
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