Formada em Biotecnologia pela Universidade Federal da Bahia, onde entrou aos 17 anos, antes mesmo de completar o ensino médio, ela ganhou uma bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para desenvolver sua pesquisa: desde 2013, foram criadas 10 versões distintas do Aqualuz até Anna Luisa chegar à tecnologia atual, que purifica água não-potável usando a luz solar, sem produtos químicos ou filtros descartáveis. “Meu propósito é levar o direito básico à água limpa para as comunidades carentes nas áreas rurais. Queremos ajudar a melhorar a vida das pessoas e salvar vidas”, disse a baiana de 21 anos à ONU News.
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De acordo com as Nações Unidas, as doenças diarreicas estão entre as principais causas de morte em todo o mundo, sendo diretamente ligadas à falta de água potável e à falta de saneamento e acesso à higiene. Esses problemas atingem principalmente populações jovens, vulneráveis ou que vivem em zonas rurais remotas. Anna Luisa e seu Aqualuz foram escolhidos porque a invenção é de baixo custo, fácil manutenção e pode durar até 20 anos. Embora tenha sido testada apenas no Brasil, o dispositivo, na avaliação da própria ONU, tem potencial para ser aplicado em outros países. No Nordeste, o Aqualuz já distribuiu água potável para 265 pessoas e alcançará mais 700 ainda este ano.
Anna Luisa também acredita no potencial de seu sistema. “A gente não esperava o prêmio, foi uma grande surpresa. Agora, sabemos que não só vamos ter o retorno financeiro para investir no projeto, como também estamos abrindo portas para expandir a tecnologia para África, Ásia e outros países da América Latina”, acrescentou a jovem baiana. Ela pretende investir os US$ 15 mil (cerca de R$ 62 mil) da premiação na ampliação do Aqualuz. Outros US$ 9 mil (cerca de R$ 37 mil) são oferecidos pela ONU para investimento em “comunicação e comercialização, além de formação, orientação e convites para participar de reuniões de alto nível da ONU”.
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Veja o que já enviamosPara desenvolver seu projeto, Anna Luísa criou a Safe Drinking Water For All (SDW), uma startup socioambiental que vem contando com a ajuda outros universitários e pesquisadores interessados no tema. “É um projeto simples e viável para ser desenvolvido nessas áreas. Basta bombear a água da cisterna para o equipamento. Primeiro, ela passa pelo filtro e as partículas sólidas que deixam o líquido escuro são retiradas. Depois disso segue para um reservatório, onde fica exposta ao sol por um período que vai de uma a quatro horas. O controle é feito por um sistema de monitoramento que avisa quando a água está pronta e o operador, assim, pode retirá-la diretamente da torneira”, explica a biotecnóloga, que está fazendo Pós-Graduação em Sistemas de Gestão Integrada de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Sustentabilidade.
Além da SDW, Anna Luisa està à frente de outra startup, a AIA, com foco na criação de um biodigestor doméstico urbano para restos de comidas. Entrevistada pelo serviço em português da BBC após a conquista do prêmio, ela foi perguntada sobre o que diria ao presidente Jair Bolsonaro caso o encontrasse em Nova York, onde a baiana vai receber a premiação em cerimônia na próxima semana que coincidirá com a reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas e a Cúpula de Ação Climática. “Eu diria ao presidente que, por favor, não desestimule a ciência e o empreendedorismo local. Se não houver estímulo, as pessoas vão se desmotivar”, disse a jovem, nascida em Salvador, que estudou em universidade federal e teve bolsa do CNPq, dois alvos dos cortes do governo na área de educação.
A cerimônia de entrega do prêmio está marcada par a sede da ONU no dia 26 de setembro. O Prêmio Jovens Campeões da Terra é concedido anualmente pela ONU Meio Ambiente, desde 2017, a jovens ambientalistas entre 18 e 30 anos, por suas destacadas ideias na área ambiental. Anna Luisa foi uma das sete vencedoras de África, América do Norte, América Latina e Caribe, Ásia e Pacífico, Europa e Ásia Ocidental. “Nosso planeta com estresse hídrico está sofrendo o peso da extração incessante, da poluição e da mudança climática. É vital encontrarmos novas formas de proteger, reciclar e reutilizar este precioso recurso. Tornar a água potável acessível e segura a todos e todas é vital para atingirmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse a diretora-executiva da ONU Meio Ambiente, Inger Andersen. No próximo ano, as iniciativas inovadoras dos campeões serão documentadas pela ONU nas mídias sociais por meio de atualizações regulares em notícias e vídeo-blogs.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.
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