Imagine uma empresa que não encara o lucro como sua razão de existir. Empresários que não sonham em serem os melhores e mais ricos do mundo. Talvez, quem sabe, poderem ser os melhores para o mundo, acumulando uma riqueza enorme de experiências. Esse é o projeto ou a realidade de mais de 1.700 negócios no mundo. Conhecidas como Empresas B, elas estão espalhadas por 50 países e têm em comum a missão de resolver problemas sociais e ambientais usando os próprios produtos.
[g1_quote author_name=”Alice Freitas” author_description=”Rede Asta” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Na medida em que mais e mais empresas se comprometerem com um impacto positivo no meio ambiente, haverá uma mudança drástica na forma como cada um se relaciona com o planeta.
[/g1_quote]O modelo de certificação de empresas B surgiu nos Estados Unidos em 2006, com três empreendedores que queriam mudar a lógica tradicional do sucesso a partir do lucro e levar em conta o quanto aquela empresa contribuía para um mundo mais sustentável, em todos os sentidos.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosFoi com essa meta que Alice Freitas e Rachel Schettino criaram, em 2005, a Rede Asta, com o objetivo de gerar o maior impacto social possível através do investimento no trabalho de mulheres artesãs por todo os Brasil.
– Segundo o Banco Mundial, as mulheres são responsáveis por 75% da compra dos bens de consumo e destinam à família 90% de sua renda. Assim, o investimento no empreendedorismo feminino gera impactos duradouros e que podem ser multiplicados – conta Alice, uma das criadoras da marca.
A desigualdade de gênero no Brasil também foi fundamental para a escolha das mulheres como foco da Rede Asta. Elas já representam 87% dos fornecedores, que envolvem mais de quatro mil pessoas.
– Acredito que o Sistema B é o início de uma revolução que chegou para transformar o mundo em um lugar melhor. Na medida em que mais e mais empresas se comprometerem com um impacto positivo no meio ambiente, haverá uma mudança drástica na forma como cada um se relaciona com o planeta – conta Alice.
Segundo ela, a maior dificuldade que esses negócios encontram no Brasil é a falta de um modelo jurídico especial que possa promover e estimular o aparecimento de empresas B. Além da falta do olhar atento dos consumidores para essas questões. Apesar disso, a maior empresa B do mundo está no Brasil: a rede de cosméticos Natura.
[g1_quote author_name=”Mayra Salli” author_description=”MIG Jeans” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O Slow Fashion vem com o intuito de despertar o desejo nas pessoas, porém por algo exclusivo, reinventado e justo. Valorizar a produção brasileira, com mão de obra bem remunerada – explica Mayra Salli.
[/g1_quote]A Asta também trabalha em parceria com outras empresas por meio de um processo conhecido como “Upcycling”, que transforma resíduos em novos materiais ou produtos. A técnica também é usada para transformar resíduos em produtos de marketing para seus funcionários. “Esse modelo surgiu quando nos demos conta de que estávamos sendo excluídas do mercado de brindes corporativos com a entrada massiva dos produtos da China, a preços muito baixos”, lembra Alice Freitas.
Entre os exemplos clássicos desse trabalho estão os trinta mil metros cúbicos de lona dos postos Ipiranga que viraram brindes para clientes e os uniformes velhos da Oi que transformaram em bolsas para os novos funcionários.
Outra marca que aposta no upcycling é a MIG Jeans, que transforma jeans sem uso ou descartados através de customizações e novas lavagens. Toda a produção é feita pelas sócias Isa Maria Rodrigues, Luana Depp e Mayra Salli, o que faz com que elas tenham total controle sobre os métodos produtivos. Mayra conta que a ideia de criar a marca surgiu quando elas se deram conta da grande quantidade de jeans descartados nos brechós em excelente estado e qualidade.
Com as novas formas de lidar com o consumo, a moda também ganhou um novo termo: o Slow Fashion, que vem na contramão do consumo desenfreado das lojas de Fast Fashion e faz parte do Lowsumerism.
– O Slow Fashion vem com o intuito de despertar o desejo nas pessoas, porém por algo exclusivo, reinventado e justo. Valorizar a produção brasileira, com mão de obra bem remunerada – explica Mayra Salli.
Com o intuito de valorizar as formas de produção indígenas, surgiu há dois anos o coletivo TUCUM, que estrutura a cadeia produtiva de artesãos das mais diferentes etnias. A ideia surgiu quando Amanda Santana começou a ter contato com as comunidades através do marido, o antropólogo Fernando Niemeyer. Foi aí que ela começou a sonhar com uma marca que pudesse comercializar as belezas produzidas pelos indígenas e gerasse não apenas renda, mas tivesse a missão de melhorar a autoestima. Além disso, a presença de atravessadores deixava Amanda preocupada: “A gente percebeu que no Rio de Janeiro não tinha uma loja que vendesse artesanato indígena de qualidade e com o retorno justo para eles”.
A maior parte dos pedidos é feita pela internet e o pagamento para os indigenas acontece no momento em que os produtos são recolhidos. Com mais de 26 etnias presentes na loja, a TUCUM compartilha o que Amanda chama de tecnologia social, dividindo as informações sobre o mercado, mas de uma forma que os índios continuem tendo autonomia para decidir como serão as transações e os preços. A principal função é ser uma ponte entre os povos tradicionais do Brasil, o design sustentável e as populações urbanas.