O mercado verde de roupas infantis

Sites de compra e venda reúnem milhares de clientes e oferecem descontos de até 70%

Por Laura Antunes | ODS 12 • Publicada em 18 de março de 2016 - 07:35 • Atualizada em 18 de março de 2016 - 11:52

Os sites oferecem produtos para crianças de até 12 anos, e os preços variam de R$ 10 a R$ 75
Os sites oferecem produtos para crianças de até 12 anos, e os preços variam de R$ 10 a R$ 75
Os sites oferecem produtos para crianças de até 12 anos, e os preços variam de R$ 10 a R$ 75

Com duas meninas gêmeas, hoje com 3 anos, a psicóloga paulistana Cecília Zylberstajn admite que cometeu excessos e erros, como todas as mães de primeira viagem, no planejamento do enxoval dos bebês. Comprou roupas além do necessário, escolheu tamanhos que logo não cabiam mais, que se juntavam aos muitos presentes recebidos… A duplinha crescia rápido e Cecília via que muitas das peças, ainda com etiqueta, eram logo descartadas sem uso. A experiência, segundo ela, serviu de aprendizado. Desde então, a mãe das meninas decidiu que praticaria um consumo mais consciente, não apenas por economia, mas também por questão de sustentabilidade.

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Me incomodava ver minhas filhas perderem tantas roupas que nem tinham sido usadas. Era inadmissível. É preciso mais consciência no momento de se consumir e fazer isso de forma sustentável.

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As crianças, ainda em fase acelerada de crescimento, agora têm um guarda-roupa bem enxuto. Cecília conta que, basicamente, as compras que faz hoje acontecem durante liquidações, em lojas de departamento populares. Mas, brinca ela, seu pulo do gato atende pelo nome de “Retroca”, uma plataforma que descobriu, em conversa com amigas numa rede social. Nesse site, atualmente com 200 mil clientes cadastrados, são oferecidas roupas, calçados e acessórios infantis (até 12 anos) usados. Quer dizer, em tese, de segunda mão. Muitas delas, na verdade, ainda estão com as etiquetas das lojas. Trata-se do reino de compra e venda de roupas que os pais frequentam – tanto oferecendo roupas que não cabem mais nos rebentos como adquirindo itens. A economia gira em torno de 70% em relação às peças oferecidas nas lojas.

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A fórmula de tentar manter um guarda-roupa infantil de pouca ostentação parece estar agradando uma legião de pais. Basta ir à internet e procurar sites especializados na compra e venda de peças usadas infantis.

– Me incomodava ver minhas filhas perderem tantas roupas que nem tinham sido usadas. Era inadmissível. É preciso mais consciência no momento de se consumir e fazer isso de forma sustentável. Elas nasceram numa época em muita gente ia para o exterior, por causa do dólar favorável, e comprava lá o enxoval. O meu foi exagerado, por ser uma mãe inexperiente. Desde que descobri o Retroca, tenho tido experiências positivas. Já comprei roupas novas, com a etiqueta, e outras seminovas, perfeitas, pela metade do preço. Recentemente, comprei por R$ 40 dois lindos vestidos, cada, de uma marca americana, novos, que jamais conseguiria comprar na loja por menos de R$ 120 – elogia a psicóloga.

Cecília conta que repassa as roupas das meninas para amigas que têm crianças menores, doa para instituições, mas também vende para o site.

– Tem gente que comenta que o valor pago pelo site é pouco, mas discordo porque não há estresse. O pagamento é rápido, eles pagam o frete e, claro, há o conforto de não termos qualquer trabalho, o que aconteceria se vendêssemos diretamente para outro consumidor – diz ela, acrescentando que, enquanto as meninas estiverem em idade de crescimento, não comprará peças caras – na fase adulta, você pode comprar uma peça cara clássica, sabendo que vale a pena porque poderá usá-la por anos. No caso das crianças, não, pois perdem rapidamente as roupas.

O Retroca, que entrou no ar em 2013, não faz intermediação entre vendedores e compradores. O site compra as peças infantis dos clientes e as recoloca à venda. Quem vende não paga o frete. Quem compra, arca com essa despesa. O fato é que essa plataforma colaborativa faz sucesso entre os pais, que andam de cabelo em pé diante do preço elevado praticado pelo comércio varejista infantil. Os preços de revenda são bem convidativos, além de oferecer milhares de itens de boas lojas internacionais e nacionais. É muito comum encontrar roupas ainda com as etiquetas ou pouquíssimo usadas.

Nas compras acima de R$ 199 o frete é gratuito
Nas compras acima de R$ 199 o frete é gratuito

A ideia de criar esse serviço surgiu numa conversa entre os amigos e profissionais do mercado financeiros Pedro Romi e Caio Sagae, que, então, se tornaram sócios na empreitada.

– Nessa época, conversávamos muito sobre inovação e empreendedorismo. Analisando cenários e pesquisando, descobrimos uma startup americana de grande sucesso no segmento de novos e seminovos, e enxergamos que havia uma oportunidade no mercado de vestuário infantil nacional para esse modelo. Achamos algumas iniciativas parecidas, mas nenhuma organizada. Assim, resolvemos criar o Retroca – conta Romi.

Ainda de acordo com o empresário, o preço varia muito conforme a marca e a condição das peças, que podem ser novas ou apresentar um pequeno defeito:

– É difícil estabelecer uma faixa média de valor. Há desde itens por menos de R$ 10 até artigos em torno dos R$ 75. O fato é que nosso desconto médio é de 70%, podendo chegar a 85%, quando comparado ao praticado no varejo tradicional de novos.

O site vende em média três mil peças por mês. Na loja virtual, o cliente encontra hoje cerca de sete mil itens cadastrados.

– O cliente ainda conta com filtros de pesquisa que tornam sua procura muito objetiva. Além disso, é possível ver o artigo em cada detalhe, uma vez que ele é fotografado com recursos profissionais. E como as roupas passam por rigoroso processo de curadoria, o comprador tem a garantia de qualidade. A aquisição da peça em si pede apenas um cadastro básico no site. Para compras acima de R$ 199,00, o frete é gratuito – acrescenta Romi, afirmando que a equipe ainda não tem planos para estender o serviço também para brinquedos – Por ora, o foco segue sendo o vestuário infantil mesmo.

Mãe de um casal de crianças, de 4 e 6 anos, a secretária carioca Eliane Pereira de Lima, também ficou sabendo da existência de sites do gênero, recentemente, numa conversa de trabalho. Ainda não fez nenhum negócio, mas já ficou interessada. Conta já ter pesquisado na web e anotou alguns endereços. Ela pretende fazer negócios em breve.

– Certamente, vou escolher algumas roupas que tenho em casa novinhas, que posso vender. Praticamente nada da minha filha posso usar no caçula e eles perdem roupa muito rapidamente. Acho ótimo ter esse recurso de economia. É um dinheiro que poderemos usar em outras coisas. E não vejo qualquer problema em as crianças usarem roupas que já pertenceram a outra. Da próxima vez que eles estiverem precisando de alguma peça, vou procurar num dos sites que pesquisei – garante a consumidora.

A analista judiciária Juliana Teixeira, que mora em São Paulo, descobriu o mundo da compra e venda de roupas infantis também pesquisando na internet. Mãe de um menino, de 3 anos, ela conta já ter recorrido ao site Retroca algumas vezes para vender roupas do menino, que perde as peças com muita rapidez.

– Como não pretendo ter mais filhos, decidi vender para propiciar que outras pessoas também tenham acesso a roupas de boa qualidade por um preço mais acessível – explica ela, que também destaca a importância de se praticar um consumo mais consciente.

Pelo jeito, esse ramo comercial vai de vento em popa. Nestes tempos de crise, a Retroca, por exemplo, estima em 200% o crescimento das vendas para este ano em relação ao ano passado. Nada mal.

Laura Antunes

Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.

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