Mão de obra é desafio para sistemas agroflorestais

Mão de obra é desafio para sistemas agroflorestais

Agricultor atravessa o Rio Pequeno, que atravessa a comunidade: erosão reduzida (Foto: cedida pelas autoras)

Escola Latino Americana de Agroecologia prepara integrantes do MST para fazer a transição dos modelos de cultivo tradicionais para técnicas de agrofloresta

Por Beatriz Carneiro e Camilla Hoshino | ODS 12ODS 15 • Publicada em 21 de janeiro de 2025 - 00:45

Apesar dos benefícios ambientais e sociais já comprovados pelas experiências de produção dos sistemas agroflorestais, ainda há inúmeros desafios para sua implementação. Entre eles, a mão de obra, como observa o professor de engenharia florestal da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Eduardo Vinicius da Silva. “No começo do sistema agroflorestal, a intensidade de mão de obra é muito grande. À medida que o sistema vai evoluindo, as culturas vão se desenvolvendo, as árvores vão crescendo, o sistema vai ficando mais sombreado e a mão de obra mais especializada”, explica.

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Isso significa, segundo ele, que, com o passar do tempo, o produtor terá o desafio de manejar o sistema sombreado e lidar com a diversidade de espécies em uma mesma área. “É preciso entender que cada espécie tem o seu espaço dentro do sistema e seu tempo”, diz.  

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No caso de comunidades do MST, é muito comum que os agricultores se formem técnicos agrícolas pela Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), localizada no Assentamento Contestado, no município da Lapa (PR) e onde os cursos funcionam em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR). Após a especialização, os estudantes voltam para suas comunidades capacitados para auxiliar nas transições agrícolas mais compatíveis ao contexto local. 

Eduardo Vinícius destaca cinco pontos essenciais para o planejamento da transição agroflorestal

1 – Planejamento dos sistemas agroflorestais deve ser compatível com realidade do produtor local: além de utilizar espécies adaptadas àquela condição climática, compreender que a necessidade de um produtor da região Sudeste é diferente da necessidade de um produtor na Amazônia; 

2 – Priorizar manejo do solo conservacionista: preparo de solo localizado em vez de área total, sempre coberto, principalmente com resíduo, com biomassa de culturas;

3 – Ter espécies leguminosas no sistema: sejam elas herbáceas, arbustivas ou árvores, as espécies leguminosas são capazes de produzir um resíduo de melhor qualidade, principalmente para a fixação biológica de nitrogênio;

4 – Valorizar ao máximo o produto dos sistemas agroflorestais: investir na qualidade e beneficiamento dos produtos que são carro chefe dos sistemas, como café, açaí ou madeira, para gerar sustentabilidade financeira;

5 – Não deixar produtor sem renda: desde o início da implantação, o sistema deve dar retorno ao agricultor. 

O agricultor Jonas Souza, um dos mais antigos da comunidade José Lutzenberger, conta como foi a adaptação inicial ao trabalho para cultivar uma agrofloresta:

“No início da implantação, foi um pouco mais difícil porque exige mais esforço, mas depois do período de desenvolvimento, de manejo, diminuem tanto o tempo de trabalho quanto o investimento”, diz. 

Beatriz Carneiro e Camilla Hoshino

Beatriz Carneiro é formada em Jornalismo pela USP e apaixonada por temas socioambientais. Atuou como repórter e diretora na Jornalismo Júnior, mídia universitária da USP, e foi estagiária na CNN Brasil, onde segue como freelancer. Camilla Hoshino é jornalista, internacionalista e mestre em Comunicação e Política pela UFPR. É membro da Jeduca e titulada Jornalista Amiga da Criança pela ANDI Comunicação e Direitos. Foi fellow do Dart Center for Journalism and Trauma/Universidade de Columbia, e vencedora da bolsa Heinz Kühn Stiftung para estágio na DW| Alemanha e do Prêmio Sangue Novo do Jornalismo Paranaense.

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