ODS 1
Do consumo predatório ao sustentável
Pesquisa do Instituto Akatu constata que, apesar de a mudança ser lenta, brasileiro está mais consciente na hora de ir às compras
Quando agosto chegar, o planeta Terra estará entrando no vermelho. Uma pesquisa da ONG Global Footprint Network alertou que, no primeiro dia do próximo mês, o consumo de recursos como água, alimentos, madeira, entre outros, estará ocorrendo numa velocidade maior do que a Terra é capaz de renovar. Uma constatação de que o pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman fora premonitório. “Não se pode escapar do consumo”, falou, certa vez, em uma de suas inúmeras entrevistas. Complementou sua análise afirmando que o consumo passou a fazer parte do nosso “metabolismo”. E concluiu que “o problema não é consumir; é o desejo insaciável de continuar consumindo”.
O brasileiro é um exemplar típico deste homem moderno traduzido por Bauman, com o agravante de estar longe de ser um consumidor consciente. A transição do consumo predatório para um modelo mais sustentável vem ocorrendo, mas o ritmo da mudança é lento. A “Pesquisa Akatu 2018 – Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações” constatou, que, apesar de os consumidores menos conscientes representarem 76%, uma mudança de comportamento está a caminho. Entre os mais conscientes, 24% estão acima de 65 anos, 52% são das classes A e B e 40% possuem ensino superior – uma demonstração clara que o viés de idade, de qualificação social e educacional são fundamentais na hora de consumir.
Um dos principais resultados da pesquisa foi o crescimento do segmento de consumidores identificados como “iniciantes”, que correspondia a 32%, em 2012, e pulou para 38%, este ano.
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Veja o que já enviamos“O momento é de engajar, motivar, recrutar essas pessoas, que, apesar de estarem no agrupamento dos menos conscientes, estão evoluindo em sua consciência de consumo”, analisa Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. O percentual de consumidores que passaram a comprar produtos orgânicos mais que dobrou em seis anos, tendo pulado de 23%, em 2012, para 48%, este ano. A mudança de comportamento foi detectada em ações cotidianas, como desligar lâmpadas, usar o verso do papel, separar o lixo para a reciclagem.
A pesquisa levantou o perfil do consumidor de 12 capitais brasileiras, incluindo nesta lista as regiões metropolitanas. Foram entrevistadas 1.090 pessoas, entre homens e mulheres, com mais de 16 anos, de todas as classes sociais.O período estudado foi de 9 de março a 2 de abril deste ano. A pesquisa está na sua quinta edição. Para diferenciar os consumidores, o Akatu lançou mão de um Teste do Consumo Consciente (TCC), que envolveu um conjunto de 13 comportamentos. O consumidor “indiferente” é aquele que aderiu a até quatro comportamentos; o “iniciante”, de 5 a 7, o “engajado”, de 8 a 10, e “consciente”, de 11 a 13.
E quais seriam, segundo a percepção do consumidor, as barreiras para hábitos e consumo de produtos sustentáveis? Entre os que tinham algum conhecimento sobre produto sustentável, o principal entrave ainda é o preço, considerado um dos maiores obstáculos. E embora 68% tenham respondido já ter ouvido falar em sustentabilidade, a maioria (61%) não conseguiu explicar o que é um produto sustentável.
O déficit ecológico diagnosticado pela ONG Global Footprint Network é uma preocupação dos consumidores brasileiros. Segundo a pesquisa, 70% deles se sentem motivados pelos benefícios emocionais do produto – aqueles que se referem a impactar o mundo, a sociedade e o futuro -, enquanto 45% admitiram que a motivação vem dos benefícios concretos do produto a ser consumido. “Empresas que cuidam das pessoas, tanto para dentro quanto para fora, são mais respeitadas”, comentou Mattar.
Ficou comprovado que o consumidor valoriza empresas transparentes e socialmente responsáveis. Variáveis como combate ao trabalho infantil, respeito a raça, religião, sexo, identidade de gênero ou orientação sexual, dentro e fora da empresa são variáveis que fazem o consumidor escolher este e não aquele produto. Com o planeta Terra emitindo sinais de exaustão, nada mais urgente do que o consumo consciente, uma alternativa ao crescente desperdício que vem intermediando a relação entre a sociedade e a natureza.
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Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.