A conspiração dos alimentos

O famoso PF (prato feito) subiu cerca de 30% em um ano, mais de três vezes a inflação

Por Trajano de Moraes | ODS 12 • Publicada em 23 de junho de 2016 - 08:00 • Atualizada em 23 de junho de 2016 - 11:39

Vilões, como feijão, farofa e cenoura, com carne bovina e arroz (aumentos moderados) e tomate, em baixa
Vilões, como feijão, farofa e cenoura, com carne bovina e arroz (aumentos moderados) e tomate, em baixa
Vilões, como feijão, farofa e cenoura, com carne bovina e arroz (aumentos moderados) e tomate, em baixa

O chuchu já mereceu o triste título de vilão da inflação em pelo menos duas ocasiões: em 1977, na ditadura militar, sendo presidente Ernesto Geisel; e no início do primeiro mandato da presidente afastada Dilma Rousseff, em 2011, quando subiu escandalosos 88,12% apenas no mês de janeiro.  Mas, agora, parece que os alimentos decidiram conspirar em bloco para não deixar cair uma inflação que, não fosse isso, desaceleraria por força da profunda crise no país, com a redução da atividade econômica e a retração do consumo.

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Para uma refeição de 500g, basta que se escolha 100g de feijão mulatinho (alta de 48,79% em 12 meses), 100g de batata inglesa (74,48%), 50g de farofa (43,43% da farinha de mandioca), 150g de arroz (13,06%) e 50g de contrafilé (11%).

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Por uma série de fatores, alimentos brincam de pular carniça uns nas costas dos outros, ganhando cada vez mais impulso para subir de preço.  Trocando em miúdos, um prato de comida pode custar hoje cerca de 30% mais do que há um ano, mais de três vezes a inflação oficial no período (9,32% em maio).

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Para uma refeição de 500g, basta que se escolha 100g de feijão mulatinho (alta de 48,79% em 12 meses), 100g de batata inglesa (74,48%), 50g de farofa (43,43% da farinha de mandioca), 150g de arroz (13,06%) e 50g de contrafilé (11%).  A salada é “por conta da casa”: se a cenoura subiu 9,55% em 12 meses e a alface, 15,02%, o tomate compensou com uma queda de 27,97%. Mas não peça mamão de sobremesa. O preço é indigesto, já que a fruta foi a grande vilã, com alta de 103,43%. Os números são da consultoria MB Agro, de São Paulo.

Mas nem tudo está perdido. Há várias formas de baratear sua refeição. Pode, por exemplo, trocar o feijão mulatinho pelo fradinho, que subiu “apenas” 9% em 12 meses. Substituir a batata pelo aipim (18,57%). Trocar alface e cenoura por quiabo (3,36%). E abrir mão do bife por uma posta de peroá, cujo preço despencou estupendos 28,32%. Aí talvez você se anime a comer, de sobremesa, uma maçã (0,61%). Dessa forma, você poderá trazer a inflação de sua refeição para o nível do aumento de alimentos e bebidas nos últimos 12 meses, de 12,7%. Ou do reajuste da cesta básica no período, de 10,32%, sempre acima do IPCA (inflação oficial), de 9,32%.

Para uma relação de 184 itens pesquisados, 50 subiram abaixo da inflação e apenas oito tiveram redução de preço nos últimos 12 meses.

A sazonalidade e outros fatores não deixam por menos e já puseram na receita vários vilões nos primeiros meses deste ano.  O preço da cenoura, por exemplo, enlouqueceu e acumula alta de 86,09% em 2016. Farinha de mandioca, batata inglesa, feijão carioca e frutas – todos subiram acima de 20%. Os alimentos, como um todo, ficaram 5,79% mais caros, para um IPCA de 4,05% até maio.

A conspiração continua a todo o vapor: o item alimentos e bebidas é o que mais pesa na composição do índice de inflação (24,8%) e deve subir 11,1% este ano, acima de todos os outros oito (habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação). Isto elevaria a inflação a 7,1% em 2016, segundo a MB Agro.

Há uma série de fatores que influem no aumento de preços da comida do brasileiro. No caso do feijão, problemas climáticos decorrentes do fenômeno El Niño, que afetaram a safra do Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, e também as Paraná, Uruguai e Argentina.

“Tivemos, no início do ano, a alta dos alimentos in natura, o que é um movimento sazonal. Agora estão subindo os preços das commodities: o milho disparou (116,89% em 12 meses) e a soja também aumentou (46,9%). E isto acaba afetando o preço de frango, carne suína, ovos e até da carne bovina”, disse o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC, à repórter Lucianne Carneiro, do Globo.

É, cada vez mais, hora de pesquisar que alimentos estão mais favoráveis ao consumidor para evitar uma indigestão no bolso.

Trajano de Moraes

Jornalista com longas passagens por Jornal do Brasil, na década de 1970, e O Globo (1987 a 2014), sempre tratando de temas de Política Internacional e/ou Economia. Estava posto em sossego quando foi irresistivelmente atraído pelos encantos do #Colabora. E resolveu sair da toca.

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Um comentário em “A conspiração dos alimentos

  1. victor cavagnari filho disse:

    Grande Trajano.Sua militância nesse projeto ou em qualquer outro que você considere correto é da maior importância, pois seu lado é sempre o correto. Abraço do
    , seu ex-colega.

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