Viagem ao fundo do mar de Salvador

Mergulhador observa Cardume no fundo da Baía de Todos os Santos. Foto Divulgação

A Baía de Todos os Santos vai ganhar um parque marinho, em local onde há destroços de três navios naufragados, próximo ao famoso Farol da Barra

Por Simone Serpa | ODS 11ODS 14 • Publicada em 13 de janeiro de 2018 - 09:01 • Atualizada em 15 de janeiro de 2018 - 13:36

Mergulhador observa Cardume no fundo da Baía de Todos os Santos. Foto Divulgação
Mergulhador observa Cardume no fundo da Baía de Todos os Santos: população de peixes vai aumentar
Mergulhador observa Cardume no fundo da Baía de Todos os Santos: população de peixes vai aumentar. Foto: Divulgação/Galeão Sacramento, Escola e Operadora de Mergulho

A capital baiana está prestes a ganhar um novo atrativo turístico. Será criado um parque marinho na Baía de Todos os Santos, entre dois monumentos históricos, o Farol da Barra e o Forte de Santa Maria. No local, há destroços de três navios centenários, que afundaram a no máximo 200 metros da praia e a 8 metros de profundidade. Aí está a particularidade desse parque no fundo do mar: não é preciso usar um barco para visitá-lo. Pode-se chegar às atrações (e não são poucas!) a nado.

Em breve a área estará sinalizada por boias e poderá ser vista por qualquer um que estiver passeando pela orla da cidade.  Um dos navios naufragados é o Maraldi, vapor inglês que afundou em 1875, quando vinha da Argentina, e está a uma profundidade de três a quatro metros e a apenas 100 metros da praia. O alemão Germânia chegava da Europa quando, em 1876, encalhou próximo ao Farol da Barra, a 200 metros da praia, a uma profundidade de cinco a oito metros. O terceiro é o Bretagne, que em 1903 naufragou quando saía de Salvador para a Europa, depois de bater nos destroços do Germânia.

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É um patrimônio submerso ao lado das principais referências arquitetônicas da cidade

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Ou seja, são três naufrágios muito próximos. Depois de tanto tempo no fundo mar, os restos dos navios transformaram-se em habitat de diversas espécies marinhas, verdadeiros parques de diversões para mergulhadores, ou não! Não é preciso ser profissional ou saber mergulhar com tanque de oxigênio para apreciar as belezas do parque.  Dá para mergulhar apenas com um snorkel. Mas o parque também pode ser visitado por quem quer apenas nadar por ali, para admirar o movimento de peixes e as belezas do mar de águas claras.

Mergulho entre restos de um dos navios que afundaram perto da praia: atração do parque marinho. Foto: Divulgação/ Galeão Sacramento, Escola e Operadora de Mergulho

Não será preciso sequer ir à praia para conhecer o projeto. “Ele prevê, ainda, a criação de uma sede, onde haverá exposição de fotos e vídeos, com informações sobre os patrimônios históricos que limitam a área do parque, sobre os naufrágios, as espécies presentes ali…”, diz Bernardo Mussi, um dos idealizadores do parque.

Segundo Francisco Barros, oceanógrafo mestre e doutor em Ecologia Marinha, pesquisador da Universidade Federal da Bahia (UFBA), esse tipo de projeto só traz benefícios à vida marinha. A literatura científica está repleta de exemplos para atestar o crescimento da quantidade de peixes e corais em áreas protegidas. A expectativa é que, em menos de cinco anos, a população de várias espécies aumente.

Em prazo mais longo, outros peixes voltarão a povoar as águas da Baía.  “Em até dez anos, o parque deverá funcionar como abrigo para muitas espécies visitantes de peixes comerciais”, completa Barros, deixando claro que esse crescimento de cardumes é bom para o parque, claro, mas também para pescadores, já que, consequentemente, também as áreas que extrapolam a preservada estarão mais povoadas.

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Turismo ecológico aliado a uma comunidade consciente só pode gerar bons resultados

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As condições do mar da Baía de Todos os Santos, suas águas sempre claras, quentinhas e mansas, convidam ao mergulho. A temperatura e a visibilidade são muito boas na maior parte do ano. Só mesmo em época de muita chuva, do fim do outono ao fim do inverno, a  viagem ao fundo do mar da Baía de Todos os Santos pode, eventualmente, ficar prejudicada pelos ventos fortes e ressacas. “Mas justamente nessa época outros esportes aquáticos ganham força, a exemplo do surfe e do Stand Up Paddle Wave”, sugere Bernardo.

O projeto do parque nasceu de uma preocupação ambiental.  Aflito com a quantidade de lixo jogado nas praias – especialmente depois dos desfiles de trios elétricos que acontecem no Carnaval na orla da Barra -, um grupo organizou um ato simbólico de limpeza do fundo do mar. Assim, em 2009, foi criado o Fundo da Folia, que acontece todos os anos depois dos intensos dias de farra e muito lixo. Ao longo dos anos, a iniciativa foi ficando mais organizada e chamando mais a atenção, até que ganhou o apoio da Associação de Moradores da Barra (Amabarra).

Vida marinha: objetivo é a preservação. Foto: Galeão Sacramento, Escola e Operadora de Mergulho

Quando  surgiu a proposta de criação do parque marinho,  a prefeitura abraçou a ideia.  O projeto está previsto no Plano Diretor de Planejamento Urbano (PDDU) de Salvador desde 2016, inclusive já com previsão de limites mais amplos: ele iria até o Forte São Diogo e não apenas até o de Santa Maria, como está previsto, inicialmente.

Mas os idealizadores não deixam tudo nas mãos da gestão municipal, não. Os integrantes do Fundo da Folia uniram-se a especialistas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Instituto Federal Baiano (IFBaiano) para formar um grupo de trabalho junto à Secretaria de Cidade Sustentável e Inovação (Secis). Eles trabalham como voluntários e acompanham cada passo do processo.

O secretário municipal da pasta, André Fraga, diz que a meta é que o parque esteja pronto ainda no primeiro semestre de 2018. Segundo ele, não há ainda uma previsão exata do quanto custará a implantação completa, é exatamente isso que está em estudo, mas estima-se que só a sinalização custará entre R$ 150 mil e 250 mil.

O objetivo principal é a preservação do meio ambiente marinho em um lugar – o bairro da Barra -, onde a ocupação da capital baiana começou. “É um patrimônio submerso ao lado das principais referências arquitetônicas da cidade”, destaca o secretário. Exatamente por essa importância arquitetônica, histórica e ambiental, Bernardo lembra que algumas medidas restritivas terão que ser adotadas, como a proibição de qualquer tipo de pesca e do trânsito de embarcações motorizadas não credenciadas no local.

Os responsáveis pelo parque pretendem intensificar as campanhas de conscientização dos banhistas e foliões para que não joguem lixo na areia ou no mar. Mais do que nunca será preciso proteger, cuidar, preservar. Só assim os benefícios para a cidade e a população virão por várias frentes: ecológica, econômica, cultural e educacional. “A informação aliada à possibilidade dos cidadãos usufruírem daquele espaço, mesmo que apenas contemplando, acaba despertando o sentimento de pertencimento. Turismo ecológico aliado a uma comunidade consciente só pode gerar bons resultados”, afirma Bernardo.

Simone Serpa

Jornalista carioca que há 10 anos fez de Salvador, BA, sua morada. Sempre trabalhou em revistas femininas e de decoração. Vive em busca de belas histórias de vida, lindas casas e bons exemplos de bem viver.

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