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Veja o que já enviamosUm país chamado Bienal do Livro
O megaevento cultural em que todos são aceitos e quem mais quiser chegar, chega, independentemente de onde venha

É pelas alamedas do Riocentro, imersos na Bienal do Livro Rio, em que todos são aceitos e quem mais quiser chegar, chega, independentemente de onde venha – mesmo na distância imposta para alguns. Durante dez dias, os olhos se voltam para uma possibilidade única, repetida a cada dois anos, de se encontrar pelo prazer da leitura, movidos pelos livros e em suas mais diversas formas.
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Inegável a capacidade do evento de movimentar o capital da cidade. Falamos de um verdadeiro ‘boom’ editorial, onde todo mundo ganha. Editoras como a Sextante viram um salto de 70% no faturamento em relação ao mesmo período da última edição; a Intrínseca registrou alta de 63%, a Record cresceu 45%, a Globo Livros 50%, e a Rocco avançou 42%. O que se vê são as compras de livros se concentrando cada vez mais em grandes eventos, um contraste com o cenário geral do mercado de livros no país, visto como aquele que ‘’não lê’’. Será?
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Veja o que já enviamosÀs 13h de sábado, pela primeira vez em 42 anos, os ingressos esgotaram. Justamente a Bienal, quarto maior evento da cidade, só ficando atrás do Réveillon, da festa pagã e do Rock in Rio, e que cada vez mais se consolida como um pilar financeiro além do esperado. E não só.
Se este evento durante pouco mais de uma semana tem o poder de fazer a cidade virar outra pela movimentação financeira, é no que tange a humanidade que ela faz ficar mais especial, revelando uma metrópole possível e plural (mesmo que tiros atravessem paredes, ônibus caem em lagoas, acidentes, etc). Não há hoje assunto que não passe pelo evento, pautando, ao mesmo tempo, a fé de matriz africana tendo como vizinho o stand do café e o todo poderoso; onde mulheres falam abertamente sobre a menopausa e também lidam com o abuso catalisado em livros, além de tantas outras questões que atravessam o dia a dia. E coexistem ali, de maneira respeitosa.
Entre o frenesi e o barulho de caminhada dos que tomam os pavilhões, não é incomum perceber o primeiro contato de muitos alunos, especialmente das escolas públicas, com as páginas de um livro. Experiência que vai além do pavilhão; onde a palavra é levada para casa, tornando-se um instrumento de instrução e partilha com aqueles que, por diversas razões, não tiveram a mesma oportunidade. É momento de ver a “cria” ou até mesmo um profissional de recolhimento de resíduos, de segurança, ou de outros serviços, estar mais perto de quem faz a história, sendo também a história. E ver com os próprios olhos, acesso ao saber e ao sonho ficarem de mãos juntas.
É só um lembrete vívido de que a cultura e a educação, quando bem investidas, não só transformam os locais onde se vive e a vida das pessoas comuns, mas também têm o potencial de mudar as perspectivas e prioridades de quem está no poder, inspirando-os a valorizar e investir em um futuro onde o conhecimento e a leitura sejam verdadeiramente acessíveis. A todos.
Para quem a gente vota pra Bienal ser um país mesmo, hein?
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