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Seminário debate oportunidades de uma economia azul para o Rio de Janeiro

Terceiro maior litoral do país, estado tem potencial de impulsionar desenvolvimento com despoluição da Baía de Guanabara e investimento em turismo

Em 2024, a praia do Flamengo, na Baía de Guanabara, ficou própria para o banho de mar 80% dos dias do ano, índice que mostra a recuperação da balneabilidade após anos de poluição e contaminação por esgoto. Em 2025, foi aberta uma escola de natação infantil – nas águas calmas de baía da praia do Flamengo: um micro exemplo de como a chamada economia azul pode ser impulsionada se as águas da Baía de Guanabara, e de toda a região costeira do Rio de Janeiro, estiverem bem cuidadas e despoluídas; na mesma praia, agora com multiplicada frequência, também aumentaram as concessões para barracas e o número de ambulantes. O mar de oportunidades para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro se virar uma metrópole azul foi o tema central do primeiro dia da 10ª edição do Seminário Cidades Verdes, organizado pelo Instituto Onda Azul; o seminário começou quarta-feira (10/09) e continua quinta (11/09) na sede da Firjan, (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), no centro da capital fluminense.
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O estado do Rio de Janeiro tem mais de 80% de sua população vivendo em regiões costeiras, que concentram acima de 70% do PIB estadual. São 23 municípios banhados pelo mar – inclusive nove na Baía de Guanabara; o Rio em 636 quilômetros de litoral, a terceira maior costa em extensão do país, atrás apenas da Bahia e do Maranhão. “Nosso estado precisa abraçar esse conceito de economia azul, para aproveitar os recursos dessa riqueza natural, equilibrando a preservação ambiental com desenvolvimento social e econômico. Mas, para termos realmente uma metrópole azul na Região Metropolitana do Rio, onde vivem quase 13 milhões de pessoas, é fundamental alcançarmos a meta de universalização do saneamento básico, o que, aqui, significa garantir o prosseguimento desse processo de despoluição da Baía de Guanabara”, afirmou Ana Asti, subsecretária de Recursos Hídricos e Sustentabilidade do governo estadual.
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Veja o que já enviamosAna Asti citou estudo da OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontando as oportunidades da economia azul para o Rio de Janeiro, De acordo com o relatório, os baixos níveis de coleta de esgoto e gestão de resíduos nos municípios ao redor da Baíade Guanabara impactam negativamente mas a redução da poluição da Baía de Guanabara por meio da universalização do serviço desaneamento básico poderá gerar ganhos socioeconômicos avaliados em R$ 25 bilhões para o estado. “Mesmo descontando o setor de óleo e gás, que entram na conta dessa economia do mar, as atividades relacionadas à economia azul já significam 15% do PIB do Rio, com destaque para o turismo, que tem um potencial enorme ainda inexplorado”, argumentou a subsecretária, que participou do painel Projeto Guanabara Azul e a visão para o desenvolvimento da Economia Azul Sustentável no Estado do Rio de Janeiro, ao lado da socióloga Aspásia Camargo, coordenadora do Colégio de Altos Estudos da UFRJ; do engenheiro Bruno Sasson, consultor da Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro) e de Jorge Peron, gerente de Sustentabilidade da Firjan.
Diretor Executivo do Instituto Mar Urbano, o biólogo marinho e documentarista Ricardo Martins, que há mais de 30 anos, vive o cotidiano da Baía de Guanabara, também destacou o potencial turístico da economia azul. “O Cristo Redentor e o Pão de Açúcar podem gerar 1 bilhão de dólares em movimento turístico, com muitos visitantes atraídos pela vista da Baía de Guanabara. Só que esse mesmo turista quando resolve mergulhar procura outro ponto do litoral brasileiro, no Nordeste, por exemplo. Temos um potencial enorme na Baía de Guanabara a ser explorado, se fizermos a nossa parte e cuidarmos e preservamos a baía e suas águas”, afirmou Martins que acaba de lançar o documentário ‘Quanto vale o azul’?, que estreou na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos de 2025, em junho, em Nice, na França e foi apresentado no fim do primeiro dia do seminário Cidades Verdes.

Ricardo Martins disse que o filme usa a economia azul para mostrar a importância dos oceanos a todas as pessoas para que elas “também sintam no bolso” o que está em jogo. “A gente precisa entender o oceano como o provedor da vida, do oxigênio que a gente respira, da água que a gente bebe, do nosso alimento, do transporte, do lazer. Precisamos olhar para a Baía de Guanabara e entender seu valor. Basta pensar: quanto vale a praia de Copacabana”, acentuou o documentarista, que participou do painel ‘Verde e azul precisam andar junto para se criar uma sociedade resiliente e sustentável’, ao lado do oceanógrafo Fabiano Thompson- Professor Titular da UFRJ, do presidente do comitê de sustentabilidade da Cedae, Allan Lopes, e do secretário de Economia Azul de Cabo Frio, Matheus Mônica.
Nos debates, também foram lembrados os desafios que precisam ser enfrentados para essa economia azul deslanchar no Rio de Janeiro. “Nós temos uma governança muito precária na Região Metropolitana do Rio de Janeiro; são muitos órgãos, muitas instâncias, que não se entendem e não se comunicam. Por isso, temos esse cenário ainda de abandono e desordem em toda a região da Baía de Guanabara”, afirmou a socióloga Aspásia Camargo, que participa do Cidades Verdes desde sua criação pelo ambientalista e escritor Alfredo Sirkis, falecido em 2020. “Nós precisamos aproximar o capital, a iniciativa privada, do poder público e da academia para que os negócios sustentáveis, da economia azul, efetivamente venham a vicejar”, disse o professor Fabiano Thompson.
Mais de mil pessoas se inscreveram para participar do Seminário Cidades Verdes que também pode ser acompanhado pelo canal do Onda Azul no Youtube. “No ano da COP30 aqui no Brasil, é importante que a gente esteja discutindo o desenvolvimento sustentável e a questão ambiental sob a ótica das cidades porque, nas cidades, vive a grande maioria da população. Quando o Sirkis idealizou esse seminário, o objetivo era exatamente discutir uma sustentabilidade urbana, para nós termos uma agenda ambiental para as cidades”, destacou André Esteves, diretor-executivo do Instituto Onda Azul, na abertura do evento, que prossegue, nesta quinta-feira, com a transição energética como tema principal e a participação especial do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, que falará, ao vivo, por videoconferência, de Brasília.

Programação Cidades Verdes (2º dia – 11 de setembro)
8h30 Credenciamento e recepção
9h: Welcome coffee
9h30 – Keynote Speaker – Embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30
10h: Mesa 1 – A melhor fonte de energia para as cidades
Como conciliar a demanda de grandes populações com a escala das energias renováveis? Como conciliar a necessidade de se ter tecnologias de ponta para resolver questões emergentes para as cidades enfrentarem os eventos extremos, sem demandar mais energia? Como sair desse imbróglio?
– Amanda Schutze- Coordenadora da FGV- Clima SP
– Ilan Cuperstein- Coord. de relações internacionais da prefeitura do RJ
– Andrea Santos – Coordenadora do laboratório de transporte sustentável do programa de engenharia- Coppe/UFRJ
– Sérgio Bessermann- Presidente do Instituto Jardim Botânico- IJB
– Amelia Gonzalez- Mediadora- Blog Ser Sustentável
11h15: Perguntas e interação com o público
11h30: Mesa 2 – Nunca houve tanta aposta nas energias renováveis, mas os investimentos em fósseis continuam alto.
O mundo ainda não está preparado para acabar totalmente com o uso do combustível fóssil, mas ao mesmo tempo está percebendo que será necessário adaptar-se a outras fontes de energia. Posição estratégica para incorporar e acelerar o uso de fontes limpas é um fator crítico de sucesso? Matriz limpa incentiva a diversificação. Qual a melhor? O que cada uma pode oferecer para substituir o petróleo e quando?
– Guilherme Wilson- Gerente de Sustentabilidade da SEMOVE
– Gabriel Krospch- Sinegás e ACRJ
– Rafael Almada- Reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro- IFRJ
– Carlos Nobre – Climatologista (mensagem em vídeo)
– Gabriel Vasconcelos- Jornalista – Mediação
12h45: Perguntas e interação com o público
14h15: Mesa 3- O papel da sociedade civil e o chamado à ação
A sociedade civil e a iniciativa privada desempenham um papel crucial na discussão e formulação de políticas de transição energética, atuando como agentes de transformação e fiscalização, garantindo que a mudança atenda às necessidades e expectativas da comunidade de forma justa, inclusiva e sustentável. O debate multissetorial amplia os cenários e as possibilidades de convergências.
– Edmar de Almeida- presidente da Associação Internacional de Economia da Energia- PUC- RJ
– Marie Ikemoto- Subsecretária de mudanças do clima e conservação da biodiversidade do Estado do RJ
– Isaque Ouverney- Gerente de Infraestrutura da Firjan
– Alice Hagge- Secretária executiva da ANNAMA RIO DE JANEIRO
– Thiago Magno- Jornalista SEBRAE RJ
15h30: Perguntas e interação com o público
15:45h Mesa 4 – Avanço tecnológico e novas soluções sustentáveis
As tecnologias podem ser fundamentais na transição para cidades mais resilientes, sustentáveis e boas de se morar. No entanto, elas também emitem muitos gases de efeito estufa. A digitalização das empresas e o uso da IA, por exemplo, estão provocando um boom na construção e expansão de data centers. Como conciliar essas agendas de desenvolvimento e a transição energética sustentável?
– Nelson Rocha- Presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Estado RJ
– Gustavo Naciff- Empresa Pública de Energia-EPE
– Thauan Santos- Doutor em Planejamento Energético- COPPE-UFRJ
– Sydnei Menezes- Presidente do Conselho de Arquitetos e Urbanistas do RJ
– Eduardo Mack- Jornalista e mediação
17h – Perguntas e interação com o público
17h15 – Considerações Finais e Encerramento do seminário Cidades Verdes
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Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade