O Amanhã existe, e já começou

Museu que será inaugurado no próximo dia 19 provoca reflexão sobre o futuro

Por Agostinho Vieira | ODS 11ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 7 de dezembro de 2015 - 10:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:53

Uma das cinco partes do Museu do Amanhã, o Antropoceno mostra imagens chocantes do impacto do homem sobre o planeta
Os que estavam preocupados com o futuro do planeta podem se tranquilizar. No Amanhã, o museu, ela aparece bonito logo na entrada
Os que estavam preocupados com o futuro do planeta podem se tranquilizar. No Amanhã, o museu, ela aparece bonito logo na entrada

Se o Museu é do Amanhã mesmo, podemos ficar tranquilos. Porque logo na entrada dá para ver que o “pálido ponto azul”, como definiu certa vez Carl Sagan, ainda estará lá, azul, brilhante, garboso. Quase tão imponente quanto a construção do arquiteto Santiago Calatrava, que se destaca na paisagem da velha Praça Mauá e já é forte candidata a novo ícone do Rio. O tranquilizador globo terrestre, que gira e dá informações em tempo real, é a primeira de uma série de boas surpresas para quem visita o Museu do Amanhã, que será inaugurado no próximo dia 17 e aberto ao público no dia 19.

No entanto, quem imagina que verá no Museu do Amanhã as últimas descobertas científicas, tecnologia de ponta, seres de outros planetas, gente sendo teletransportada ou coisa parecida, vai se decepcionar.  Star Wars não é ali. Como definem os seus criadores, o espaço é dedicado a explorar as possibilidades de construção do futuro. Ou de amanhãs, como prefere o físico e curador do museu Luiz Alberto Oliveira. Cinco perguntas marcam a caminhada pelos 30 mil m² de conhecimento: De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? E como pretendemos viver os próximos 50 anos?

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A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto

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Ou seja, ele podia ter sido batizado, tranquilamente, de Museu do Planeta, Museu da Sustentabilidade ou Museu da Psicanálise. É difícil sair de lá sem pensar no que estamos fazendo com as nossas vidas. As cinco perguntas básicas são respondidas ao longo das cinco áreas principais do museu: Cosmos, Terra, Antropoceno ou Hoje, Amanhã e Nós. O que não falta é informação e interatividade. Os dados científicos são fornecidos por cerca de 80 instituições de todo o mundo, como a NASA, a NOAA, o MIT, a Unesco, o IPCC e as brasileiras COPPE, INPE, USP e UNICAMP.

A atualização das pesquisas e das análises é feita periodicamente. Na parte do Hoje, por exemplo, que mostra o impacto do homem sobre o planeta, já aparecem imagens grandes e chocantes da tragédia de Mariana. Quem estiver lá no dia 19, certamente verá os resultados positivos ou negativos da Conferência do Clima que está acontecendo em Paris. Enquanto isso não acontece, os responsáveis pelo museu correm para conseguir uma certificação LEED de construção sustentável, que é concedida pelo Green Building Council. Ela deve sair no primeiro semestre do ano que vem e tudo indica que será um certificado LEED Gold, o segundo melhor na escala de obras ambientalmente corretas.

A imponente construção, projetada por Santiago Calatrava, ocupa 30 mil m² na região do porto
A imponente construção, projetada por Santiago Calatrava, ocupa 30 mil m² na região do porto

Os painéis solares serão responsáveis por gerar 7% da energia do prédio, a água da chuva será reaproveitada, o entulho da obra foi reciclado e a madeira vem com o selo FSC (Forest Stewardship Council). Mas a maior surpresa, quase tão grande quanto o planeta azul da entrada, é o aproveitamento da poluída água da Baía de Guanabara. Ela é filtrada diariamente e usada para formar um belo lago ao redor da construção. O que faz com que a sensação térmica por ali seja de até 5°C mais agradável.

Ao final da visita, numa construção de madeira – certificada, é claro -, acontece uma experiência de luz e som. É um momento de reflexão, em que o elemento central é um “churinga”, um amuleto muito usado pelos aborígenes australianos. Ele representa o conhecimento adquirido e passado adiante. Boa hora para se lembrar do globo terrestre da entrada e das palavras de Carl Sagan: “A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga vida. Não há outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos de ficar por enquanto. Não há, talvez, melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante do nosso minúsculo mundo. Para mim, destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros, e para preservarmos e protegermos o ‘pálido ponto azul’, o único lar que conhecemos até hoje”.

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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