Antes mesmo da pandemia, a metrópole fluminense já sofria com a falta de cobertura na área da saúde, segundo análise feita pela Casa Fluminense – associação civil com foco em políticas públicas para a Região Metropolitana do Rio. Dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), do Ministério da Saúde, mostram que a cobertura da atenção básica diminuiu 15,3%. Na capital carioca essa baixa também foi significativa. Em 2019, apenas metade da população da cidade do Rio de Janeiro estava coberta pela atenção básica, uma queda de 30% em relação a 2017.
Tanto o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, quanto o governador, Wilson Witzel, estão sendo investigados por crimes ligados à área da saúde. O governador já foi afastado e possui processo de impeachment aberto, e o prefeito carioca está inelegível e acompanha a tramitação de uma CPI da Câmara dos Vereadores que vai analisar denúncias sobre seu último escândalo, os chamados “guardiões do Crivella”.
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Veja o que já enviamos[g1_quote author_name=”Mateus Leal” author_description=”Pesquisador da área de saúde pública” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]
A atenção básica é o principal instrumento nesse trabalho de vigilância e monitoramento dos territórios. São os profissionais que estão mais próximos das comunidades, por isso são peças chaves para a diminuição dos casos e conscientização da população. Mas vivemos um processo de precarização, falta de investimentos e profissionais
[/g1_quote]Essas informações são resultado de um cálculo feito pelo Ministério da Saúde. A conta cruza a quantidade de equipe de saúde cadastrada pelas secretarias municipais do setor e a estimativa de população das cidades, feita pelo IBGE. Com esse cruzamento, o ministério consegue ter uma noção do tamanho da população que pode ser alcançada pelas equipes de saúde da região.
Por mais importante que seja esse cálculo, o pesquisador Guilherme Braga Alves, responsável na Casa Fluminense por organizar as informações, afirmou existir um entrave nessa conta. “Existe uma limitação nesses dados: eles não conseguem nos dizer o quanto de cobertura territorial está sendo contemplada de fato, trazem apenas o potencial de cobertura. Por exemplo, é possível que esses profissionais de saúde estejam concentrados em um bairro do município. Quem mora longe dele não teria acesso ao serviço. Na prática, a cobertura por ser ainda menor do que a que os números mostraram”, alertou o pesquisador.
Recentemente, USP, Fiocruz, UFPel e UFBA publicaram em parceria a pesquisa “Desafios da Atenção Básica no enfrentamento da pandemia da Covid-19 no SUS”. Neste relatório, as entidades ressaltam a importância dos serviços de atenção primária no enfrentamento da pandemia. Para o psicólogo Matheus Leal, pesquisador da área de saúde pública, a atenção básica é a principal política pública capaz de diminuir as taxas de contágio. O pesquisador, que atualmente estuda saúde da família, explica que, com a pandemia, esse serviço, que não estava sendo colocado como prioridade, se tornou ainda mais fundamental. “A atenção básica é o principal instrumento nesse trabalho de vigilância e monitoramento dos territórios. São os profissionais que estão mais próximos das comunidades, por isso são peças chaves para a diminuição dos casos e conscientização da população. Mas vivemos um processo de precarização, falta de investimentos e profissionais”, lamentou o especialista.
Ampliar a cobertura da atenção básica, que executa um trabalho intersetorial nos municípios, é a pauta prioritária do eixo de saúde da nova edição Agenda Rio 2030, que foi lançada recentemente pela Casa Fluminense. Com os desafios somados neste ano, a organização acredita que a contratação de profissionais de todas as áreas da saúde é o caminho para garantir a estratégia de saúde da família (ESF) e o funcionamento das unidades do SUS, especialmente nas periferias e favelas.
A crise na saúde, que se intensificou com a pandemia, mostrou as falhas do modelo de gestão dos municípios e do estado. Por isso, de olho no próximo ciclo municipal, a Casa Fluminense coloca como prioridade para área da gestão pública a produção e divulgação de um plano de metas para os municípios. Essa é uma forma dos futuros prefeitos já iniciarem a sua gestão estimulando a transparência e participação social, o que ajudaria a evitar cenários caóticos como o atual.
A publicação Agenda Rio 2030 reúne uma série de propostas de políticas públicas pautadas pela redução da desigualdade na região metropolitana do Rio. Produzida de forma coletiva, a agenda é dividida em 10 eixos temáticos: habitação, emprego, transporte, segurança, saneamento, saúde, educação, cultura, assistência social e gestão pública. Para cada um deles, são apresentados um diagnóstico da situação atual e em seguida 10 propostas de mudança.