ODS 1
Candidatos a prefeito de Rio e São Paulo ignoram agrotóxicos e energia solar, mas saneamento e mobilidade ganham força
Construção de novos parques, plantio de 50 mil árvores e investimento em alimentação saudável também aparecem nos programas ambientais
As preocupações ambientais dos planos de governo dos principais candidatos a prefeito de Rio e São Paulo estão mais focadas no saneamento básico e na mobilidade urbana do que no combate aos agrotóxicos e na alavancagem de programas de energias limpas. O #Colabora analisou os programas de sete candidatos nas duas capitais – três deles não haviam entregue o documento com propostas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o domingo, 27 de setembro (data oficial do início da campanha). O critério foi a análise dos cinco mais bem colocados em pesquisas recentes (Paraná Pesquisas no Rio, e Ibope, em São Paulo). No Rio, apenas Benedita da Silva (PT) cita a necessidade de expansão da energia solar; em São Paulo, os candidatos abordam o tema do saneamento, mas se esquecem de citar o Rio Tietê, um flagelo histórico dos paulistanos. O incentivo à bicicleta, porém, ganha destaque.
Líder das pesquisas na capital paulista, o jornalista Celso Russomanno (Republicanos), dedica quatro páginas de seu plano ao “meio ambiente e sustentabilidade”. Quer “modernizar a estrutura administrativa do sistema municipal de gestão ambiental” e planeja dar mais espaço para o transporte limpo em duas rodas: “Refazer o plano diretor de logística de abastecimento e trânsito por meio de bicicletas e patinetes (bicicletas, patinetes e outros meios alternativos de transporte) na cidade de São Paulo”. Russomanno cita ainda práticas como fitorremediação e uso de meios naturais para a limpeza de rios.
Atual prefeito, o tucano Bruno Covas, que aparece na vice-liderança nas pesquisas de intenção de voto, menciona a inauguração de novos parques, como o Augusta e o Paraisópolis, “há anos aguardados pela população”, e promete manutenção cuidadosa e permanente das unidades já existentes. Ao contrário de Russomanno, Covas cita as mudanças climáticas, mas escreve apenas que as ações vinculadas à Política Municipal de Mudança do Clima “serão aperfeiçoadas”.
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Veja o que já enviamosGuilherme Boulos (PSOL) e Jilmar Tatto (PT) não disponibilizaram o documento. Marcio França (PSB) não dedica nenhuma das 35 páginas do seu programa ao saneamento básico e às mudanças climáticas. Cita, entretanto, quatro vezes o transporte por bicicletas e promete “readequação do tráfego na região central da Capital, incentivando a locomoção a pé ou por bicicletas ou outros meios não motorizados”.
Martha Rocha (PDT) quer merenda sem agrotóxicos
Na ponta oposta da Via Dutra, os postulantes ao Palácio da Cidade do Rio de Janeiro também concordam que o saneamento básico é a principal agenda ambiental a ser enfrentada – pelo menos é o que dizem os documentos que balizam as candidaturas. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) não dedica ao meio ambiente um espaço tão generoso quanto os seus adversários. Em seu site, o candidato é sucinto: afirma que planeja plantar, até o fim do mandato, 50 mil mudas de árvores, “visando ampliar em 25% a área do município em que exista um espaço verde a no máximo 15 minutos de caminhada”. E diz que vai “expandir em 25% a cobertura de saneamento nas comunidades da cidade por meio de parcerias público-privadas (PPP)”.
Candidato à reeleição, Marcelo Crivella (Republicanos) não havia apresentado o documento ao TSE até às 23h de domingo (27).
A pedetista Martha Rocha, ex-chefe da Polícia Civil, é a candidata recordista em citações ambientais. Apresentou um extenso plano de governo (128 páginas), e o meio ambiente ganhou seis delas. É a única candidata que cita o problema dos agrotóxicos na merenda escolar – “estímulo à alimentação saudável na forma de “refeições-aulas”. Também promete um plano de prevenção de desastres e alagamentos na cidade. Martha cita saneamento 16 vezes no texto.
Ex-governadora, Benedita da Silva (PT) também dedica muito espaço às ações ambientais (a seção “meio ambiente e saneamento” tem três páginas) e é a única candidata que fala expressamente sobre incentivo à energia solar. Defende ainda um programa de segurança alimentar “que promova a produção familiar, atue sobre o valor final da cesta básica e promova o atendimento direto da população de baixa renda”.
Bandeira de Mello (Rede) não fugiu da polêmica construção do novo autódromo na Floresta do Camboatá, em Deodoro, Zona Oeste do Rio. O empreendimento está em fase de análise pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), mas é uma iniciativa conjunta da prefeitura, estado e União. “Autódromo pode ser construído em outro lugar”, defende, no documento em que dedica 10 das 58 páginas à sustentabilidade. Ex-presidente do Clube de Regatas do Flamengo, o economista promete recuperar a Fundação Parque e Jardins e identificar e catalogar as mais de 6 milhões de árvores localizadas nas ruas da cidade.
O candidato a prefeito que não apresentar o seu plano de governo não é habilitado a participar da eleição. O primeiro turno das eleições municipais está marcado para o dia 15 de novembro. São 24.558 candidatos a vereador nas cidades do Estado do Rio – 14% a mais em relação ao último pleito, quando eram 21.395 candidatos. No Estado de São Paulo, são 86.499 candidatos a vereador, 5% a mais em relação a 2016 (82.073 candidatos).
Jornalista formado em 2006 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou nos jornais O Fluminense, O Dia e O Globo, no qual ficou por oito anos cobrindo temas ligados ao meio ambiente. Editor de Conteúdo do Museu do Amanhã. Tem pós-graduação em Gestão Ambiental e cursa mestra em Engenharia Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Apaixonado pela profissão, acredita que sempre haverá gente interessada em ouvir boas histórias.