ODS 1
Nos Jogos Olímpicos com recorde de atletas LGBT+, Marta estreia dedicando gol à noiva
Delegação brasileira tem outros representantes da comunidade LGBT+ no futebol e também no vôlei; são 163 em Tóquio, três vezes mais que no Rio
Marta não se cansa de fazer história. A alagoana de 35 anos estreou nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 com dois golaços – dentro e fora de campo. Além de se tornar a segunda maior artilheira da seleção brasileira em Olimpíadas e a primeira jogadora a marcar em cinco Jogos Olímpicos, o seu 12º gol veio com uma mensagem: ela comemorou com os braços formando um T, inicial da noiva Toni Deion Pressley, companheira de clube. Foi a primeira vez que qualquer atleta LGBT+ – da seleção principal, masculina ou feminina – dedicou um gol a um parceiro do mesmo sexo.
Em uma edição dos Jogos Olímpicos em que 163 atletas fazem parte da comunidade LGBT+, Marta deixou um recado logo no início da programação: o esporte não é um lugar para preconceito. Segundo dados da organização OutSports, site sobre esportes voltado ao público LGBT, o aumento do número de atletas publicamente LGBT+ quase triplicou em relação aos Jogos do Rio 2016 quando eram 56, também mais do que o dobro dos 23 de Londres 2012
Após a partida, vencida pelo Brasil com uma goleada de 5×0 sobre a China, a camisa 10 da seleção contou que planejava dedicar o primeiro gol que fez na partida para Toni, mas, durante a comemoração, as companheiras de time atrapalharam seus planos. Felizmente, a craque marcou mais uma vez e conseguiu fazer a homenagem, que foi assunto nas redes sociais. O nome “Toni” entrou no ranking de assuntos mais falados na categoria de Esporte durante o jogo, com mais de 23 mil tweets contendo o nome da noiva de Marta.
A alagoana, eleita seis vezes a melhor do mundo, não é a única jogadora com relacionamento com outra mulher na seleção brasileira. As goleiras Bárbara Letícia e Aline também já postaram em suas redes sociais fotos com companheiras, assim como Debinha, Andressa Alves e Formiga. A maior artilheira da seleção em Jogos Olímpicos, Cristiane, não foi convocada para Tóquio 2020, mas ainda participou do jogo. Ela fez parte da equipe de comentaristas da Globo, e estava com o filho Bento, fruto do casamento com a advogada Ana Paula.
Talvez a mais conhecida figura do movimento LGBT+ dentro do futebol, a estadunidense Megan Rapinoe foi assunto na Copa do Mundo da França, em 2019. Ao ser perguntada sobre a causa, já que a Copa foi disputada em junho, o Mês do Orgulho LGBT+, a atleta fez um comentário que repercute até hoje no mundo do esporte: “Não dá para ganhar um campeonato sem gays [em inglês, o termo gay é comumente utilizado para mulheres também] no seu time. Nunca aconteceu antes. É ciência”. Rapinoe atualmente namora Sue Bird, jogadora de basquete da seleção dos Estados Unidos, que também está nessa edição dos Jogos Olímpicos.
Vôlei também é polo de diversidade
Não é só no futebol, no entanto, que atletas não heterossexuais se destacam. Na equipe feminina de vôlei do Brasil, diversos atletas também já tornaram públicos relacionamentos homoafetivos. Entre elas, estão a ponteira Gabi, a levantadora Roberta, a também atacante Ana Carolina e a central Carol Gattaz, que no dia do Orgulho LGBT+, 28 de junho, postou uma foto com as cores do arco-íris e a legenda: “Sai com o seu preconceito, porque eu vou passar com o meu amor”.
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Veja o que já enviamosMas quem está se destacando em Tóquio antes mesmo de entrar em quadra é o ponteiro Douglas Souza, da seleção masculina de voleibol. O paulista de 25 anos viralizou nas redes sociais com posts bem humorados mostrando os bastidores da Vila Olímpica em Tóquio. O post sambando em cima da cama “antissexo” feita de papelão conquistou o público, assim como os vídeos cantando o novo álbum de Pabllo Vittar, “Batidão Tropical”, na concentração.
Douglas, que nunca escondeu sua orientação sexual, ganhou mais de 1 milhão de seguidores em 3 dias, e já foi contratado pela maior agência de influenciadores digitais do país, a Mynd, que tem como sócia a cantora Preta Gil. O sucesso foi tanto que ele está sendo chamado de “reizinho” até pela Globo, e a drag queen Bianca Dellafancy resume o sentimento despertado em milhares de espectadores no país com um meme: “Douglas me fez patriota quando ninguém mais tentou”.
Atleta trans em foco
Outro destaque do primeiro dia dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 foi o uso do pronome neutro pela narradora Natália Lara, do SporTV. Ao se referir a Quinn, jogadora da seleção canadense de futebol que se define como pessoa trans não-binária – ou seja, que não se identifica nem com o gênero masculino nem com o feminino -, a narradora utilizou o pronome “elu”, adotado pelos membros da comunidade. O gesto não passou despercebido na internet e Natália comentou no Twitter: “Que eu possa ser sempre agente de transformação. É um pequeno passo que damos pra uma maior inclusão”.
Tóquio 2020 – evento realizado em 2021 devido à pandemia – também marca a estreia de atleta transgênero no evento: a neozelandesa Laurel Hubbard, mulher trans classificada para disputar a competição de levantamento de peso, categoria acima de 87 quilos. Em resposta a críticas sobre supostas vantagens que teria em relação as mulheres cis da competição, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, reforçou que os níveis de testosterona da atleta estão dentro da margem exigida pela federação internacional de levantamento de peso. “É um tema que envolve medicina e direitos humanos”, disse.
No Japão, país em que o casamento entre pessoas do mesmo gênero ainda não é legalizado, apesar de avanços recentes, passos como esses dados pelos competidores dos Jogos Olímpicos de Tóquio são vitais para quebrar preconceitos sociais. O arco-íris no cabelo da corredora canadense Gabriela Bues-Stafford, bissexual, deixa clara a mensagem: os atletas LGBT+ estão aí, e vão exibir seu orgulho dentro e fora dos locais de competição.
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Laís Malek é jornalista e cineasta formada pela PUC-Rio. Tem interesse em pautas sobre inclusão social, cultura, esporte e o Rio de Janeiro, cidade pela qual a capixaba divide seu coração.