ODS 1
Escolas fazem bingo e festas para conseguir consertar bebedouros
Escolas sem água filtrada, sem energia elétrica e até sem esgoto: essa é a realidade de instituições de ensino do Amazonas, estado que tem um dos piores percentuais de escolas da educação básica com infraestrutura escolar adequada, segundo o Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação), uma plataforma formada por 27 organizações, coordenada pelo movimento Todos Pela Educação. Apenas 0,4% das instituições públicas dessa etapa escolar (que engloba educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) têm o que o Ministério da Educação (MEC) considera equipamentos ideais para um ambiente de ensino. O estado só não está em situação pior que Amapá e Maranhão, empatados com 0,3%. Em todo o país, o número também é baixo. Com base nos dados do último Censo Escolar, de 2017, viu-se que apenas 4,2% das escolas atingiram o ideal, que é ter acesso a energia elétrica, abastecimento de água tratada, esgotamento sanitário, acesso a espaços para a prática esportiva, biblioteca ou sala de leitura, acesso à internet de banda larga, equipamentos e laboratórios de ciências e acessibilidade a pessoas com deficiência. Segundo a lei federal do PNE, a meta é que, até 2024, todas as instituições de ensino do país estejam nesse padrão.
E. M. E. F. Joaquim G. Pinheiro
E. M. E. F. João Valente
Mas é evidente que estamos bem longe disso. Das escolas públicas da educação básica do Amazonas, apenas 5,5% (280) disseram ter acesso a esgoto sanitário, de acordo com os dados do Censo, tabulados pelo Observatório do PNE. O abastecimento com água tratada contempla apenas 55,7% (2.855) das instituições, e somente 74% (3.791) têm acesso a energia elétrica.
O pesquisador Raphael Demóstenes Cardozo, mestrando da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que estuda a infraestrutura das escolas brasileiras e também tabulou os dados do Censo, considera que apenas seis escolas públicas de ensino fundamental possam ser consideradas de referência no Amazonas:
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Veja o que já enviamos“E mesmo assim somente se não considerarmos a acessibilidade a pessoas com deficiência. Por isso, baixamos o sarrafo. Fora que, quando olhamos os dados do Censo temos acesso apenas a números quantitativos. Sabemos, por exemplo, que há computadores, mas não se eles estão defasados e até sem funcionamento”, disse Cardozo, que tendo como base 27 itens, classificou as escolas como “sem infraestrutura”, com “infraestrutura primária”, com “infraestrutura mediana” e com “infraestrutura adequada”.
A agência “Amazônia Real” parceira do #Colabora e do jornal “Correio” nesta série de reportagens que mostra o segredo das escolas campeãs em superação, esteve em duas dessas instituições de referência elencadas por Cardozo, ambas na capital amazonense. Durante a visita à Escola Municipal Professor Joaquim Gonzaga Pinheiro, localizada no bairro da Vila da Prata, a estudante Lia Vitória Castro da Silva, 11 anos, aluna do 6º ano, lia o livro “Amanhecer Esmeralda”, do autor paulista Ferréz, que conta a história de uma menina pobre e sonhadora, como tantas que moram nos bairros periféricos de Manaus. Mas em vez de folhear a obra na biblioteca, Lia conhecia o texto por meio de um dos computadores do telecentro, que tem internet banda larga, algo raro nas escolas públicas do Amazonas. De acordo com os dados do Observatório do PNE, apenas 17% (870 unidades) têm banda larga no estado.
“Adoro ler livros na internet. Aqui na escola, temos algumas janelas e ar-condicionado quebrados, mas isso não faz diferença”, avalia a menina.
Jornalista, com mestrado em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trabalhou nos jornais O Globo e Extra e foi estagiária da rádio CBN. Há mais de dez anos trabalha com foco em internet. Foi editora-assistente do site da Revista Ela, d'O Globo, onde se especializou nas áreas de moda, beleza, gastronomia, decoração e comportamento. Também atuou em outras editorias do jornal cobrindo política, economia, esportes e cidade.