ODS 1
Oficinas de audiovisual para jovens da periferia
Cinema Nosso
Num sobrado antigo na Lapa, entre pôsteres de filmes, uma sala de projeção e o gato Chico, bichano de estimação local, funciona a ONG Cinema Nosso, organização que busca ampliar o universo cultural dos jovens da periferia por meio do audiovisual.
Mas quando se fala neste setor, pouca gente se lembra dos jogos digitais. Não para esta ONG, que, além de trabalhar com os produtos tradicionais do audiovisual, vem apostando no mundo dos games. “Existe uma grande rede de produtores e consumidores de jogos independentes na cidade”, explica a analista de comunicação da ONG, Luciana Rocha.
[g1_quote author_name=”Mércia Britto” author_description=”diretora da ONG” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Os games são uma forma de contar uma história. Nossa proposta é ampliar o conhecimento dos jovens sobre os jogos feitos no país e ajudar na produção dos games com narrativas próprias
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosNo ano passado, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, o Cinema Nosso realizou a 1ª edição do Festival Rio Indie Games. O evento contou com oficinas e teve seu grande final no Imperator, tradicional casa de shows do Méier, zona Norte do Rio.
“Os games são uma forma de contar uma história. Nossa proposta é ampliar o conhecimento dos jovens sobre os jogos feitos no país e ajudar na produção dos games com narrativas próprias”, explica a diretora da instituição, Mércia Britto.
Os participantes do festival criaram jogos e um júri técnico escolheu 12 deles, que foram levados para o Imperator, onde o público votou nos melhores. O objetivo é realizar em novembro deste ano a 2ª edição do Indie Games. “Havia jogos feitos em casa, na escola, em empresas, produtoras. No final, o game vencedor foi criado por alunos de uma Escola Nave (Núcleo Avançado em Educação, parceria da Oi Futuro com a Secretaria de Estado de Educação do Rio) da Tijuca”, afirma Luciana.
Circuito de batalhas
A ONG criou até um circuito de batalhas de games, que passa por centros e lonas culturais espalhadas pela cidade e escolas. Não se trata apenas de jovens sentados em frente ao computador, disputando quem dá mais tiros. Os games são considerados um produto audiovisual como outro qualquer. “É uma forma de expressão. Somos um centro cultural que abre as portas para tudo que se passa no mundo dos jovens, como séries, televisão, cinema, aplicativos. Trabalhar com os games foi uma evolução natural”, conta Mércia.
As batalhas são uma espécie de jogo comentado. Tem palestras e contam com a participação dos desenvolvedores e especialistas, que explicam o que se passa na tela. Além disso, a ONG passou a incluir os games entre os temas de seus cursos. O jovem Thiago Pereira, de 20 anos, fez as aulas de desenvolvimento de jogos: “Cada um tem um universo diferente, cheio de possibilidades e repletos de emoções”.
Na Cinema Nosso, a turma de Thiago criou uma experiência literária na qual o leitor/jogador é apresentado à história por meio de textos e toma decisões pelo protagonista. “Aprendi sobre produção de roteiros e premissas básicas de narrativa num jogo”, conta o morador do Flamengo.
Inspiração no cinema
A ONG Cinema Nosso foi criada em 2000, após as filmagens de Cidade de Deus. Seu idealizador é Luis Lomenha, que participou das oficinas realizadas na comunidade para selecionar atores para o filme. Atualmente, ele comanda a produtora Jabuti Filmes, que funciona dentro do sobrado na Lapa, para onde a ONG se mudou em 2007.
[g1_quote author_name=”Ana Beatriz Thimoteo Ramos” author_description=”aluna da ONG Cinema Nosso” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Soube que a Jabuti precisava de estagiário e mandei currículo. Tudo que aprendi devo ao Cinema Nosso. Hoje, sou assistente de produção
[/g1_quote]A Jabuti emprega pessoas que passaram pelos cursos da entidade. É o caso da moradora de Jardim Sulacap Ana Beatriz Thimoteo Ramos, de 22 anos, que fez curso de roteiro de ficção na instituição, no qual os alunos produziram um curta. Ela diz que, apesar da democratização dos meios digitais, entrar no mercado audiovisual é difícil para quem não tem dinheiro.
“Soube que a Jabuti precisava de estagiário e mandei currículo. Tudo que aprendi devo ao Cinema Nosso. Hoje sou assistente de produção”, afirma. O carro-chefe da Jabuti é Minha Rua, série apresentada por Leandro Firmino, o Zé Pequeno de Cidade de Deus.
Entre outras iniciativas da ONG está o projeto Brasil 3.0, que levou oficinas de audiovisual para lugares com pouco acesso à tecnologia, como Pedra Lavrada (na Paraíba) e Jurena Mato Grosso (Mato Grosso). Ao final, foi realizado o festival 100×100 Brasil, no qual ONGs de várias regiões do país se juntaram a moradores do Rio e ex-alunos do Cinema Nosso para produzir três filmes com temática socioambiental sobre a Baía de Guanabara. A meta agora é buscar patrocínio para repetir o evento.
Consultoria e cultura digital
Há dois anos, a ONG se tornou um Pontão de Cultura, o Pontão Arroios, que presta consultoria em comunicação e cultura digital para a rede de pontos de cultura do Rio. O projeto elaborou um mapa dos pontos de cultura do município, o Teia Rio, e lançou em fevereiro a WebTv, que multiplica o conteúdo audiovisual feito nestes locais.
No horizonte próximo, a ONG retomará as atividades de sua sala de cinema, a LapaCine. O local recebe festivais e maratonas culturais e temáticas com entrada gratuita. Em março, a instituição iniciou projeto de consultoria para 15 equipes que venceram editais para a realização de curtas. A instituição acompanhará todo o processo de produção dos filmes, desde criação até finalização e distribuição. Além disso, em 2017, a ONG Cinema Nosso está investindo nas oficinas de curta duração, em áreas como redes sociais, programação web e rádio e TV.
Relacionadas
Denis Kuck é jornalista desde criança, quando acompanhava o pai repórter nas sessões da CPI do PC, em Brasília. Anos depois, formou-se pela UFRJ, foi assistente do escritor Fernando Morais e trabalhou nas redações do Ciência Hoje, O Globo, Agência EFE e do irreverente Perú Molhado, de Búzios. Recentemente, no Comitê Rio 2016, foi editor/repórter do jornal distribuído dentro da Vila Olímpica, o Village Life. Atualmente, é freelancer e editor do Notícias em Português, publicação de Londres.