Dançando na escuridão

Associação de Balé de Cegos Fernanda Bianchini

Por Felipe Porciuncula | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 10 de março de 2016 - 09:00 • Atualizada em 3 de setembro de 2017 - 01:24

Apresentação dos alunos da Associação de Ballet e Artes para Cegos
Apresentação dos alunos da Associação de Ballet e Artes para Cegos
Alunos apresentam coreografia durante espetáculo em São Paulo

A cidade de Colônia, na Polônia, será o próximo destino do corpo de baile da Associação de Balé de Cegos Fernanda Bianchini. Os bailarinos vão apresentar o espetáculo “Divertssiments”, durante o Festival Wroctaw 2016. Não é a primeira vez que a primeira companhia de dança do mundo com alunos portadores de deficiências mostram suas coreografias em palcos internacionais. Em 2015, participaram do Festival de Dança Internacional (exclusivo para portadores de deficiências), na Alemanha, e, em 2012, encerraram a Paraolimpíada de Londres, ao lado dos primeiros bailarinos do Royal Ballet, os brasileiros Thiago Soares e Roberta Marquez.

As aulas de balle clássico, sapateado, dança de salão, expressão corporal e teatro são freqüentadas por alunos com todo tipo de deficiência: visual, motora, intelectual … As aulas são baseadas em um método pioneiro desenvolvido pela bailarina e fisioterapeuta Fernanda Bianchini. Eles aprendem através do toque, já que cerca de 60% dos alunos são cegos ou tem grande dificuldade visual. Nem por isso são poupados de dominar o linguajar do ballet clássico e, especialmente, seus passos: Plié, Tendu, Ronde jambe, Frappé, Grand Battement, En dehors. As posições são ensinadas individualmente até que o aluno domine a técnica e adquira a leveza necessária para romper limites e sair dançando – mesmo que seja na escuridão.

Coreografia montada para comemorar os 20 anos da Cia Ballet de Cegos

Até o bailarino russo Mikhail Baryshnikov ficou admirado quando viu os alunos da Cia Ballet de Cegos dançarem. Isso foi em 2007, quando ele esteve em São Paulo. Um ano depois, foi a vez dos bailarinos da Russian State Ballet e da Companhia de David Parsons – que presenteou o grupo com uma de suas coreografias – ficarem surpresos.

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O fato de não terem visão de modo nenhum impede que possam dançar

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A escola atende 180 jovens e as aulas são gratuitas. A Cia de Ballet de Cegos já coreografou “Casa de Bonecas”, em 2005, “Quebra-Nozes”, em 2008, e “Dom Quixote”, em 2011, e “A Bela Adormecida”, em 2012.

A história de Fernanda se confunde com a da Associação, criada em 2003. Aos 15 anos, trabalhava como voluntária na Associação de Cegos Padre Chico e recebeu a missão de dar aulas de dança para cegos. Sete anos depois resolveu ampliar o atendimento para outras pessoas. Foi aí que surgiu a Associação Fernanda Bianchini.

Para evitar tropeços, o grupo faz um bom reconhecimento do palco, delimitando as marcações para que cada dançarino tenha o controle dos seus movimentos. Outro segredo é misturar alunos com algum grau de visão com cegos. Como 10% dos dançarinos têm visão normal, eles auxiliam seus colegas na execução da coreografia. É o caso da bailarina Cintia Souza, de 24 anos, que tem 20% da visão. Sua deficiência começou a se manifestar aos 17 anos. Há 4 anos começou a dançar.

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Nunca pensei que pudesse sair do Brasil e, muito menos, pisar em um palco europeu

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Por conta de participar do júri do Faustão no quadro “A dança dos famosos”, em 2006, a Associação ficou conhecida nacionalmente, pois a produção do programa gravou uma apresentação especial do grupo no Teatro Municipal de São Paulo. O próprio Faustão deu um depoimento pessoal apoiando o projeto.

 

As aulas misturam alunos com todo o tipo de deficiência

Contando com um orçamento anual de R$ 1 milhão – com contribuições do Laboratório Libbs e do Banco Itaú, o financiamento é dado através de renúncia fiscal, por meio de leis de incentivo. A meta é imprimir transparência na prestação de contas e adotar a publicação trimestral do balanço no site – o que ainda não ocorre.

Felipe Porciuncula

Jornalista com 25 anos de estrada. Passou pelas redações de Jornal do Comercio, TV Pernambuco, Valor Econômico e GloboNews. Faz parte da Ashoka Society, onde teve apoio para seu projeto Agência Popular de Notícias. Foi consultor da Unicef e da Unesco. Editou o livro “Guia para o amanhã: sustentabilidade e mudanças climáticas”, publicado pela editora Senac (finalista do Prêmio Jabuti 2010). Adora cinema e viajar. Escreve ficção. Gosta muito de estudar a ciência da política.

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