O FBI entrou na briga nos Estados Unidos para acabar com maus-tratos contra animais. A decisão começou a vigorar este ano e, desde então, casos de extrema violência deixaram de ser identificados na categoria de “outros crimes”, apenas porque a vítima em questão era um animal. Por aqui, ainda que seja crime, a pena é branda e, o pior, nunca ninguém foi preso por maltratar animais. A pena prevista é de três meses a um ano e a multa varia de R$ 500 a R$ 2 mil. O assunto virou alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que, ao final dos trabalhos, no ano passado, recomendou a proibição das vaquejadas, o uso de animais em rodeios e as rinhas de galo no país, além dos testes e tráfico de espécies.
O Brasil é o quarto país do mundo em quantidade de animais, de um total de 1,5 bilhão de espécies. Só os animais domésticos somam 132 milhões, segundo Censo do IBGE, de 2013. A população de cães era, naquele ano, mais que o dobro da de gatos: 52 milhões contra 22 milhões, respectivamente. Ambos são alvo de abandono indiscriminado e seus autores estão cometendo um crime, que incide em qualquer lugar ou meio social. O abandono é apenas uma das facetas das crueldades cometidas contra animais. Outras modalidades são, por exemplo, o uso de animais em circo.
[g1_quote author_name=”Ila Franco” author_description=”Fundadora da Aila” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Nossa proposta é estimular a criação de animais de forma saudável, até porque muitas dessas práticas irracionais são consideradas crimes
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Veja o que já enviamosO caso de Madú, uma elefante fêmea, que era uma das atrações do circo Vostok, é emblemático. No picadeiro, o bicho era vítima de crueldades recorrentes praticadas por um tratador, que, segundo denúncias, à época, vivia “em estado de embriaguez”. O ano era 1999 e Ila Franco, que sempre gostou de bichos, acabara de inaugurar um consultório veterinário gratuito em Paraisópolis – um bairro favelizado da zona sul de São Paulo. Como não é veterinária, contratou um profissional para cuidar do consultório aberto no bairro, que, segundo informações que chegavam aos seus ouvidos, concentrava um alto índice de abusos contra animais, especialmente os domésticos. Entre os casos de arbitrariedades cometidas contra animais, Ila acabou conhecendo a história de Madú, que trabalhava no circo em Caraguatatuba, no litoral Norte de São Paulo.
Do pequeno consultório em Paraisópolis, Ila se transformou em uma ativista em defesa dos animais domésticos ou não. Virou uma militante da causa, abraçou o caso de Madú e partiu para a briga.
“Quando cheguei no circo, vi que Madú tinha várias marcas de pauladas e, há mais de um mês, não tomava banho”, lembra Ila, que decidiu entrar numa briga judicial para libertar o animal dos maus-tratos. Lutou incansavelmente na Justiça por cinco anos, até que ganhou a disputa. Só que foi uma vitória de Pirro, porque os donos do Vostok, em represália, eletrocultaram Madú. A elefante morreu logo depois de seus donos serem condenados pelos maus-tratos.
O engajamento na luta fez com que Ila transformasse o pequeno consultório veterinário em uma ONG: a Aliança Internacional do Animal (Aila), que, apesar do nome, não tem representações fora do país.
Dezessete anos depois de abrir as portas da Aila, a entidade já acumulou vitórias significativas nestes 17 anos: o fim da descompressão na cidade de São Paulo, que asfixiava animais abandonados e que foi abolida pelo ex-secretário de saúde, Eduardo Jorge, e o fim dos rodeios em áreas urbanas.
Para evitar mortes violentas, a entidade faz periodicamente a esterelização de animais de ruas na Região Metropolitana de São Paulo. A Aila tem uma filial em Cotia, onde atende os casos dos municípios da Grande São Paulo. “Nossa proposta é estimular a criação de animais de forma saudável, até porque muitas dessas práticas irracionais são consideradas crimes”, comenta Ila. A Aila atende, atualmente, cerca de 1.200 animais, que incluem gatos, cachorros, cavalos e até galinhas (sacrificadas em cerimônias religiosas).