O astronauta norte-americano Chris Cassidy nunca esteve na Amazônia, mas conhecia bem a floresta, observada por ele a 400 km de altura, da Estação Espacial Internacional. Esse velho conhecido quis se tornar mais “íntimo” do bioma e decidiu pedalar com dois brasileiros por 1.000 km da Rodovia Transamazônica, numa aventura que durou pouco mais de duas semanas de setembro. Para sua surpresa, aquela Amazônia dos tempos de Espaço estava muito diferente. Para pior.
[g1_quote author_name=”Chris Cassidy” author_description=”Astronauta da Nasa” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Os sinais do desmatamento estavam por todo lado. Em qualquer lugar tinha alguma pegada do homem impactando a floresta
[/g1_quote]“Eu não estava certo sobre o quanto eu iria ver de desmatamento. Estava por todo lado. Em qualquer lugar tinha alguma pegada do homem impactando a floresta. Eram áreas de vegetação se tornando potenciais espaços para o gado”, afirmou o astronauta da agência espacial americana (Nasa) em entrevista ao #Colabora.
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Veja o que já enviamosCassidy acompanhou Paulo Moutinho e Osvaldo Stella, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), na expedição Transamazonica25, que lembra os 25 anos da primeira viagem pela rota feita por Osvaldo Stella. O trio saiu dia 8 de setembro de Itaituba, no Pará, e chegou dia 26 a Humaitá, no Amazonas. O projeto acompanha o impacto da urbanização nas cidades cortadas pela estrada. Em 2013, Stella e outros colegas já tinham feito esta pedalada, relembrando os 20 anos do feito. Desta vez, eles tinham um “rocket man” como companhia.
Cassidy conta que o trecho era curioso por ser repleto de morros, alternando com áreas planas, o que deixou o percurso ainda mais desafiador. “O clima estava muito seco e não choveu ao longo das duas semanas de viagem. Isso me surpreendeu”, disse o astronauta, que esteve duas vezes no Espaço, em 2009 e 2013.
Segundo Osvaldo Stella, seriam 1.000 km de bicicleta em um trecho em que o processo de urbanização não chegou com tanta intensidade, mas com impactos graves. “Há 25 anos, não era possível rodar por essa estrada, mesmo na época de seca. A população ficava por sua conta e risco. Hoje a rodovia funciona, mas a relação das pessoas com o meio ambiente continua a mesma: garimpo, desmatamento, pastagem extensiva”, explica. “A gente percebe que esse primitivismo, em termos de economia e desenvolvimento para a Amazônia, é basicamente o mesmo dos tempos em que o Brasil foi descoberto. É inacreditável”, complementa Stella.
No arco do desmatamento
O astronauta da Nasa conta que uma das imagens que mais o chocou foi a de um castanheiro solitário em meio à uma vegetação totalmente destruída pelo fogo. “É uma imagem mental que me acompanha sempre, na verdade”.
Itaituba e Humaitá estão localizadas no chamado Arco do desmatamento, terras do Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e que registram os maiores índices de devastação da Amazônia. Entre 2001 e 2016, a paraense Itaituba derrubou 5.486 km² de floresta, enquanto a amazonense Humaitá desmatou 745 km² no mesmo período.
Em toda o bioma há um avanço do desflorestamento. Os dados mais recentes (do ano passado) do sistema Prodes – Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal, levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, apontam perda de 7.893 km² de vegetação em 2016, montante 27% maior em relação ao ano anterior.
Paulo Moutinho, do IPAM, explica que durante a pedalada eles enfrentaram dias de seca e calor, sem chuva, e era notável a diferença do clima entre áreas sem floresta e trechos intactos de vegetação.
“A floresta atua como um ‘ar-condicionado, no sentido que providencia uma temperatura mais amena ao longo do caminho. Isso acontecia principalmente quando passávamos por terras indígenas e áreas protegidas. Quando íamos para áreas abertas, com fumaça e incêndio, era insuportável. A gente tinha que parar. Esse desconforto térmico e a falta de chuvas, cada vez mais frequente, são resultados de um modelo de desenvolvimento aplicado nas últimas décadas”, afirma.
Ainda segundo Paulo, o grande desafio da sociedade brasileira é alertar sobre a necessidade de escolher o futuro ideal para a floresta, com alternativas sustentáveis, que podem sim incluir a agricultura e a pecuária, mas mantendo o serviço ambiental.
Chris Cassidy compartilha da mesma opinião e reforça que a viagem é só o ponto de partida para uma conscientização global sobre a Amazônia. “Percebi que é hora de fazer coisas positivas para as pessoas e pela humanidade, e esse é apenas um pequeno lugar onde pequenas ações podem gerar um grande impacto. (…) Não só falo das incríveis pessoas que conhecemos no caminho, mas sobre a saúde da Amazônia, que afeta todo a humanidade e o planeta. É preciso cuidar bem dela”.
O astronauta retorna aos Estados Unidos ainda este mês, onde deve passar os próximos dois anos em treinamento antes de retornar para a Estação Espacial. Ao ser questionado se prefere ver a Amazônia do chão ou do céu, sua resposta foi rápida. “Sem desagradar aos fãs da Amazônia, mas prefiro vê-la de cima. Primeiro porque estou no espaço, é o meu trabalho. Depois, porque não é uma visão só da floresta, mas de todo o mundo, vendo quão fina é a atmosfera acima da superfície da Terra, que mantém toda a vida”.
O grupo coletou fotos, vídeos e áudios que serão utilizados em campanhas educativas no Brasil e no exterior. Mais informações sobre a jornada do trio podem ser vistas no site transamazonica25.org.
no meu ponto de vista ele quis vê de cima a nossa querida floresta Amazônica porque fica mais gratificante
a visão de cima do que vc ver pessoalmente todo a destruição da nossa floresta amazônica.
Boa Noite, a realidade de nosso Astro SEAL é maravilhoso, os pesquisadores também, é de suma importância uma avaliação dessas, feitas por pessoas altamente qualificados, de experiências profissionais. Obrigada pir por sua atenção Astronauta Chris Cassidy.