Os olhos e os dedos em riste da comunidade internacional estão voltados para o Rio. E, com toda a razão. A menos de seis meses da abertura dos Jogos Olímpicos, em agosto, o mundo está preocupado não com a estrutura das arenas, mas da cidade como um todo: a Baía de Guanabara não passou pelo esperado processo de despoluição; a sujeira na Lagoa Rodrigo de Freitas continua; o país vem enfrentando um surto de zika; e pode ser até que a linha 4 do Metrô não chegue à Barra da Tijuca. Mas nem tudo será insustentável nas Olimpíadas cariocas:
– Queremos entregar Jogos excelentes, enxutos, sem excessos e com orçamento no ponto, equilibrado. Tudo isso com 100% de recursos privados e com responsabilidade social e ambiental, equilibrando os aspectos econômico, ambiental e social – enfatiza Tania Braga, gerente de sustentabilidade, acessibilidade e legado dos Jogos.
Economista com mestrado em Ciência Ambiental e doutorado em Economia Aplicada, Tania diz que é preciso distinguir os problemas de sustentabilidade permanentes e pré-existentes aos Jogos, do trabalho que vem sendo feito pela sustentabilidade nos Jogos. Em janeiro, num reconhecimento às atividades deste setor, o Rio-2016 recebeu o ISO 20.121, que indica sua boa gestão neste tema. O trabalho começou em 2012, quando foi elaborada uma lista completa de tudo o que deveria ser adquirido para os Jogos. A partir daí, ficou estabelecido que o comitê só compraria produtos de indústrias certificadas pela plataforma Sedex Global, de comércio ético, para evitar a compra de produtos de fábricas com condições sub-humanas de trabalho, por exemplo.
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[/g1_quote]Assim, o Rio-2016 comprou todos os móveis com madeira certificada FSC (garantia de que a madeira usada foi extraída e processada de maneira sustentável) e iniciou em 2013 uma campanha para que o pescado a ser consumido nos Jogos também fosse certificado. Em 2015, já num evento-teste, o peixe servido já tinha a certificação necessária. Outros exemplos citados foram os de uma empresa fornecedora que não tinha um controle adequado de sua escala de trabalho e teve de se adequar para fazer negócio com o comitê organizador. Já uma madeireira certificada não tinha conhecimento de toda a cadeia de produção e necessitou da ajuda do Sebrae para obter a documentação necessária.
Outro exemplo apontado por Tania foi o trabalho feito ano passado com costureiras de quatro favelas do Rio. Apoiadas pela área de Sustentabilidade do Comitê Organizador, elas tiveram aulas de introdução ao design e fizeram o controle de qualidade das 22 mil almofadas que produziram para a Vila dos Atletas.
Para motivar o torcedor a aderir à causa, o Rio-2016 lançou no último dia 22 a campanha “Desafio Abraça”, valendo ingressos para o evento. Os interessados terão de enviar ao comitê organizador vídeos de até 1 minuto sobre sustentabilidade, meio-ambiente, acessibilidade, e um júri vai escolher os seis melhores. Cada um irá ganhar duas entradas para seu esporte favorito. A campanha vai até 13 de março.
Mais antiga, uma campanha feita em parceria com a ONU, é o passaporte verde, sobre turismo sustentável. A ideia é dar dicas ao turista de como ser mais responsável, evitando gastar água em excesso no hotel ou produzir mais lixo do que o necessário. No fim de março, o comité fará workshops para preparar hotéis e restaurantes sobre como tratar melhor os visitantes. A repressão ao turismo sexual também faz parte da iniciativa.
Os números divulgados pelo setor de Sustentabilidade impressionam. São 30 milhões de itens adquiridos; 17 mil toneladas de resíduos; 23,5 milhões de litros de combustíveis; 29,5 GWs de energia; 6 mil toneladas de alimentos; projeção de emissão de 3,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono; 1,5 mil ônibus de transporte e as chegadas de avião de 28,5 mil atletas e comissões. Tania reafirma que é preciso distinguir os problemas específicos dos Jogos dos problemas do país.
– Uma agenda de assuntos é da sociedade e do país como um todo, e outra é a dos Jogos – sustenta. – Não resolveu o problema da baía? Não. Mas os atletas poderão competir? Sim.