Depois de duas décadas de abandono, o Hotel Nacional acaba de comemorar três meses de volta à vida. Chega a ser emocionante ver brilhar novamente o imenso lobby sem colunas com quase três mil metros quadrados, um dos pontos de destaque do moderno projeto de Oscar Niemeyer em 1972; a majestosa sereia em bronze de Alfredo Ceschiatti entre a piscina e o Oceano Atlântico; os jardins de Roberto Burle Marx com suas 46 plantas nativas brasileiras emoldurando a vista; o grande painel em dezenas de placas de concreto assinado por Carybé, que ocupa a parede curva ao fundo do lobby; a luminária suspensa com 12 metros de extensão do artista plástico Pedro Correa de Araújo logo à entrada.
A rede espanhola Meliá, administradora do Hotel Nacional nesta sua versão século XXI, não precisou ir longe para contratar parte de suas três centenas de funcionários. A torre cilíndrica de 34 andares compartilha o bairro carioca de São Conrado com a Rocinha. Dos primeiros 300 funcionários do Gran Meliá Nacional Rio de Janeiro (o nome oficial), 100 são moradores da comunidade vizinha. E outros virão, já que o hotel ainda não está 100% pronto.
Os apartamentos executivos estão em fase final de decoração. O restaurante gourmet, assinado por Felipe Bronze, no 32º andar, e o bar na cobertura ainda não têm data de inauguração marcada. No lobby, o bar Amaro e o restaurante Sereia, de cozinha mediterrânea, já estão abertos ao público em geral. O Spa by Clarins, da prestigiada marca francesa, por enquanto funciona apenas para hóspedes, mas também será aberto ao público.
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Veja o que já enviamosO Hotel Nacional é o primeiro no Brasil com a bandeira de luxo contemporâneo Gran Meliá. O grupo espanhol administra outros 17 estabelecimentos no país, em cidades como São Paulo, Brasília e Recife. O Nacional foi arrematado por R$ 85 milhões em um leilão, em 2009, por um grupo de empresários brasileiros. Na época, o hotel estava nas mãos da Superintendência de Seguros Privados (Susep), uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. Reforma e restauração (foram feitas poucas modificações no projeto original, tombado pelo município do Rio) custaram mais de R$ 400 milhões.
Era um dos estabelecimentos de luxo mais aguardados para os Jogos Olímpicos, mas as obras atrasaram e a abertura foi adiada para 15 de dezembro passado, dia do aniversário de Niemeyer, com apenas algumas dezenas dos 413 apartamentos disponíveis. No carnaval deste ano, já com metade dos quartos e suítes funcionando, o hotel teve 80% de ocupação.
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[/g1_quote]Os apartamentos continuam no desafiador formato original de fatia de pizza, com tamanho mínimo de 33 metros quadrados. Os elevadores ficam concentrados no centro do prédio. A suíte presidencial, no 29º andar, terá 300 metros quadrados e acesso direto pelo heliponto. O objetivo é voltar a atrair as celebridades que no passado colaboraram para a fama do hotel.
As imensas janelas envidraçadas do chão ao teto exigem uma equipe permanente de manutenção, que limpa diariamente uma coluna da torre, de alto a baixo. Sempre haverá um andaime em algum ponto do prédio. O #Colabora perguntou ao grupo Meliá de onde vem tanta água e qual o tipo de detergente usado, mas não teve resposta. Dependendo da posição, os quartos e suítes podem ter vista livre para a Pedra da Gávea, um panorama com a Praia de São Conrado e o Oceano Atlântico, a exuberante vegetação verde do “verso” do Morro dos Irmãos (colado ao hotel), ou a Rocinha, com o bônus do Cristo Redentor ao fundo nos andares mais altos. Entre os visitantes estrangeiros faz sucesso a vista noturna da Rocinha.
Muitos moradores do Rio têm boas lembranças do Nacional nos anos 1980 e 1990 por conta dos eventos constantes que aconteciam no teatro em frente ao hotel, como os festivais de cinema e de jazz. No subsolo, a boate Mykonos também teve seus 15 minutos de fama. Por enquanto, estas memórias ficarão no passado. Tanto o teatro quanto a boate não poderiam funcionar hoje por conta das atuais normas de segurança. A ideia é transformar a área anexa ao hotel em um centro de convenções, com capacidade para quatro mil pessoas, e construir uma torre de apartamentos. O projeto desagrada aos moradores da região. Por enquanto, ainda não avançou e a área está cercada e isolada. Com tapumes pintados de branco e decorados com reproduções de desenhos de Niemeyer, nem parece um canteiro de obras.
Escolas de hotelaria para qualificar a mão de obra local
Origem de mais de 30% da mão de obra atual do Nacional, a Escola de Hotelaria da Rocinha está recebendo apoio do hotel. O curso profissionalizante foi inaugurado em 2011 e inicialmente teve patrocínio da rede de hotelaria Windsor. Não é a única escola de hotelaria da cidade vinculada a um grande grupo hoteleiro. O Hilton Barra Rio de Janeiro, outro estabelecimento relativamente novo, mantém desde 2015 uma escola de hotelaria em parceria com a construtora Carvalho Hosken. Os cursos, gratuitos, têm duração de seis meses e são para jovens entre 18 e 24 anos, que tenham concluído o ensino médio ou estejam no terceiro ano. As aulas são no próprio hotel de 298 quartos. Já foram formados 76 alunos e vários foram contratados pelo Hilton Barra em áreas como cozinha, recepção e administração.
A turma deste primeiro semestre de 2017 da Escola Carvalho Hosken de Hotelaria em parceria com o Hilton reúne 33 alunos. O curso ainda tem o apoio da ONG RioSolidário, do Senac Rio e da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ).
O Hilton Barra, que fica na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, recebeu este mês o selo Leed Gold de boas práticas ambientais. Além do uso racional de água e energia, um dos fatores para a certificação foi justamente a integração com as comunidades vizinhas ao hotel.