Antônia Melo, a guerreira do Xingu  

Ambientalista é o símbolo da luta na região e seu próximo desafio é a mina de ouro de Belo Sun

Por Claudia Silva Jacobs | Economia VerdeODS 14 • Publicada em 8 de junho de 2017 - 17:00 • Atualizada em 31 de março de 2020 - 15:57

Antônia Melo, a líder da ONG Xingu Vivo (Foto Amdré Teixeira)

Antônia Melo, a líder da ONG Xingu Vivo (Foto Amdré Teixeira)

Ambientalista é o símbolo da luta na região e seu próximo desafio é a mina de ouro de Belo Sun

Por Claudia Silva Jacobs | Economia VerdeODS 14 • Publicada em 8 de junho de 2017 - 17:00 • Atualizada em 31 de março de 2020 - 15:57

Antônia Melo, a líder da ONG Xingu Vivo
Antônia Melo, a líder da ONG Xingu Vivo (Foto: André Teixeira)

(ALTAMIRA, PARÁ) Os anos não tiraram a energia e determinação de Antônia Melo. Aos 67 anos, a líder dos movimentos Xingu Vivo Para Sempre e do recém-criado Mulheres do Xingu é referência quando o assunto é a defesa do rio e de quem vive de suas águas. Símbolo da luta contra a Usina de Belo Monte, que ela só chama de “Belo Monstro”, Antônia é mãe de cinco filhos e viu sua vida virar do avesso com o empreendimento, assim como muita gente em Altamira, no Pará. Sua família acabou empurrada para um bairro mais distante e de pouca estrutura. Nada disse enfraqueceu esta mulher que, agora, se vê diante de um novo “monstro”: a mina de ouro de Belo Sun.

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Impacto menor não existe. Todas as pessoas são impactadas. As pessoas já perderam seu modo de vida e agora vem esse Monstro Sun para trazer miséria e doença. Olha o que aconteceu em Mariana?

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Antônia não para. É só ela pisar no escritório da Xingu Vivo, onde passa boa parte do seu tempo, que pessoas com necessidades começam a chegar. São ribeirinhos doentes, indígenas com problemas em reassentamentos, mulheres que não conseguem mais sustentar suas famílias, pescadores desempregados, além de jornalistas e pesquisadores, de todos os cantos do mundo, em busca de ajuda para entender o que acontece em uma das regiões com maior riqueza natural do planeta. Não há possibilidade de se passar em Altamira sem procurar Antônia, quando o assunto é o velho Xingu. Os anos de luta não diminuíram em nada o descontentamento e a indignação com os desmandos que assolam a região, onde a cearense vive desde os 3 anos de idade.

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“Impacto menor não existe. Todas as pessoas são impactadas. As pessoas já perderam seu modo de vida e agora vem esse Monstro Sun para trazer miséria e doença. Olha o que aconteceu em Mariana? Como o governo poderá dar uma Licença de Instalação para uma coisa dessa?”, questiona Antônia, com uma energia que impressiona.

Um dia comum na vida dessa mulher – uma professora do ensino fundamental, que é hoje é totalmente dedicada à luta ambiental – é assim: depois de resolver problemas na ONG, ela é capaz de subir em um mototáxi para visitar um amigo ribeirinho doente, voltar ao escritório, fazer almoço e dar entrevista. E não acaba aí. Calmamente ela se retira, toma um banho e se arruma para seguir a mais uma reunião, que iria durar até o final da noite. Nesses casos, se o trabalho acabar tarde, Antônia dorme na Xingu Vivo para cedo abrir as portas e recomeçar a receber a todos.

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É um crime eles deixarem essa montanha de rejeitos dentro do Xingu. O governo está abrindo as portas para a exploração. Não vai sobrar nada. Vão empurrar os ribeirinhos e os indígenas para fora da Volta Grande.

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O sofrimento diário

Muitas organizações trabalham para evitar que a região do Xingu sofra com os grandes empreendimentos e a ausência do poder público. Mas poucos estão na ponta presenciando os problemas e adversidades diariamente. Antônia é  uma dessas pessoas. A ONG se tornou o pouso certo de muita gente. Todos os dias, mesmo no meio de tantos problemas a resolver, a ambientalista prepara o almoço para todos na sede, entre tantas reuniões, encontros e entrevistas. Apesar de referência, inclusive para outras ONGs, a Xingu Vivo sobrevive com muita dificuldade, com orçamento enxuto, contando muito mais com a energia e determinação de todos, principalmente de um time de mulheres que está sempre dando suporte a Antônia.

“É um crime eles deixarem essa montanha de rejeitos dentro do Xingu (diz referindo-se a Belo Sun). O governo está abrindo as portas para a exploração. Não vai sobrar nada. Vão empurrar os ribeirinhos e os indígenas para fora da Volta Grande. É isso que estão preparando. Primeiro, a hidrelétrica. Agora, a mina. O que vem depois?”, pergunta Antônia, que diz ter perdido qualquer esperança no governo.

Apesar disso, ela continua lutando e viajando pelo Brasil para chamar a atenção de sua causa. Esteve no Rio de Janeiro, por exemplo, onde participou do desfile da Imperatriz Leopoldinense este ano, que teve como enredo o Xingu e os problemas com Belo Monte. A líder gostou da lembrança e viu no Carnaval carioca uma “boa oportunidade de mostrar ao mundo a destruição do Xingu”.

Mas ela sempre volta para sua Terra, apesar dos muitos riscos. O Brasil é um dos países onde mais ativistas ambientais são mortos. No Alto Xingu, em Anapu, morreu a  missionária Dorothy Stang, mas os casos frequentes de violência não assustam Antônia, que já foi ameaçada, mas nem gosta de falar disso. “Não tenho medo”, diz a guerreira do Xingu.

 

Claudia Silva Jacobs

Carioca, formada em Jornalismo pela PUC- RJ. Trabalhou no Jornal dos Sports, na Última Hora e n'O Globo. Mudou-se para a Europa onde estudou Relacões Políticas e Internacionais no Ceris (Bruxelas) e Gerenciamento de Novas Mídias no Birkbeck College (Londres). Foi produtora do Serviço Brasileiro da BBC, em Londres, onde participou de diversas coberturas e ganhou o prêmio Ayrton Senna de reportagem de rádio com a série Trabalho Infantil no Brasil. Foi diretora de comunicação da Riotur por seis anos e agora é freelancer e editora do site CarnavaleSamba.Rio. Está em fase de conclusão do portal cidadaoautista.rio. E-mail: claudiasilvajacobs@gmail.com

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