A tecnologia se tornou uma grande arma para a agricultura. Mapas, monitoramento da produção em todas as suas etapas via GPS, cruzamento de banco de dados, pulverização via drones, tudo que o mundo tecnológico pode oferecer de melhor para garantir maior produtividade e produtos de qualidade comprovada, sem desperdícios e com sustentabilidade. O universo da internet das coisas está se integrando ao mundo dos plantios e das colheitas. São sensores instalados em máquinas agrícolas que fornecem uma série de informações para orientar os produtores na correção de falhas como deficiências no processo de irrigação, acidez do solo ou mesmo a hora exata de colher os frutos. O mundo das máquinas a serviço do desenvolvimento agrícola.
Todas essas são vantagens da agricultura de precisão, uma forma de gerenciamento que está garantindo o aumento da produção, uma cultura mais sustentável, acompanhando as tendências dos mercados mais exigentes que a cada dia procuram consumir alimentos que sejam produzidos de forma mais harmônica, com uso controlado de insumos, sem desperdícios. Mas, afinal, o que é esse sistema de manejo, que avança no campo brasileiro? A agricultura de precisão faz o gerenciamento da produção com base em dados. Com um drone, por exemplo, é possível capturar imagens de alta precisão, cobrindo até centenas de hectares em um único vôo. Com baixo custo, os vôos não tripulados podem captar imagens em alta resolução, mesmo se houver cobertura de nuvens. Outro instrumento eficaz da agricultura de precisão é o uso de softwares, que podem auxiliar na análise de imagens produzidas por drones ou satélites e ajudar no georreferenciamento da produção.
Apesar dos primeiros conceitos da agricultura de precisão terem aparecido em 1929, nos Estados Unidos, sua utilização se popularizou, para valer, no início dos anos 1980, quando pesquisadores começaram a aplicar estas técnicas em cultivos. Já no final da década, a metodologia foi usada pela primeira vez para para obter os mapas de recomendação para uso de fertilizantes e correção de pH.
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Veja o que já enviamosGasto? Não, investimento
Hoje, por exemplo, é possível fazer uma análise do solo e da produção com sensores espalhados pela plantação, definir com mais precisão como deve ser conduzido o plantio, acompanhar passo a passo a produção, colheita e armazenamento. Para Ricardo Inamasu, líder da Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa Instrumentação, no interior de São Paulo, os resultados justificam os investimentos maiores em tecnologia, mecanização e especialização dos profissionais.
“Tudo que for gasto deve ser enxergado como investimento. Quando você usa um sistema de GPS, por exemplo, você viabiliza a análise em tempo real da evolução do plantio, através do grande número de dados que começam a surgir. Uma mesma área pode ter sistemas diferentes, graças a morfologia do solo. Com uma análise mais precisa você pode definir melhor sua plantação e dar saltos impressionantes de produtividade”, diz Inamasu.
Mecanização dos sistemas de produção, por si só, não garante qualidade e eficiência. A necessidade de aperfeiçoar as técnicas de manejo do solo, de análise dos nutrientes, a preservação das reservas de água, tudo isso se tornou fundamental para o desenvolvimento de uma agricultura mais produtiva e sustentável, ao mesmo tempo. A Rede de Agricultura de Precisão da Embrapa, formada por agricultores, pesquisadores e desenvolvedores de tecnologia, trabalha em conjunto, justamente na identificação e aperfeiçoamento de técnicas que possam auxiliar o desenvolvimento da agricultura e aumento da qualidade dos produtos, de acordo com os mercados mais exigentes.
Precisa e personalizada
Os especialistas, no entanto, são unânimes em afirmar: não existe uma “receita” para o uso da agricultura de precisão. É obrigatório levar em consideração as peculiaridades de cada produtor, fatores como o valor investido em tecnologia, as necessidades de cada região, tamanho da propriedade, potencial de produção.
Um exemplo bem-sucedido da aplicação da agricultura de precisão é a Cooperativa Agrícola de Nova Aliança, no município pernambucano de Petrolina, às margens do Rio São Francisco. Lá, cinco famílias produzem, em 20 propriedades, uva de qualidade para o mercado nacional e internacional, mesmo os mais exigentes como a União Européia.
“A qualidade e a produtividade vêm aumentando muito, com a agricultura de precisão. Os estudos que realizamos na região, através da análise do solo, fontes de água, mostraram que deveríamos optar por diferentes variedades de uvas, e assim fizemos. Fazemos todos os monitoramentos para o controle de pragas, análise do solo, acompanhamento e análise de plantas. Todos os processos são feitos individualmente. Não há como padronizar os serviços. Cada caso é um caso”, explica Newton Matsumuoto, proprietário da Fazenda Nova e um dos administradores da Cooperativa Agrícola Nova Aliança.
A Coana agrega, com seus associados, uma área de aproximadamente 300 hectares, com uma produção anual de uva de 8 mil toneladas de diferentes espécies, em média. Os produtores acumulam certificações nacionais e internacionais, como a PIF (Produção Integrada de Frutas), ou a Global G.A.P, uma organização que estabelece normas para certificação de produtos agrícolas e boas práticas em mais de 80 países. Esses tipos de certificações são obtidas graças a comprovação dos sistemas de manejo, transporte e armazenamentos de alimentos, conferidos através das ferramentas tecnológicas. A agricultura de precisão garante aos produtores meios de melhorar a qualidade de seus produtos, com técnicas que podem ser acompanhadas em contínuo monitoramento, desde a preparação do solo até o manejo e transporte da mercadoria.
“Nos últimos anos, estamos crescendo cerca de 5% ao ano em área plantada. A nossa produção deu um salto entre 2016 e 2017. Com a troca de variedades de uva, aumentamos a produção em cerca de 60%, com um valor bruto em torno de 70 milhões. Somos otimistas porque ainda podemos crescer mais e produzir melhor”, conclui Matsumoto.
Menor impacto ambiental
Os ótimos resultados do uso da agricultura de precisão estão vencendo a resistência que ainda existe no campo. A desconfiança, explica o agrônomo Fabrício Pinheiro Toz, coordenador da área de agricultura de precisão da Fundação ABC, vem de resultados insatisfatórios obtidos no início dos anos 2000, quando se intensificou o uso de tecnologia e novos maquinários no país.
“O problema naquela época foi querer usar a agricultura de precisão como algo comum entre os produtores. Cada um tem suas necessidades. Não dá para sair comprando máquinas, usando insumos, sem saber a necessidade de cada solo, de cada produção. O resultado acabou não sendo o esperado, o que causou resistência entre muitos produtores. Nos últimos anos, estamos mostrando que o trabalho individualizado só gera lucro e agrega valor”, completa Toz, que presta consultoria para cerca de 4 mil agricultores no Paraná
Para o coordenador, a “precisão é uma realidade, e só há este caminho para quem quiser melhorar a eficiência de sua produção”.
Além de aumentar a produtividade, a agricultura de precisão traz um outro benefício importantíssimo: minimiza o impacto das culturas no meio ambiente. Isso acontece graças a uma maior eficiência no uso da água, por exemplo, e a um tráfego mais controlado de máquinas pesadas, o que evita a compactação do solo. A aplicação da quantidade certa de insumos, no lugar certo e no momento certo, beneficia culturas, solos e águas subterrâneas e, portanto, torna a atividade mais sustentável.
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