O evento mais aguardado do ano

Não é o carnaval, nem a Páscoa, e muito menos a chegada do Papai Noel

Por Leo Aversa | ODS 11 • Publicada em 18 de fevereiro de 2016 - 10:01 • Atualizada em 18 de fevereiro de 2016 - 11:49

A clientela, por sinal, é parte fundamental do evento, afinal é a sua fidelidade ao lugar que permite essa situação aparentemente inexplicável
A clientela, por sinal, é parte fundamental do evento, afinal é a sua fidelidade ao lugar que permite essa situação aparentemente inexplicável
A clientela, por sinal, é parte fundamental do evento, afinal é a sua fidelidade ao lugar que permite essa situação aparentemente inexplicável

Há alguns dias ocorreu um dos eventos mais badalados do calendário carioca, aquele que deixa a população da cidade em expectativa o ano todo, aguardando sua chegada. É um acontecimento que se repete há muitos anos, sem uma data exata, mas, como diz Caetano, infalível como Bruce Lee.

Não, não é o carnaval.

Na ocasião, que já é quase um feriado municipal, moradores da Zona sul, especialmente os do Leblon, se emocionam ao ver a chegada carro do Procon ou da Vigilância Sanitária. O que vai acontecer desta vez? Haverá Interdição? Fechamento? Intervenção da ONU? Obama finalmente vai mandar os marines?

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Chegou o dia da fiscalização na Pizzaria Guanabara.

Os inspetores, como sempre, são recebidos por um comitê muito especial: além de gerentes e garçons, roedores variados e insetos de toda natureza. É o corpo de baile da casa. A cozinha da Guanabara faria um bonito como Museu de História Natural em qualquer lugar do mundo, tendo, inclusive, ao longo do tempo, desenvolvido espécies autóctones que não existem em nenhum outro canto da Terra. Há ali ratazanas que só se alimentam de restos de muçarela podre fossilizada e baratas que aprenderam a evitar lixeiras, os únicos lugares vazios na pizzaria. Um prodígio da evolução natural.

No início o cozinheiro ainda apresentava certo constrangimento pelo pântano gastrônomico que criara, mas a impunidade e o tempo o fez ganhar até certo orgulho pela imundície reinante. Quando os fiscais chegam ele ordena a bicharada com esmero, para que seja passada em revista pelas autoridades. Estes já desenvolveram até afeição por alguns deles, de tanto visitá-los. Jerry é o preferido, um pândego, adora brincar de esconde-esconde com os inspetores. Mickey é o xerife da turma, todos sabem que o primeiro pedaço de cada pizza é dele. Já Topo Gigio é um dos mais antigos, sendo tratado como mascote pelos clientes.

A clientela, por sinal, é parte fundamental do evento, afinal é a sua fidelidade ao lugar que permite essa situação aparentemente inexplicável. Por algum tipo de dislexia misteriosa, ela não consegue estabelecer nenhuma relação entre a sujeira do restaurante e a comida que lhe é servida. Os clientes olham para as baratas, olham para os ratos, olham para os seus pratos e não chegam a nenhuma conclusão. Psiquiatras já estudam a causa de tal comportamento, suspeitando que o excesso de sujeira possa afetar alguma região do cérebro. Já há quem sugira que se trata de uma doença grave, a síndrome de Ataulfo-Aristides.

Mas esses detalhes menores não ofuscam a grande festa que acontece na ocasião. Durante a cerimônia, os fregueses organizam um bolão para saber quem acerta os dias de interdição ou o valor da multa. O vencedor paga uma rodada de chope e a confraternização vara a madrugada.

Como são muito responsáveis Jerry, Mickey e Topo Gigio não participam da farra.

Afinal, só eles sabem o trabalho que dá manter a fama de um restaurante.

Leo Aversa

Leo Aversa fotografa profissionalmente desde 1988, tendo ganho alguns prêmios e perdido vários outros. É formado em jornalismo pela ECO/UFRJ mas não faz ideia de onde guardou o diploma. Sua especialidade em fotografia é o retrato, onde pode exercer seu particular talento como domador de leões e encantador de serpentes, mas também gosta de fotografar viagens, especialmente lugares exóticos e perigosos como Somália, Coreia do Norte e Beto Carrero World. É tricolor, hipocondríaco e pai do Martín.

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