Pantanal bate recorde de focos de incêndio e animais estão ameaçados

Queimadas nos seis primeiros meses de 2024 já são 8% maiores em comparação com 2020, considerado o pior ano para o bioma

Por Oscar Valporto | ODS 13ODS 15 • Publicada em 24 de junho de 2024 - 10:10 • Atualizada em 25 de julho de 2024 - 07:33

Bombeiros combatem incêndio no Pantanal: bioma mais seco e recorde de queimadas (Foto: Bruno Rezende / SecomMS)

O Pantanal brasileiro registrou um número recorde de incêndios florestais para o mês de junho, antes do início da estação seca, segundo dados oficiais divulgados na sexta-feira, Desde 1º de junho, 1.729 focos de incêndio foram identificados por satélite nesta zona, considerada a maior área úmida do planeta, segundo números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), quase quatro vezes superior ao recorde anterior para o mês de junho, de 435 focos em 2005. A situação se agravou no fim de semana quando em 48hora (em 22 a 23 de junho) o Pantanal registrou 256 focos de calor, segundo o Inpe.

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O número de focos de incêndios no Pantanal neste ano já supera o registrado no mesmo período de 2020, ano recorde de queimadas em todo o bioma. As queimadas nos seis primeiros meses de 2024 já são 8% maiores em comparação com 2020. No ano de 2020, até então o pior ano para o Pantanal, de acordo com especialistas, cerca de 26% do bioma foi consumido pelo fogo durante vários meses. Em 2020, pesquisadores identificaram que os incêndios no bioma afetaram pelo menos 65 milhões de animais vertebrados nativos e 4 bilhões de invertebrados. O levantamento foi feito com base nas densidades de espécies conhecidas.

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Do dia 1º a 19 de junho deste ano, os focos de incêndio cresceram 2951% no Pantanal, se comparados com o mesmo período de 2023. Entre os biomas brasileiros, o Pantanal é o que teve maior crescimento percentual de queimadas em junho deste ano. A área queimada esse ano no Pantanal já chegou a 576,1 mil hectares, sendo 430,1 mil hectares em Mato Grosso do Sul e 145,8 mil, em Mato Grosso, conforme dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Já são registradas em 2024 cenas dramáticas como as de 2020, com animais carbonizados pelo fogo. O biólogo Gustavo Figueirôa, do SOS Pantanal, afirma que há muita preocupação de ambientalistas e cientistas com o aumento das chamas e o início de um período ainda mais seco no bioma. “Vemos estes incêndios se alastrando de forma muito rápida, ganhando uma força grande e a tendência é só piorar daqui para frente. Acho que esse é o sinal para que os órgãos públicos ajam em conjunto, cooperem para atuar quanto antes, não esperar a situação sair completamente fora de controle para tentarem atacar só na remediação”, disse Figueirôa, em entrevista no fim de semana.

Avião ajuda bombeiras no combate ao fogo no Pantanal: animais ameaçados pelas queimadas (Foto: Bruno Rezende / SecomMS)
Avião ajuda bombeiras no combate ao fogo no Pantanal: animais ameaçados pelas queimadas (Foto: Bruno Rezende / SecomMS)

O poder de destruição das chamas aumenta com a falta de chuvas que atinge a região, e a última grande cheia no Pantanal foi há seis anos. A redução do volume de chuvas e a multiplicação das queimadas têm tornado o Pantanal um ambiente hostil para muitos animais da região. Pesquisadores já detectaram a redução das populações de algumas espécies que correm até risco de extinção.

Os incêndios de 2020 provocaram a morte de aproximadamente 17 milhões de vertebrados no Pantanal. Estudos recentes mapearam as consequências das queimadas sem controle sobre a oferta de alimentos e a reprodução dos animais. Entre as espécies mais vulneráveis estão o cervo do Pantanal, a capivara, a ariranha e a onça pintada.

Gustavo Figueroa, biólogo do SOS Pantanal, explicou que as queimadas fazem parte da rotina da região; mas a preocupação, neste momento, é maior, porque mesmo a capacidade de resiliência da vegetação ao fogo não é mais a mesma. Os répteis, como jacarés, cobras e calangos, e os anfíbios, como sapos e rãs, são os primeiros animais a sofrerem com o avanço descontrolado do fogo porque não têm a capacidade de fugir. “Eles têm maior dificuldade de se locomover e acabam queimados primeiro. É muito comum quando a gente chega numa área queimada, a gente encontra muita cobra, jacaré, alguns sapinhos quando sobra, porque às vezes eles carbonizam de vez e você não consegue nem ver”, disse Figuerôa.

Mas eles não são os únicos animais afetados pelas queimadas no Pantanal. “Também tem vários mamíferos que não aguentam, macaquinhos que não conseguem fugir das árvores, tamanduá- bandeira, que são animais um pouco mais lentos também”, acrescentou o biólogo do SOS Pantanal, frisando que animais que conseguem fugir do fogo ainda têm dificuldade de encontrar alimento depois.

Estudo do Mapbiomas, com divulgação prevista para eesta quarta-feira (26/06), mostra como a área coberta de água no Pantanal vem diminuindo desde 1985. Em 2023, a área alagada ficou 61% abaixo da média histórica. De acordo com o estudo, a maior planície alagada do mundo está se transformando em um lugar cada vez mais seco e inflamável. “A gente tem, desde 2018, aumento desse período de seca e, também, o aumento das grandes áreas queimadas. Em 2024, o bioma Pantanal não registrou a cheia que normalmente acontece no bioma”, adiantou Eduardo Reis Rosa, coordenador de mapeamento bioma Pantanal do Mapbiomas, à TV Globo.

De acordo com o estudo do Mapbiomas, quase 60% do Pantanal já foi atingido pelo fogo nos últimos 38 anos. “Na década de 1960, 1970, o Pantanal já foi muito seco. Mas, 64 anos atrás, a gente tinha outra realidade climática e outra realidade de cobertura e uso do solo. Quando você tem uma grande biomassa disponível para queima, esses incêndios são incontroláveis , que é o que a gente está vendo hoje no bioma”, disse o pesquisador.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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