Parada LGBT+ resgata verde e amarelo para defender direitos e mobilização política

Milhares lotam a Avenida Paulista no evento que teve como tema o voto consciente para barrar retrocessos e negligência no Legislativo

Por Guilherme Silva | ODS 10 • Publicada em 3 de junho de 2024 - 10:12 • Atualizada em 17 de junho de 2024 - 10:05

Multidão acompanha 28ª Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo, seguindo trio elétrico com a mensagem “Basta de Negligência e Retrocesso”: defesa dos direitos (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)

A 28ª Parada LGBT+ atraiu milhares de participantes à Avenida Paulista, em um evento neste domingo (01/06) que combinou celebração e reivindicação política. Com o tema “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo: Vote consciente por direitos da população LGBT+”, a parada destacou a necessidade de atenção às legislações que impactam a comunidade LGBTQIA+.

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Com kits compostos por leques coloridos e itens em verde e amarelo, os participantes se manifestaram de maneira vibrante. Grupos e entidades de defesa dos direitos humanos sublinharam a urgência de combater a violência e a discriminação contra pessoas LGBTQIA+.

Discursos enfatizaram a importância da união e da mobilização popular para garantir a manutenção e a ampliação dos direitos LGBTQIA+. A deputada federal Érika Hilton (PSOL/SP) fez um discurso enérgico em um trio “As LGBTs não arredarão o pé da luta pelos seus direitos”, finalizando com um grito de “O Brasil é nosso!” Entre os pontos levantados estavam a aprovação de leis que protejam pessoas LGBTQIA+ contra crimes de ódio e a defesa do casamento igualitário.

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Os organizadores criticaram os recentes retrocessos legislativos, vistos como ameaças às conquistas históricas da comunidade. O tema visou promover o debate sobre estratégias de engajamento político, a importância do voto consciente e a formação de alianças com candidaturas comprometidas com a diversidade.

Pais e filhos na 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo: defesa dos direitos da comunidade (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)
Pais e filhos na 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo: defesa dos direitos da comunidade (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil)

Levantamento da Folha de São Paulo indica que, em 2023, foram apresentados 293 projetos de lei anti-trans no Congresso Nacional, uma média de uma lei a cada 15 dias. Essa preocupação foi ecoada por participantes como Gustavo Farias, estudante de jornalismo de 22 anos: “É sempre bom a gente mostrar nossa resistência, lutar pelos nossos direitos e pela nossa vivência, não só em todas as paradas, mas também todos os dias.” Ele reconheceu avanços recentes sob o governo progressista de Lula, mas, para ele, ainda tem muito o que mudar: “Eu acho que já avançou muita coisa, mas a gente continua sendo o país que mais mata pessoas trans” afirmou.

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, discursou reafirmando que a Parada LGBT+ se mobiliza em nome do “amor verdadeiro”, contra o ódio e a violência. O ministro destacou que apoiar a dignidade da comunidade LGBTQIA+ é, na verdade, defender a verdadeira essência da família. “Nós estamos aqui, ao contrário do que dizem, para proteger as famílias. Eu não quero que nenhuma mãe tenha que chorar a morte de um filho. Eu não quero que nenhum pai tenha que chorar a morte do seu filho. Quero que todas as mães e os pais possam saber que seus filhos, independente de quem eles sejam, de como eles quiserem amar, que eles vão voltar para casa vivos. Vão ter uma vida digna, vão ser respeitados,” declarou o ministro.

Além da mensagem política, a Parada LGBT+ também celebrou a diversidade e a cultura LGBTQIA+ com mais de 16 trios elétricos, apresentações musicais, drag queens e outros artistas. Figuras públicas como Gloria Groove, Pabllo Vittar, Banda Uó e Gaby Amarantos marcaram presença com shows. A segurança foi reforçada com mais de 2 mil policiais militares e agentes de trânsito, além de esquemas de atendimento médico. Segundo o grupo de pesquisa “Monitor do debate político” da USP, o pico de público foi de 73,6 mil pessoas na Avenida Paulista.

A Parada LGBT+ também buscou resgatar as cores verde e amarelo, tradicionalmente associadas a manifestações conservadoras. Os participantes se vestiram e customizaram camisas, bandeiras e outros itens para caber ao evento e refletindo um esforço para retomar esses símbolos nacionais. “Por anos, sentimos vergonha dessa camisa, dessas cores. É gratificante”, disse Ana Clara, arquiteta de 32 anos.

Resgate do verde e amarelo na Parada LGBT+: defesa do voto consciente e dos direitos da comunidade (Foto: Guilherme Silva)
Resgate do verde e amarelo na Parada LGBT+: defesa do voto consciente e dos direitos da comunidade (Foto: Guilherme Silva)

Diversos pontos de venda no local ofereciam camisetas a cerca de R$ 50, além de bandeiras e itens que combinavam o verde e amarelo brasileiro com os ícones do movimento LGBT+. “Foi uma ideia muito boa do movimento. A Madonna já deu uma animada para que a gente voltasse a usar essas cores, hoje foi só a confirmação de que o Brasil é nosso de novo”, afirmou Ana Clara.

Em ano de eleições municipais, a 28ª Parada LGBT+ de São Paulo reafirmou o compromisso da comunidade com a luta por direitos e igualdade em um cenário político desafiador. As demandas apresentadas reforçaram a necessidade de vigilância constante e ação para garantir a proteção e a ampliação dos direitos LGBT+ no Brasil.

Pré-candidatos à prefeitura de São Paulo, incluindo Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), participaram do evento, assim como o deputado Eduardo Suplicy (PT). A ausência do prefeito Ricardo Nunes (MDB) devido a um compromisso médico foi criticada por alguns pré-candidatos. Nunes foi representado pela coordenadora de diversidade da Prefeitura, Leo Áquila, e a secretaria de Direitos Humanos, Soninha Francine.

Guilherme Silva

Jornalista formado pela Universidade Nove de Julho. Atualmente integra o time de repórteres correspondentes da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e foi estagiário no Canal Reload. Nascido e criado nas periferias da Zona Sul de São Paulo, é apaixonado por comunicação, histórias e explorar a cidade de bicicleta.

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